Pedro J. Bondaczuk
O Prêmio Nobel da Paz, que vai ser anunciado hoje, em Oslo, pode sair para os líderes das duas superpotências, o presidente norte-americano, Ronald Reagan, e o dirigente soviético, Mikhail Gorbachev. Ambos foram indicados por terem assinado o primeiro acordo da era nuclear prevendo não somente a limitação de armamentos, mas a eliminação de toda uma categoria de armas atômicas, na histórica reunião de cúpula, realizada em dezembro de 1987, em Washington.
Mas há outras pessoas e entidades na qualidade de sérios candidatos a essa honraria. Entre estas, está o dissidente negro sul-africano, Nelson Mandela, encarcerado há 26 anos e sofrendo de tuberculose, punido pelo regime racista de Pretória por sua firme oposição ao perverso sistema segregacionista em vigor há quarenta anos na África do Sul.
Outro nome que não pode ser esquecido, sob pena de se estar cometendo uma terrível injustiça, é o do negociador da Igreja Anglicana no Líbano, Terry Waite, em mãos de seqüestradores desde 20 de janeiro de 1987, quando foi feito refém numa rua de Beirute, no momento em que se dirigia a um encontro, onde iria negociar a libertação de outros cativos.
É comovente o seu desprendimento, aceitando todos os riscos que implicam numa passagem por um país desagregado, tomado pela violência sectária, depois de longos anos de uma selvagem guerra civil, para procurar minorar o sofrimento de seus semelhantes, colhidos nas malhas do ódio cego e do fanatismo inconseqüente.
Outro que chegou a ser cogitado para a honraria foi o secretário-geral das Nações Unidas, Javier Perez de Cuellar, que no entanto está fora da competição, já que sua inscrição foi feita fora de tempo hábil. Bem que algum diplomata da ONU mereceria tal láurea, por seus esforços em dificílimas negociações. Diego Cordovez, por exemplo, encarou a árdua tarefa de mediar um acordo para a retirada soviética do Afeganistão.
É verdade que dificuldades ditadas pelo fornecimento de armas à guerrilha muçulmana afegã, por parte dos Estados Unidos e do Paquistão, podem pôr todo esse longo e penoso trabalho diplomático a perder, agora que a saída das tropas russas já está na metade.
Como se vê, a safra para a premiação de 1988 é das melhores, o que comprova que o ano passado foi decisivo na virada de rumos da humanidade. Se nós tivéssemos o poder e a capacidade de indicar alguém, optaríamos por Nelson Mandela, pelo estoicismo e dignidade com que vem suportando o seu cativeiro, sem abrir mão do seu sonho de igualdade. Está aí um homem que pode e deve ser apontado sempre como símbolo da paz. Mesmo tendo sido acusado (sem provas) de pregar a violência na consecução dos seus objetivos.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 29 de setembro de 1988)
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