Pedro J. Bondaczuk
O trabalho é encarado das mais variadas maneiras, de acordo com a realidade de cada pessoa, com sua personalidade, sua formação e nível de informação, sem esquecer do papel que elas ocupam em determinada sociedade. Para a maioria é mera necessidade – física e principalmente econômica –, o que me parece para lá de óbvio. Sua função principal é, além de a de dar sentido à vida, custear a subsistência.
Há os que o entendam como mera obrigação a que são treinados desde crianças e à qual têm que se submeter. Ou seja, como papel que têm que assumir até para justificar presença no mundo. Terceiros classificam-no como "castigo", baseados na suposta sentença divina, emanada quando da expulsão de Adão e Eva do Éden, conforme relato bíblico no livro de "Gênesis": "Com o suor de teu rosto comerás o pão até que voltes à terra, donde foste tirado".
Alguns poucos consideram o trabalho de maneira, digamos, mais “romântica”, como oportunidade para mostrar o quanto valem e a que vieram ao mundo. Há, também, os que o encaram como satisfação (estes mais raros e isso quando têm o privilégio de fazer somente o que gostam). Nem todos podem fazer isso. Aliás, só a minoria pode. Todas essas pessoas têm, no entanto, uma preocupação comum: a manutenção do seu trabalho (gostem ou não dele), face à onda de desemprego que varre parte considerável do Planeta, e exatamente a mais rica dele, em decorrência da crise econômica que assola principalmente a zona do euro da rica (e arrogante) Europa.
O tema é vastíssimo, diria que infinito (ou quase) e não se esgota face ligeiras considerações feitas à margem. Trago-o à baila apenas a título de provocação, para suscitar reflexões e debates. O assunto divide, sempre dividiu e sempre dividirá opiniões e não há o menor consenso em torno das questões que suscita. Pode ser analisado sob os mais variados enfoques, que vão desde o óbvio, o econômico, até o moral, passando pelo mais sensível e controverso deles, o ideológico, derivando para o filosófico etc.etc.etc.
Uma coisa a propósito me parece clara, embora, certamente, haverá uma infinidade de pessoas que irão discordar dessa minha opinião: “O trabalho deve ser uma fonte de progresso para quem o exerce e todos os que queiram produzir algo têm o direito de colocar seu talento a serviço da sociedade em que estão inseridos e ter retorno justo do que produzem”. Para mim, isto é absolutamente óbvio. Todavia... É para lá de sabido que isso não é aceito e que não acontece. E, se acontecer, não é a regra, mas honrosa exceção.
Como o trabalhador é tratado? Com dignidade? Em pé de igualdade com quem requisita e financia seus préstimos? Claro que não! Todos sabem que não! É aí que está o fulcro de toda a controvérsia que se arrasta por séculos, por milênios e que deu ensejo ao surgimento das duas ideologias antagônicas que ainda se digladiam pelo poder. Uma privilegia o capital, em detrimento do trabalho. A outra age exatamente de forma oposta. Ou seja, considera o trabalho como fundamental para gerar riquezas que movimentem a economia. Não seria o caso de haver “empate” nessa disputa? Os dois fatores não teriam igual importância, um não podendo prescindir do outro? Bem, cada qual que responda à questão de acordo com sua consciência (embora neste caso o que prevalece é o interesse de cada um).
O grande problema do mundo, nesta virada da segunda década do terceiro milênio da era cristã, não são as doenças (apesar de pandemias, como as de gripe aviária, gripe suína, Aids etc.), nem as guerras, a devastação do meio ambiente, a poluição da terra, ar e água e nem mesmo o esgotamento dos recursos naturais do Planeta. Todas essas questões – e é até redundante frisar – são de enorme relevância e desafiam a humanidade a encontrar soluções. Mas não são, ainda, o que de pior pode acontecer às pessoas. Há algo muito mais fundamental, mais urgente, mais iminente e mais importante e que, quando ocorre, é uma calamidade para os atingidos. Trata-se do desemprego.
