Mentalidade
inflacionária
Pedro J. Bondaczuk
O índice de inflação de setembro, de 12,85%, embora
tenha significado um retrocesso, em relação a julho, no combate a esse monstro
que devora as economias populares, até que não foi tão desastroso, se forem levadas
em conta as circunstâncias e se for considerada a conjuntura mundial, nada
favorável, que se desenhou após a invasão iraquiana do Kuwait.
Taxas inflacionárias altas – para os padrões do
Primeiro Mundo – foram, igualmente, registradas nos Estados Unidos, na
Grã-Bretanha e em boa parte da Europa Ocidental, com perspectivas ainda mais
sombrias para os meses subseqüentes.
Entre nós, todavia, essa marca poderia ser menor,
mais comportada, caso ainda não estivesse presente na sociedade brasileira um
certo tipo de mentalidade, difícil de ser extirpado. Bastou que o governo
liberasse os tabelamentos e controles de preços, para que se verificasse, em
alguns setores fortemente cartelizados, verdadeira orgia altista.
Quem age dessa forma o faz como se gozasse de
absoluta auto-suficiência em tudo. Se esquece que, ao aumentar o seu produto,
cobrando mais do que ele vale, forçará os que o provêm de tudo o mais que
precisa a procederem da mesma forma.
Se fizer um cuidadoso cálculo, perceberá que, nessa
corrida para cima, estará perdendo, ao invés de lucrar. O dinheiro a mais que
ganhar não passará de vento. Ou seja, de inflação. Não se deve generalizar. Há
situações em que os preços ficaram defasados e precisaram ser recompostos.
Afinal, ninguém de bom-senso arrisca um capital que não lhe traga retorno. O
lucro, desde que lícito, é a mola-mestra da atividade econômica.
Nos países que estão em estágio econômico e social
mais avançado, os empresários já entenderam que o consumidor é o elemento
fundamental para a sua sobrevivência. Ali, a concorrência é feroz e quem não
apostar suas fichas no binômio “qualidade e preço”, estará com os dias
contados.
A idéia predominante é a de lucrar na quantidade
vendida e na freqüência das vendas, nunca num único negócio ou unitariamente. É
o que se define como “produção em escala”. Entre nós, todavia, essa expressão,
salvo raras e honrosas exceções, ainda soa como um palavrão.
Esta mentalidade ainda trará muitos sofrimentos e
decepções, enquanto não for mudada e, um dia, fatalmente, terá que ser. O mundo
atual não comporta mais ineficiências e nem ganâncias desmedidas. O sistema de
mercado, com sua lei natural de oferta e de procura, impõe-se por si só, pela
sua inflexível lógica. Veja-se o que ocorre em todo o Leste Europeu. Atuar contra
ele é ficar na contramão da história e ser atropelado pelos que buscam queimar
etapas para chegar ao desenvolvimento.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 2 de outubro de 1990)
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