Pedro J. Bondaczuk
Para ser escritor no Brasil – e não me refiro, apenas, a escrever livros, mas ao que é essencial para caracterizar alguém nessa condição, ou seja, publicá-los, divulgá-los e vendê-los – o aspirante a isso tem que ter, além, obviamente, de talento, muita paciência, garra e determinação. O que mais ouvirá, com certeza (salvo raríssimas exceções) será uma infinidade de negativas de editoras. E isso se conseguir pelo menos ter acesso a alguma delas. A palavra que mais frequentará sua realidade cotidiana será o terrível “não”, sobre a qual o Padre Antonio Vieira discorreu com imensa sabedoria e talento, em um de seus mais famosos sermões.
Se o aspirante a escritor for daqueles que desistem facilmente, sua carreira acabará no nascedouro. Provavelmente irá buscar outras atividades e se esquecerá dessa história de literatura. Contentar-se-á em manter-se na condição de leitor, o que (acreditem) não é pouca coisa. Mas...
Muitos talentos foram perdidos por essa razão, por falta de disposição e de paciência para ouvir tantas negativas e ainda assim persistir. As coisas já foram piores, é verdade, e essa dura e frustrante realidade não é exclusividade do Brasil. É mais dramática ainda em países culturalmente mais atrasados do que o nosso.
Por isso, tenho imenso respeito pelos escritores novos que conseguem publicar o que escreveram. Quando me caem em mãos livros deles tenho o máximo cuidado em emitir comentários. Se forem bons, faço questão de detectar e exaltar seus principais méritos. Se ruins, limito-me a apontar as falhas diretamente aos escritores, sem citá-las de público. Reitero que não aceito o papel de destruidor de sonhos alheios. Sou criticadíssimo por essa postura, mas nem por isso abro mão dela. Pensem de mim o que quiserem. Até porque, destruir o que quer que seja é a coisa mais fácil do mundo. Qualquer imbecil faz isso com o mínimo de esforço. Construir é que são elas!
Apesar de contar com severa restrição de tempo (gostaria que os dias tivessem 48 horas ou mais e não as 24 que têm), dada minha inquietação intelectual, que me leva a assumir mais compromissos do que consigo dar conta, há uma atividade diária da qual não abro mão: a da leitura de blogs. Faço isso desde o ano 2000, quando havia poucos desses espaços na internet. Isso, na ocasião, ainda não havia virado (saudável) mania. Viciei-me nesse tipo de leitura ao qual dedico uma hora por dia, impreterivelmente, em todos os 365 dias do ano, sem falhar nenhum. Desde 2001, acompanho (sem que ela nem mesmo soubesse e nem saiba ainda), o blog (entre tantos outros) de uma jornalista jovem, que não escondia, em suas postagens, sua pretensão (diria saudável ambição) de se lançar como escritora. Refiro-me à jornalista Fernanda França.
Torcia para que ela saísse à luta e batalhasse pelo seu sonho (mesmo sem saber se já tinha livro escrito e, em caso afirmativo, se era de qualidade, digno de publicação). Vibrei, pois, quando soube que ela havia rompido a barreira imposta aos escritores novos e lançado o romance (que ela classificou de comédia romântica), “Nove minutos com Blanda”. Curioso como sou (na verdade, xereta), adquiri-o, li-o com entusiasmo e... gostei. Cheguei a pautar um comentário a propósito, mas os temas para comentar foram se sucedendo, se atropelando, fazendo com que eu fosse adiando minha apreciação informal desse livro. Tardei tanto em me decidir que o assunto perdeu a atualidade.
Todavia, agora, surgiu um oportuníssimo “gancho” para tratar dessa jovem e promissora escritora, que alia, ao enorme talento narrativo, o que a atividade (pelo menos no Brasil) mais requer: garra, persistência e continuidade. No primeiro trimestre de 2012, Fernanda França lançou seu segundo livro, com as mesmas características do primeiro (que tanto me agradaram), ou seja, além de fluência e criatividade, muito humor. Trata-se de “Malas, Memória e Marshmellow” (originalíssimo até no título). A exemplo do primeiro, este segundo lançamento também foi da Rai Editora. Acabei de lê-lo e, ainda entusiasmado com essa divertida história, decidi escrever, não propriamente sobre o livro (não costumo fazer resenhas), mas sobre a corajosa e persistente autora.
E quem é Fernanda França? É uma jovem jornalista (tem 30 anos de idade), paulistana, mas que reside pertinho de onde eu moro (resido em Campinas), aqui em Mogi Guaçu, onde trabalha na “Gazeta Guaçuana” dessa cidade. Se já é difícil a um escritor que resida nas grandes metrópoles, como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília etc. convencer uma editora a publicar seus livros, imaginem o obstáculo para quem mora no interior! Multiplica-se, na melhor das hipóteses, por dez (eu que o diga). Fernanda é pós-graduada em Comunicação Jornalística pela Casper Líbero. E mais, tem curso de especialização pelo Knight Center for Journalism in the Americas, da Universidade do Texas, nos Estados Unidos.
Nas entrevistas que a jovem escritora deu, publicadas em alguns blogs da internet, ela ressalta o que destaquei no início dessas reflexões. Ou seja, a tremenda batalha para conseguir quem editasse seu primeiro livro. Teve que ouvir tanto “não”, que sequer consegue contabilizar quantos. Todavia, tem talento. E, mais do que isso, tem garra. E, mais ainda, é persistente e não desiste quando tem segurança do que faz. Além de tudo isso, é criativa e não tem medo de se expor (e nem há por que ter) quando se trata de divulgar seus livros.
Um episódio, bastante revelador, dessa coragem e criatividade, sobretudo na divulgação do que publicou (o que é fundamental, ressalte-se), ocorreu em 2010, na Bienal do Livro de São Paulo. Na oportunidade, Fernanda lançava “Nove minutos com Blanda”. E sabem o que ela fez? Em cada dia que durou o evento, ela compareceu ao local de exposições trajando camisetas de cores diferentes e com frases do seu livro. Foi um sucesso. Sem exagero, foi um arraso! Todos os presentes paravam para ver essa promoção tão simples, mas ao mesmo tempo tão oportuna e original. E, na sequência, adquiriam o romance da jornalista. Afinal, grandes problemas requerem soluções diferentes, ou seja, criativas e não convencionais. E foi o que Fernanda fez. Essa ousadia garantiu-lhe excelentes vendas.
Estou certo que novos livros, com o mesmo padrão de qualidade, virão, consolidando uma carreira literária que já começou sob um signo vencedor. Você, aspirante a escritor, já ouviu uma infinidade de “não” das editoras? Ora, ora, ora, não desanime. Faça como Fernanda França: arregace as mangas, seja persistente, use a imaginação e vá à luta. E, se quiser, contate-me na sequência, relatando-me os resultados. Certamente serão, no mínimo, compensadores.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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