O mundo caminha, por uma série de razões, para a era do fim dos empregos. Ou, se não tanto, para drástica redução deles. Essa nova realidade, em pleno andamento, traz aos administradores de vários níveis, da totalidade dos países (não importa se ricos ou pobres), o que promete ser o mais grave dos desafios do século XXI: como arranjar ocupação para mais de um bilhão de indivíduos que a cada vinte anos se juntam à população total do Planeta, com suas múltiplas e insubstituíveis necessidade, de formas a que eles possam se sustentar e manter a economia funcionando e a sociedade equilibrada e em paz?
O economista norte-americano Jeremy Rifkin aborda com detalhes a questão no livro (lançado no Brasil pela editora "Makron Books") "O fim dos empregos". Constata: "Após anos de previsões otimistas e alarmes falsos, as novas tecnologias de informática e de comunicações estão finalmente causando seu impacto, há tanto tempo prognosticado, no mercado de trabalho e na economia, lançando a comunidade mundial nas garras de uma terceira grande revolução industrial. Milhões de trabalhadores já foram definitivamente eliminados do processo econômico; funções e categorias de trabalho inteiras já foram reduzidas, reestruturadas ou desapareceram".
Número crescente de pessoas recorre a atividades informais para sobreviver. Pior: o crime organiza-se e já movimenta, com a exploração do tráfico de drogas, da prostituição, dos seqüestros, da extorsão e de tantas outras ações delituosas, um total de recursos superior ao Produto Interno Bruto de países como o Brasil, que tem o 5º maior PIB do mundo.
Para a geração rápida de empregos, faz-se necessário que se estimule crescentemente o que os economistas chamam de "insatisfação organizada". Ou seja, a criação de novas necessidades (não importa se supérfluas, ditadas por modas de momento ou não). A cada modismo, que venha acompanhado de produtos (roupas, calçados, equipamentos, brindes etc.) milhares de empregos serão criados ou preservados.
Fica, como advertência aos responsáveis pela elaboração das políticas de governo, a afirmação de Jeremy Rifkind: "Às portas da nova aldeia global da alta tecnologia está um número cada vez maior de seres humanos carentes e desesperados, muitos dos quais voltando-se para uma vida de crime e criando uma nova e vasta subcultura da criminalidade. A nova cultura da ilegalidade começa a colocar uma ameaça séria à capacidade de os governos manterem a ordem e oferecerem segurança aos seus cidadãos". O economista norte-americano John Kenneth Galbraith observou a propósito: “"Nenhum sistema econômico foge à tentação de produzir serviços inúteis e mercadorias extravagantes". E nem poderia fugir, sob pena de não gerar os postos de trabalho necessários para absorver imensas massas de mão de obra ociosa lançadas anualmente no mercado de trabalho. Claro que isso tem um preço ambiental que tende a se tornar intolerável. Mas...
Como se vê, o tema é tão extenso, que sequer cheguei a “arranhá-lo” e o texto já ficou tão extenso. Não abordei, por exemplo, a questão da escravidão, que apesar de oficialmente banida do Planeta, tida, consensualmente (da boca para fora?) como aberrante imoralidade, ainda persiste em várias partes, sob inúmeros disfarces.
Sequer citei as injustas remunerações do trabalho, realidade com a qual todos, amiúde, convivemos e há tanto tempo. Não enfatizei a crescente demanda mundial por energia, cada vez mais escassa e por conseqüência mais cara e, muito menos, o risco de esgotamento dos recursos naturais da Terra, iminente e, que quando ocorrer (um dia, fatalmente, ocorrerá), privará as fontes de produção das respectivas matérias-primas.
Quando isso ocorrer, quando não houver como abastecer as tantas e variadas indústrias e nem como mover suas milhões de máquinas, serão, claro, suprimidos milhões, quiçá bilhões de empregos, em vez da criação de novos e da manutenção dos existentes para absorver os crescentes contingentes de mão de obra decorrentes do explosivo aumento da população mundial. Portanto, resumindo este resumo do resumo do resumo, fica a pergunta, cuja resposta se impõe por si só: “Estamos ou não estamos numa baita encrenca, face perversa armadilha, da qual sequer atinamos como escapar?”
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