Tuesday, August 14, 2012

Signo do sucesso

Pedro J. Bondaczuk

As mulheres desta geração estão com tudo e não estão prosa. Cada vez destacam-se mais em todos os campos de atividade, a maioria restrita, há não faz muito, ao mundo masculino. Conquistaram o poder em muitos países (entre os quais o Brasil) e mostram serenidade e competência no seu exercício. Brilham nas ciências, nas artes, na política, na economia etc.etc.etc. e, como não poderia deixar de ser, também na literatura. Mas, quando se trata de poesia... sobram! Conquistam prêmios e mais prêmios e enriquecem, cada vez mais, o mais antigo dos gêneros literários, precursor não apenas de todos os outros, como até da escrita e do jornalismo. Esbanjam inspiração, emoção e sensibilidade

Fico imaginando, cá com os meus botões, o quanto o mundo seria mais evoluído, humano e bonito se as mulheres não fossem discriminadas, e tolhidas em suas potencialidades, por tanto tempo, desde as cavernas primitivas até tempos ainda recentes. Aliás, em muitas partes – não por acaso, as mais atrasadas do Planeta – ainda o são, até, diga-se de passagem, em sociedades tidas e havidas como modelares, modernas e avançadas. E são não apenas discriminadas – o que por si só é de uma burrice abissal, já que competência não é questão de sexo –, mas covardemente agredidas e costumeiramente desrespeitadas. Estão aí estatísticas dos Estados Unidos e da Europa a comprovar que a sonhada igualdade de direitos, oportunidades e deveres ainda não chegou para os dois gêneros. As coisas já evoluíram muito neste sentido, não há como negar. Foram, certamente, muito piores até (digamos) meio século. Mas há, ainda, longo, longuíssimo caminho a ser percorrido.

Alguns leitores podem estar estranhando essa minha explosão de entusiasmo pelas mulheres. Não me conhecem. Não sabem quanto as admiro, respeito, valorizo e venero. Não saberia viver sem elas. Aliás, nem poderia. Foi uma mulher quem me pôs no mundo, criou-me, educou-me e ensinou-me os princípios básicos de convivência, sem os quais eu não passaria de fera bronca qualquer. Mas todo este entusiasmo de hoje por elas tem motivo especial, específico, literário. Trata-se da atribuição do Prêmio Pulitzer 2012 na categoria Poesia. E quem ganhou? Isso mesmo, foi uma mulher. E que mulher! Foi Tracy K. Smith. No Brasil esse nome pode até passar batido, mas nos Estados Unidos... Ali, a poetisa já conquistou espaço cativo e vou explicar por que.

Antes informo que o livro com o qual ganhou a cobiçada premiação aborda tema dos mais inusitados, aparentemente impróprios à poesia. Trata-se de “Life on Mars” (“Vida em Marte”). Pouquíssimos poetas se aventurariam a explorar o assunto. E precisariam de muito talento para extrair boa poesia dele. Mas essa poetisa logrou essa façanha. E foi além: seu livro foi considerado pelo jornal “The New York Times” como um dos 100 melhores de 2011 em todo o mundo. É pouco? Ora, ora, ora,

Tracy K. Smith completa 40 anos de idade neste ano, ela que nasceu em 1972. Como se vê, é bastante jovem e “tem muita lenha para queimar”. Só que veio ao mundo sob o signo da vitória. Teoricamente, tudo conspirava contra ela. Além de mulher, é negra, o que tornaria seu caminho mais difícil. Tornaria, não fosse dotada de singular e enorme talento, que se reflete na irresistível força de seus poemas e que culminaram com a conquista de um dos mais cobiçados prêmios literários do mundo. E chegou ao estrelato com apenas nove anos de carreira e com seu terceiro livro. Sua temática centra-se, basicamente, em três realidades humanas: perdas, paixão e política. Mas a obra com que conquistou o Pulitzer não trata de nada disso. Trata de algo cuja (remota) possibilidade sequer foi comprovada (ou desmentida) e permanece no nebuloso terreno das hipóteses, se não da mera fantasia: a existência ou não de vida em Marte.

Reitero que Tracy nasceu sob o signo dos vencedores. Prova? Logo com seu livro de estréia, “The body’s question”, lançado em 2003, obteve o prêmio Cave Canem pelo melhor primeiro livro de um poeta afro-americano. “Sorte de principiante”, dirão os céticos. Claro que não foi isso. E Tracy provou que não foi com seu livro seguinte, “Duende”, de 2007, que também foi premiado. Desta vez conquistou o prêmio Laughlin Award da Academy of American Poets. A esta altura é provável que os céticos até já estivessem admitindo: “Essa menina vai longe” E como vai! Pois não é que obteve o terceiro prêmio consecutivo com o terceiro livro que publicou! E dessa vez, convenhamos, não foi alguma premiação obscura e pouco concorrida, como9 tantas que há por aí a engordar muitos currículos. Caramba! Foi um Pulitzer!!! E o livro é recentíssimo, publicado em maio de 2011 e já teve trajetória tão vitoriosa.

Bem, estou tratando não apenas de uma poetisa talentosíssima – filha de um dos engenheiros espaciais responsáveis pelo desenvolvimento do Telescópio Orbital Hubble – o que já não seria pouca coisa, mas de uma mulher inteligente, muito inteligente, com inteligência bastante superior à média. Afinal, formou-se em uma das mais seletas (e seletivas) universidades mundiais, Harvard, com passagem pela não menos renomada Columbia. Mas não foi só. Ganhou bolsa de estudos em outra gigante no ensino superior, Stanford. Formada, ocupou várias cátedras universitárias, culminando com a que ocupa atualmente, desde 2005: a de professora adjunta de Escrita Criativa em Princeton, função, aliás, para lá de adequada para quem esbanja tamanha criatividade. Agora deu para entender a razão de tamanha explosão de entusiasmo da minha parte?

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