Pedro J. Bondaczuk
O Pulitzer, embora oficialmente seja um prêmio jornalístico, tornou-se, desde sua instituição, em 1948, uma das mais cobiçadas premiações literárias do mundo. Alguns consideram-no tão importante quanto o Nobel de Literatura, no que, pessoalmente, discordo. Não tem a mesma tradição e a mesma projeção mundial que o prêmio que leva o nome do inventor da dinamite. Ainda assim, é uma honraria cobiçada por escritores, notadamente os norte-americanos, que são, quase sempre (para não dizer sempre) os indicados e os escolhidos. Isso sequer é demérito para os ganhadores.
O Pulitzer de 2012 foi divulgado dia 16 de abril. Muitos dos nossos leitores estranharam o fato de eu sequer haver mencionado essa divulgação, ao contrário do que fiz em anos anteriores, quando não só a mencionei, mas, sobretudo, comentei sobre os ganhadores. Sobre os escritores, claro, dada a natureza deste espaço, sabidamente voltado à Literatura. Deixei os jornalistas premiados para serem apresentados e avaliados em sites ou blogs (não importa) voltados ao jornalismo.
E por que me omiti neste ano? Porque fui surpreendido com a decisão dos responsáveis pela atribuição desse prêmio de não premiar, em 2012, nenhum livro de ficção (romance, conto e novela) e, claro, seu respectivo autor. Bem, é certo que a literatura não se restringe a esses três gêneros ficcionais. Comentarei, certamente, nos próximos dias, os galardoados nas categorias de Poesia, História, Ensaios, Biografia e Teatro. Não o fiz antes (e nem o faço hoje), para me refazer do susto dos ficcionistas terem sido postos à margem, pelo menos neste ano, e tentar entender a razão dessa decisão.
Antes de tudo, até para situá-lo, caríssimo e paciente leitor, compete-me informá-lo que a omissão sequer é um fato novo em relação a essa premiação. Não se trata, pois, de nenhum precedente. Nos 44 anos de existência do prêmio, esta foi a sexta vez que nenhum ficcionista foi premiado. A última ocasião em que isso aconteceu foi em 1977. No ano passado, por exemplo, essa categoria foi lembrada e Paul Harding obteve a consagração, por seu livro “Tinkers” (não tenho informação sobre se ele foi ou não publicado no Brasil; em caso positivo, desconheço com que título, e se negativo, não estou informado se há projeto de alguma editora de traduzi-lo e lançá-lo por aqui. Desculpem, pois, minha ignorância no caso).
O fato do Pulitzer não haver premiado nenhum ficcionista, devo ressaltar, não causou pasmo, somente, a este Editor, que especula sobre as razões dessa decisão, sem chegar a nenhuma conclusão. Estariam os ficcionistas, notadamente os norte-americanos, em crise? A qualidade dos romances, contos e novelas escritos e publicados no ano passado teriam sofrido abrupta queda de qualidade? Para alguns, sim. Devo ressaltar que o caso não mexeu só com a minha curiosidade, mas vem despertando polêmicas no mundo das letras, principalmente nos Estados Unidos.
O que causa maior estranheza, é que havia três finalistas, candidatos ao prêmio nessa categoria, o que me leva a supor que a outorga a um deles chegou a ser cogitada. Não se tratou, pois (pelo menos é o que deduzo) de nenhuma medida de economia por parte dos responsáveis pela premiação, hipótese que muita gente chegou a aventar.
Leio, na Veja, os nomes dos jurados, que avaliaram as obras candidatas ao Pulitzer, na categoria de ficção, o que me leva a crer que elas foram julgadas e todas, absolutamente todas, consideradas indignas do prêmio. Será?! O júri em questão, de três membros, foi formado pela crítica literária Maureen Corregan, pelo escritor Michael Cunnigham (autor do livro “The Hours”) e por Susan Larson, ex-editora da seção de livros do jornal “Times-Picayune”, de New Orleans.
Instados por jornalistas a darem qualquer explicação para o fato de não premiarem, nesta edição, nenhum ficcionista, estes ilustres especialistas de literatura resolveram manter-se rigorosamente calados. Ninguém conseguiu arrancar, de nenhum deles, uma só palavra a propósito. A ilação imediata – que julgo precipitada – é que nenhum romance, conto ou novela agradou a ponto de, na opinião dos jurados, merecer a premiação. Pode, claro, não ser nada disso.
É possível que os três livros finalistas – “Train Dreams”, de Denis Johnson; “Swamplandia!”, de Karen Russell e “The Pale King”, de David Foster Wallace – fossem tão bons, e no mesmo nível, que o júri não tenha conseguido decidir qual era o melhor. Improvável? Sim! Impossível? Não creio. Pode ter acontecido dos jurados não haverem querido partilhar o prêmio por três e que, numa decisão salomônica, posto que polêmica, tenham optado por não premiar nenhum deles.
Não passa pela minha cabeça que a literatura de ficção – pelo menos a praticada nos Estados Unidos – esteja em crise, passando por um hipotético hiato de qualidade. Afinal, há tanta coisa sobre a qual escrever que chega a ser inconcebível que a totalidade dos ficcionistas que abastecem o mercado livreiro de Tio Sam passe por um dramático momento de obtusidade como esse. Ou não? Sabe-se lá!
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