Pedro J. Bondaczuk
A capacidade de imaginação é uma das faculdades mais notáveis da nossa espécie e não tem limites. Podemos imaginar de tudo, por mais absurdo (e quase sempre é) que o que for imaginado possa ser. Presta-se, pois, a caráter, para as artes, propiciando a criação de obras originais e não raro únicas, notadamente na literatura e, particularmente, na de ficção que, até por definição, é a especulação em torno do que não existe (e que pode ou não existir. Geralmente não).
Todavia, no campo das ciências a imaginação tem que ser posta de lado. Pode, quando muito, inspirar e sugerir pesquisas. Mas sua utilização pára por aí. Com ela não conseguiremos descobrir e, sobretudo, comprovar as leis que regem o universo, a matéria e a energia, com toda sua complexidade e seus mistérios. E muito menos poderemos repetir as experiências e obter sempre o mesmo resultado, o que leva – quando essa possibilidade acontece – o pesquisador a considerar um fato como “científico”. A ciência exige provas para as hipóteses levantadas que as comprovem ou desmintam. Não é, pois, campo para a imaginação. Seu terreno é outro.
Há tempos (e sabe-se lá desde quando) o homem, ao olhar para o céu, em noites claras e estreladas, e ao vislumbrar os milhões de pontinhos luminosos no espaço, que hoje sabe serem sóis de tamanhos variáveis, alguns dos quais milhares de vezes maiores que o nosso, especula se, alhures, existe algum planeta parecido com a Terra, com condições propícias para abrigar vida. Com base na Teoria das Probabilidades concluímos que podem haver ao redor de 50 milhões de mundos com essas características.
Os mais imaginativos (ou afoitos) supõem que esses hipotéticos seres (que nem sabem se existem), têm razoável nível de entendimento, ou seja, que possam ser classificados como o que se convencionou chamar de “inteligentes”. Os mais imaginativos ainda concluem, (sem base em coisíssima alguma, frise-se) que esses espécimes (de cuja existência não há nem a mais remota evidência), estão num estágio de desenvolvimento científico e tecnológico bem à frente do homem. Outros, ainda, vão bem mais longe ainda e imaginam que tais extraterrestres (que, reitero pela milésima vez, ninguém tem a mais remota indicação de que existam), saem pelo universo afora, em expedições exploratórias através das galáxias, em busca de outros mundos povoados. E que várias dessas expedições, amiúde, fazem escalas periódicas na Terra. Como a imaginação pode ser (e é) fértil!!!
Tudo isso é válido no terreno da ficção. Não deixa de ser instigante dar asas à fantasia e pensar dessa forma. Isso propicia, aos mais hábeis, com talento para o texto, a redação de histórias e mais histórias, originalíssimas. e em alguns casos até convincentes, caso o leitor não atente para a mais elementar e comezinha das lógicas. Mas... no plano da realidade... Não passam do que sempre foram, são e serão: frutos exclusivos de delirante imaginação e não mais do que isso.
As distâncias universais são tão grandes, os cataclismos cósmicos tão contínuos e ininterruptos ( como as explosões de sóis redundando em super novas, buracos negros imensos e irresistíveis e outros tantos fenômenos), são tantos e tão intensos, enfatizo, que mesmo admitindo a existência de seres inteligentes alhures, e ainda mais, com tecnologia avançadíssima, e mais ainda, com disposição e coragem para deixarem o abrigo e a segurança de seus supostos planetas para aventurarem-se, espaço afora, arrostando todos os riscos possíveis e imagináveis (e até inimagináveis) em busca de outros mundos, ouso afirmar: tudo isso é rigorosa e absoluta impossibilidade.
Suponhamos, porém, apenas como exercício dialético, que existam outros planetas com condições se não iguais, pelo menos semelhantes às da Terra. Avancemos em nossa imaginação e suponhamos que vários deles sejam habitados. Sejamos ainda mais ousados e imaginemos que esses habitantes sejam inteligentes. E mais, que estejam em estado muitíssimo mais avançado do que nós, em termos de ciência e de tecnologia. E que este avanço seja de tal sorte que lhes possibilite a construção de naves interestelares que viajem à velocidade próxima à da luz, sem que se desintegrem e sem que seus tripulantes sofram o menor dano. Ainda assim...
A menos que fossem imortais, esses hipotéticos (na verdade fantasiosos) ETs não conseguiriam chegar, numa mesma geração, sequer à estrela mais próxima e que contivesse algum planeta com condições parecidas com as deles e que, por isso, também fosse habitado por seres inteligentes. Isso tudo considerando-se que se decidissem de fato a empreender aventura como essa. Para que tentassem, deveria haver alguma necessidade premente ou alguma vantagem certa e tentadora. A menos que se tratasse de um bando de suicidas potenciais, jamais esses hipotéticos seres inteligentes se arriscariam a uma maluquice dessas, por nada, apenas pela emoção de desafiar o perigo (e que perigo!).
Caso se arriscassem, convenhamos, não seriam inteligentes. E se não fossem dotados de inteligência (e, claro, de recursos materiais) não teriam tecnologia para construir naves tão miraculosas. Mas... a imaginação possibilita tudo isso, e sem a menor dificuldade. Já a realidade...
Por se tratar de tema tão fascinante (posto que rigorosamente inútil e adstrito apenas ao campo do absurdo), voltarei, certamente, a ele. Até porque, para pelo menos uma coisa o assunto se presta: para provocar a imaginação e nos induzir à reflexão, mesmo que à nossa revelia.
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