Pedro J. Bondaczuk
A Organização para a Libertação da Palestina, que neste ano comemora vinte anos de sua criação, profundamente dividida, ainda é o grupo de maior representatividade do povo palestino no exílio. Em 1982, quando foi expulso do Líbano, após a invasão israelense naquele país, seu braço armado perdeu praticamente todo o material bélico que antes possuía.
Suas forças, divididas por controvérsias inconciliáveis, tiveram que se submeter a uma Segunda expulsão de território libanês, em 1983. Dessa feita, através de dissidentes pró-Síria, após renhidos combates travados na cidade de Tripoli.
Nessa oportunidade, muita gente chegou a prever o fim da organização, desarmada, vencida no campo de batalha, com o moral baixo e profundamente separada, inclusive fisicamente, já que seus integrantes foram trasladados para diversas capitais do mundo árabe.
Agora, a OLP começa a se rearmar. Pelo menos o grupo que está no Iraque, sob a proteção do presidente Saddam Hussein. E pelo volume e natureza dos armamentos que está recebendo, parece que a organização está se preparando para um revide nas recentes derrotas que sofreu. Resta saber, somente, se contra as facções dissidentes (o que é pouco provável) ou se contra o histórico inimigo, o Estado de Israel.
Muita gente revela uma certa surpresa com o fato de ser o Iraque quem fornece à OLP os meios indispensáveis para que volte à luta. Mas ao observador mais atento, que acompanha as diversas etapas do processo belicoso que se desenvolve no Oriente Médio desde 1947, isto não é nenhuma novidade. Afinal, não faltam motivos ao Iraque para nutrir ressentimentos contra o Estado judeu.
Recorde-se que no dia 8 de junho de 1981, aviões israelenses bombardearam e destruíram o reator nuclear iraquiano “Osíris”, que os franceses estavam ajudando a construir na cidade de Tamuz. Embora Telaviv tenha sido condenada pela ONU a pagar pelos prejuízos que causou (no dia 19 de junho de 1981), ignorou essa decisão e até hoje não reparou o regime de Bagdá por esses danos.
O que causa espécie é o tipo de armas que o regime de Saddam Hussein está fornecendo à OLP. Trata-se de material bélico pesado, incluindo canhões anti-aéreos de 14,5 milímetros, de fabricação soviética, obuses de 130 milímetros, lança-foguetes de disparos múltiplos montados em veículos e até o eficientíssimo carro-blindado de combate brasileiro, “Cascavel”, equipado com canhões e metralhadoras munidas de amortecedores e cuja eficácia foi sobejamente demonstrada na guerra contra o Irã. É evidente, portanto, que a OLP não está se preparando para nenhum piquenique e nem para ir a algum acampamento de escoteiros.
O Oriente Médio, que apresenta até uma relativa calmaria, com a tentativa libanesa de pôr fim à sua guerra civil (prestes a completar uma década), pode, a qualquer momento, se incendiar novamente. Afinal, foi o próprio líder da OLP que, durante o desfile comemorativo ao 20º aniversário da sua organização, realizado Terça-feira, na cidade iraquiana de Messayeb, deu a pista para desvendar o mistério do acelerado rearmamento do grupo.
Disse, na ocasião: “Nossos combatentes treinam agora no emprego destas armas sofisticadas doadas pelo Exército iraquiano. Com elas marcharemos para libertar a Palestina da ocupação israelense”. Como se vê, vem encrenca, e das grossas, por aí.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 8 de fevereiro de 1985).
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