Pedro J. Bondaczuk
O mundo recorda, hoje, pelo 42º ano consecutivo, repugnado, uma imensa tragédia, certamente a maior já provocada pelo homem ao longo de toda a história: a destruição da cidade japonesa de Hiroshima com o lançamento da primeira bomba atômica sobre milhares de civis indefesos. Não importa se o ato possa ser justificado, do ponto de vista militar (desgraçadamente, para quase tudo se pode apresentar alguma justificativa). Também pouca importância tem a argumentação de que o uso desse monstruoso artefato contribuiu para o fim da Segunda Guerra Mundial (como muitos teimam em afirmar e reiterar). De nada adianta, também, afirmar que a arma que provocou essa catástrofe (e há, atualmente, cerca de um milhão delas nos arsenais das superpotências), impediu que houvesse outro conflito neste século das mesmas proporções do ocorrido entre 1939 e 1945.
O fato é que, a explosão da bomba atômica, às 8h15 da manhã de sol de 6 de agosto de 1945, na cidade-mártir de Hiroshima, modificou (para muito pior) o Planeta. Tornou-o infinitamente mais inseguro. Transformou-nos em reféns do terror nuclear. Fez com que nosso futuro se tornasse imprevisível e incerto. Mostrou, sobretudo, que o único ser pensante da natureza pode, a um simples comprimir de um interruptor, fazer voar pelos ares, em segundos, tudo o que fez e já encontrou feito ao nascer.
O homem detém, desde então, o absurdo poder de acabar com o passado, com o presente e, o que é o pior, evitar que haja um futuro para todos nós e nossos descendentes. Por isso, é necessário que ser crie uma consciência internacional sobre esse perigo, que não é hipotético (antes fosse!), como se procura, criminosamente, impingir à opinião pública. É concreto, é palpável, é medonho e é muito real.
Em Campinas, estamos dando um grande passo para formar essa consciência. Temos uma entidade que, em se preocupando com a ecologia, conta, entre as teses que postula, uma que exige o fim das armas nucleares e racionalidade no uso pacífico do átomo. Trata-se da Associação Campineira de Ação Ecológica, recém-criada, que promove, hoje, no Salão Vermelho da Prefeitura, às 20 horas, um encontro que cidadão consciente nenhum deveria perder.
Na oportunidade, personalidades muito importantes (entre as quais o físico Rogério Cerqueira Leite) vão mostrar os danos que as guerras, mesmo as convencionais, podem trazer para o Planeta. É de promoções assim que o mundo precisa. E não de forma esporádica, mas continuamente, para que todos se dêem conta dos riscos que ameaçam a humanidade.
É indispensável que a tragédia de Hiroshima permaneça sempre em evidência, como um alerta, como um freio para conter os belicistas, que não passam de suicidas em potencial. Que as vítimas desse genocídio sejam reverenciadas, pois sentiram na carne os horrores do inferno. Mas somente isto não basta.
O passado só é válido se ou quando nos ensina a evitar que voltemos a cometer os mesmos erros mais adiante. O que é preciso, acima de tudo, é prevenir outra tragédia, para que a espécie não venha a desaparecer da face da Terra. É necessário pressionar os líderes das potências nucleares para que procedam a um desarmamento. Não somente este pífio, tímido, que os Estados Unidos e a União Soviética estão ensaiando, mas um que seja amplo, geral e completo. Um que não envolva somente a totalidade das armas nucleares, mas, e sobretudo, implique no desarmamento dos espíritos. Esta é a única esperança que nos resta de poder legar um futuro aos nossos filhos. Tudo o que se disser em contrário, não passará de sandice.
(Artigo publicado na página 13 Internacional, do Correio Popular, em 6de agosto de 1987)
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