Wednesday, August 29, 2012

Ficção da ficção

Pedro J. Bondaczuk

O escritor norte-americano Rick Riordan é um dos grandes campeões de vendas da atualidade. Raras são as semanas em que pelo menos um de seus livros não consta entre os dez mais vendidos do país. O sujeito é verdadeira “mina de ouro” para seus editores (e, claro, para si próprio). Cada novo lançamento é aguardado com ansiedade pelos seus milhões de leitores, ávidos pelas aventuras que ele escreve com naturalidade e interesse. É sucesso certo. Gosto dos seus enredos, personagens e do ritmo que imprime nas peripécias dos seus heróis.

Trata-se de um escritor relativamente jovem. Tem 48 anos, o que, para literatura, é praticamente um menino. Richard Russell “Rick” Riordan Junior nasceu na cidade texana de San Antonio, em 5 de junho de 1964. Foi, antes do sucesso, professor de inglês e história em escolas públicas e particulares em São Francisco, na Califórnia, atividade que exerceu por quinze anos. Certamente foi o que lhe deu a familiaridade que demonstra com temas históricos, notadamente com a mitologia, presentes em muitos (diria, em todos) seus enredos. E, claro, conferiu-lhe o domínio que tem sobre seu idioma, o inglês, que faz com que escreva de forma tão saborosa.

Os críticos classificam seus romances, de “literatura fantástica”. Ouso dizer que a classificação mais adequada seria a de “ficção da ficção”. Vocês estranharam a designação? Mas ela se justifica. Rick Riordan cria personagens que têm tudo a ver com deuses e semideuses das mitologias grega e romana. Ou seja, baseia-se em mitos conhecidíssimos e adorados por séculos, se não milênios, pelo mundo civilizado de remotas eras. Tiveram templos, alguns suntuosos, onde eram adorados. Mas... mitologia não passa de ficção. Como Rick Riordan “cria” em cima do que há tempos foi criado, creio que minha classificação se justifica. Faz “ficção da ficção”.

Um de seus livros mais conhecidos no Brasil é “O ladrão de raios”. Vendeu barbaridades! Integrou a série “Percy Jackson e os Olimpianos”. Claro que houve muitos outros, todos com vendas espetaculares, que seguem vendendo muito, como “O último olimpiano”, “A maldição dos titãs”, “A batalha do labirinto” e o “Mar de monstros”, entre outros. Há quem não goste de histórias como as que ele escreve. Eu gosto. Além de divertir-me, e muito mais do que com a maioria dos filmes que há por aí (com a vantagem de poder imaginar os personagens, muito bem de3scritos, e cenários, o que acho uma delícia), refresco na memória tudo o que aprendi das mitologias grega e romana. Uno, pois, o útil ao agradável.

Agora, acaba de ser lançado no Brasil mais um romance, o segundo da nova série de Rick Riordan, “Os heróis do Olimpo”, que sucede à anterior, “Percy Jackson e os Olimpianos”. Trata-se de “O filho de Netuno”, editado pela editora Intrínseca, que mostrou enorme agilidade no caso. Afinal, esse livro chegou às livrarias dos Estados Unidos muito recentemente, em outubro de 2011. São raros os casos em que isso acontece. Há todo um trâmite para que livros lançados no exterior cheguem às mãos do leitor brasileiro com tamanha velocidade, como aquisição de direitos autorais, tradução etc. Parabéns, pois, à Intrínseca pela agilidade. A editora sabe o que está fazendo, em que terreno está pisando.

“O filho de Netuno” é uma espécie de continuação do livro anterior da nova série, “O herói perdido”. A história começa mais ou menos seis meses depois que a outra terminou (na cronologia do enredo, claro). O personagem central é o mesmo de ambos seriados, Percy Jackson. Para quem não leu os livros anteriores, apresento-o resumidamente. Trata-se de um semideus grego, de 16 anos de idade, filho de Netuno (Poseidon para os gregos) que, nesse novo romance, atravessa todo o território dos Estados Unidos até chegar à Califórnia, onde encontra o Acampamento Júpiter. Não se lembra de nada da sua vida, a não ser de duas coisas: do seu nome e de uma garota chamada Annabeth Lupa.

Outro personagem de “O filho de Netuno” é Frank Zhang. Trata-se de um semideus romano (olhem a caracterização da “ficção da ficção”), filho de Marte (Ares para os gregos) o deus da guerra. No final do livro ele descobre que tem uma habilidade única: a de transformar-se em qualquer coisa que quiser.

A protagonista feminina marcante (e qualquer boa história que se preze tem que ter mulher na trama) é Hazel Lavesque. Trata-se de uma semideusa romana, filha de Plutão (Hades para os gregos), o deus dos mortos e da riqueza. Sua característica principal faz lembrar a que o mitológico rei Midas, o tal que transformava em ouro tudo o que tocava, tinha. Quando ela nasceu, sua mãe pediu a Plutão que a filha fosse capaz de lhe dar todas as jóias da terra. O deus atendeu-a. Todavia, isso tornou-se grande maldição. Onde Hazel estava, sempre apareciam jóias. Todavia, elas traziam azar e maldição aos que as tocassem.

Mais não revelo para não lhe estragar o fator surpresa na leitura de mais um instigante livro, que revive seres mitológicos de um passado remotíssimo, lhes concede filhos e filhas, que protagonizam dramas, comédias e tragédias, como seus ancestrais, contudo nos tempos de hoje e nas cidades dos Estados Unidos atuais. Rick Riordan é, portanto (e volto a inovar) “ficcionista ao quadrado”. Daí, certamente, deriva grande parte do seu sucesso.

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