Pedro J. Bondaczuk
O mercado petrolífero mundial, a se acreditar tanto nas ameaças da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, quanto dos produtores não ligados ao cartel, em especial a Grã-Bretanha e a Noruega, deverá ficar literalmente inundado com o produto nos próximos dias, com a guerra deflagrada entre os dois grupos, um visando a tirar o outro da competição pela preferência dos consumidores.
É evidente que esse fato deverá trazer algumas conseqüências para as partes em litígio e até para quem não tem nada a ver com toda essa história. A economia mundial, que não anda lá muito bem das pernas, com as regras estabelecidas em Bretton Woods se mostrando há tempos nitidamente anacrônicas, tende a novo desequilíbrio. Quanto àquilo que pode acontecer, é possível de se fazer especulações (sempre é), mas as previsões não deixam de ser arriscadas, pelo volume de dados envolvidos na questão.
A inundação do mercado, com abundância de petróleo, no primeiro momento, não deverá trazer grandes conseqüências, embora pela lei natural da oferta e da procura, os preços devam declinar. Estamos vivendo um período de inverno no hemisfério norte, ocasião em que o consumo geralmente cresce, em decorrência da necessidade de se queimar mais combustível para o aquecimento doméstico.
Mas lá para o início de março, já será possível se perceber os primeiros efeitos dessa guerrinha, que será vencida por quem possuir maior cacife, ou por quem for mais ousado em suas jogadas.
Em princípios, a Grã-Bretanha e a Noruega levam ligeira desvantagem em relação os integrantes da OPEP. O custo para a extração do petróleo do Mar do Norte é, provavelmente, o mais alto do mundo. Segundo alguns analistas, cada barril extraído das águas geladas e tempestuosas que banham a costa Oeste européia, não sai por menos do que US$ 16.
Uma enormidade, se comparado com o saudita, que custa irrisórios dez centavos de dólar. A margem de lucro britânica, comercializando o produto a US$ 20, será de apenas US$ 4 por unidade. A dos árabes, caso seus preços cheguem a esse patamar extremo, será de US$ 19,9.
Ocorre que a Grã-Bretanha e a Noruega, até pouco tempo atrás eméritos importadores do produto, nunca dependeram do petróleo para garantir expressivos saldos em suas exportações. Os integrantes da OPEP, entretanto, têm nessa preciosa matéria-prima praticamente a única fonte de receita, que mudou radicalmente a vida de seus habitantes, transformando todo esse pessoal de paupérrimos nômades do deserto (no caso dos sauditas e seus comparsas do Golfo Pérsico), em milionários, cortejados e até temidos por mais da metade dos integrantes da comunidade internacional.
A questão, ao nosso ver, reside em até que ponto chega a teimosia da “dama de ferro” britânica em não aceitar pressões para diminuir a produção britânica, que é, na verdade, o cerne de toda essa controvérsia. Margaret Thatcher já demonstrou sobejamente, em diversas ocasiões (principalmente em 1982, com a guerra das Malvinas) que costuma fazer apostas altas, e sempre para vencer. Mesmo que isso implique em enormes riscos.
Só eu o problema não é tão simples quanto possa parecer à primeira vista. Uma queda muito aguda de preços no mercado vai conduzir, fatalmente, muitas empresas do ramo, muitos bancos, alguns Estados norte-americanos e até alguns países, à literal falência.
É lógico que diante de uma possibilidade tão sombria, os prejudicados, certamente, buscarão reagir, com todos os meios ao seu alcance. Quem terá mais fôlego para resistir à parada? A partir de março de 1986 começaremos a ter algumas pistas mais seguras a esse respeito. Até lá, o que se disser, não passará de mera especulação. Ou, quem sabe, de uma guerra de nervos entre os adversários, para ganhar, no puro blefe, todas as altíssimas apostas que estiverem lançadas sobre a mesa.
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 13 de dezembro de 1985).
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