Pedro J. Bondaczuk
O ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas, o diplomata peruano Javier Perez de Cuellar, destacou, num extenso relatório divulgado ao cabo de sua gestão de dez anos no comando da ONU, que o tráfico e consumo de drogas, ao lado da pandemia mundial da Aids (questões intimamente associadas), são os maiores problemas enfrentados pela comunidade internacional na atualidade.
Todavia, enquanto as soluções se mostram extremamente tímidas, quando não tardias, o vício avança por toda a parte. E seus agentes enriquecem à custa da desgraça de milhões, rindo das autoridades e permanecendo impunes na maioria das vezes.
Quadrilhas de narcotraficantes formam autênticos exércitos --- como ocorre, por exemplo, na Birmânia, ou nos morros do Rio de Janeiro --- desafiando o poder constituído.
O Brasil não está a salvo desse flagelo. Pelo contrário. De simples rota do tráfico, o País já se transformou num grande mercado consumidor. O alvo tem sido o indivíduo mais despreparado e vulnerável da sociedade, o que não dispõe de experiência alguma para evitar as armadilhas dos agentes do vício: os jovens. Ou, o que é pior, crianças na faixa de 9 a 11 anos de idade. Nesta semana, foi realizado, em Belo Horizonte, o "1º Congresso Brasileiro de Prevenção ao Uso de Drogas", que reuniu grandes especialistas na matéria.
Dados altamente preocupantes foram divulgados no encontro, que não se ateve ao diagnóstico do problema, mas apresentou um conjunto de estratégias para tornar mais eficiente o combate tanto ao uso de entorpecentes e estupefacientes, quanto à sua venda.
Uma das constatações dos congressistas foi a de que 25%, em média, dos adolescentes brasileiros já são usuários de algum tipo de substância tóxica, como o crack, a cocaína, a maconha, a morfina, a heroína ou a cola de sapateiro. Isto sem contar o álcool. Em algumas capitais, estas cifras chegam a 30%.
A chamada "Carta de Belo Horizonte" propõe uma série de medidas, tanto na área da repressão dos traficantes, quanto de recuperação de viciados e de prevenção ao vício. Uma delas chama, particularmente, a atenção, pela sua simplicidade e eficácia.
Trata-se da proposta de implantação imediata de programas educativos sobre drogas nas escolas públicas e privadas, nos cursos de 1º e 2º graus. A sugestão é a de que os esclarecimentos sobre os efeitos das substâncias tóxicas sejam incluídos nas disciplinas de Ciência e de Biologia e que o enfoque seja primordialmente científico.
Faz sentido. A própria "Carta de Belo Horizonte" justifica a razão dessa tônica. Propõe uma abordagem "sem dramatismo, sem sensacionalismo, sem terrorismo, sem lições de moral" porque, "se há uma linguagem que o jovem aceita bem é a da ciência".
Contudo, admite que "antes de educar nossos filhos, precisamos educar nossos mestres". Trata-se de um investimento que precisa ser feito --- a par de medidas de repressão ao tráfico, de punição a mais severa possível aos traficantes e de recuperação dos viciados --- e com urgência, para prevenir uma situação futura que se torne incontrolável.
Cabe aos pais cobrar essas medidas das autoridades de ensino e compete-lhes, sobretudo, estabelecer uma vigilância diligente, sábia, sadia, ininterrupta e inteligente sobre os jovens, para que eles não venham a enveredar por um caminho que na maioria das vezes não tem volta.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 22 de setembro de 1994).
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