Pedro J. Bondaczuk
Os jovens têm sido terrivelmente injustiçados pelas pessoas mais velhas, quando estas querem manifestar descrença quanto ao futuro da espécie. São, via de regra, identificados pelos maus hábitos de alguns desgarrados. Os bons pagam pelos erros dos que se perdem nas drogas, na indolência, no sexo livre e irresponsável, e em outras deficiências, tidas e havidas como “sinais destes tempos”, mas que vêm de longe, de alguns séculos, se não de milênios pra trás. São, sobretudo, vítimas de estúpida generalização.
Mas seria esta geração pior do que as que a precederam? Estaríamos num imenso beco sem saída, diante de uma hipotética carência de lideranças, novas e construtivas, para conduzir a sociedade a um rumo mais adequado e promissor? Estariam, os moços de hoje – como são freqüentemente acusados –, derrubando, destruindo e aniquilando todos os valores éticos e morais, sem criar outros, melhores, que os substituam? Não, não, não, absolutamente não!!!
Os jovens desta geração (comparando, principalmente, as lideranças políticas) são muito melhores do que aqueles que se deixaram seduzir por ideologias totalitárias e discriminatórias, como o nazismo, que redundaram em duas sangrentas e estúpidas guerras mundiais (e toda guerra é suprema manifestação de estupidez, de fracasso da diplomacia, de falência do diálogo), responsáveis pela morte de mais de 40 milhões de pessoas por nada. Querem mais? São melhores do que os que planejaram e construíram armas capazes de destruir pelo menos cem planetas do porte do nosso e que, não contentes com essa horrenda bizarrice, testaram-nas na prática, e por duas vezes, varrendo do mapa as cidades de Hiroshima e Nagasaki (hoje reconstruídas).
São insuficientes esses exemplos? Não? Pois lá vai outro. Os jovens atuais são melhores, infinitamente melhores, do que aqueles que participaram por ação (principalmente) ou por omissão (fazendo vistas grossas), aos campos de concentração e ao extermínio em massa de pessoas indefesas, que na mente doentia de alguns seriam de “raças inferiores” e por isso teriam que ser aniquiladas, no que ficou conhecido como “Holocausto”. Creio que não preciso lembrar mais nada para estabelecer diferenças que se impõem até pela lógica.
Afirmar que os jovens da presente geração não têm futuro exclusivamente por culpa deles, além de injusto, portanto, é, na melhor das hipóteses, imensa leviandade. As universidades têm acolhido, por exemplo, moços e moças extraordinários, que prometem muito e que dão, a todo o momento, inequívocas demonstrações de competência, de responsabilidade e de inegável valor.
A todo o instante (embora isso não seja divulgado pelos meios de comunicação) protagonizam atos sublimes, de extrema nobreza, valiosos, principalmente, por serem raros. Esses moços parecem ter (e tudo leva a crer que tenham) compreensão mais clara do que levou o mundo à situação atual, ou seja, à beira do precipício da catástrofe.
E a juventude atual tem uma virtude fundamental, com a qual supera, em muito, o modo de agir das gerações que a antecederam: a franqueza. Detesta a hipocrisia!! Abomina a atitude dúbia! Condena o ato dissimulado! Tem horror à camuflagem! Procura agir às claras, para o bem ou para o mal. Assume o que faz e responde pelas conseqüências. Claro que, como tudo na vida, esta regra também tem exceções.
Caso me pedissem um conselho, um único que valesse por milhares (e, volta e meia, pedem-me mesmo), eu repetiria, como se fosse um mantra, o que costumo dar quando solicitado: “Aposte no ecletismo”. Aprenda o máximo que puder. Faça (e bem) um pouco de tudo, dando o melhor de si em cada tarefa executada. Evite se tornar “samba de uma nota só”, que pode até ser bonitinho na MPB (principalmente na voz de um João Gilberto), mas que é limitante e ineficaz na vida.
A tendência à especialização profissional, por exemplo, sem o cultivo das potencialidades que todo indivíduo tem (e que não se limita a um único campo de atividade), é fonte quase inesgotável de decepções e de prejuízos, notadamente em épocas de instabilidade econômica mundial, como esta. Em um mercado de trabalho em retração, em países do chamado Primeiro Mundo, em especial da Europa, mas também nos Estados Unidos e no Japão, com diversas funções deixando de existir, substituídas pelas máquinas, quem não tiver alternativas, não souber fazer bem várias coisas, de naturezas diversas, corre o risco de ficar para sempre desempregado. Ou, quando muito, de ter que se contentar com a alternativa do subemprego, do chamado "bico", a menos que passe por um processo de reciclagem, o que nem sempre é fácil, principalmente quando sob a pressão do desemprego .
A maioria das pessoas tem mais de um talento, muitas vezes até desconhecido, mas na maior parte dos casos, apenas adormecido. Alguns têm dezenas, quiçá centenas deles. No entanto, nossa tendência é a de nos acomodarmos em determinada função, que estejamos exercendo profissionalmente, sem atentar para alternativas. Embora pareça mero clichê, a prática demonstra que, de fato, "o saber não ocupa lugar". Tudo o que fizermos para o nosso cultivo intelectual, vai resultar, um dia, (não importa quando) em nosso próprio benefício, senão prático, pelo menos psicológico, mediante a segurança advinda da certeza do conhecimento.
O ensaísta Stendhal constatou, em um de seus textos: "Enterrado vivo. Quantas precauções não se tomam contra semelhante perigo! Mas há almas enterradas vivas, corações enterrados vivos, inteligências enterradas vivas e quem se inquieta com isso?". Poucos... pouquíssimos...Anos atrás, era comum, por exemplo, haver médicos ecléticos em clínica geral, com conhecimentos para diagnosticar doenças em qualquer órgão. Hoje, o organismo foi "dividido em pedaços". O especialista em gastroenterologia pouco ou nada entende de urologia, ou de cardiologia, ou de pneumologia etc. Isso se verifica em quase todas as profissões. A especialização exacerbada limita as alternativas profissionais, estreitando os horizontes mentais. A maioria, portanto, mantém a inteligência "enterrada viva"... E sequer se dá conta disso.
Os jovens erram, e muito, como qualquer pessoa, não importa a idade. O erro, afinal, é condição humana e não decorrente (apenas) da quantidade de anos que se vive. Mas assumem quando erram. Não procuram imputar suas fraquezas e equívocos a ninguém. São, na verdade, vítimas da “civilização”, desta que aqueles que tanto os criticam lhes legaram.
Pagam, portanto, pela incompetência dos antepassados e pelo seu exacerbado egoísmo. Quando nasceram, as mazelas que nos atormentam já estavam aí, em um mundo onde a palavra solidariedade nada significava e soava como blasfêmia, como chacota, como o mais escandaloso dos palavrões. E, convenhamos, essa culpa não lhes pode ser imputada.
Ademais, os jovens acostumaram-se ao desamor, ao pouco caso, à negligência com que foram criados. Convivem, desde o berço, com um arremedo de afeto, comprado com presentes e com fartura de dinheiro (nas raras famílias com recursos para isso, claro), para compensar o que não se compensa e do que a maioria está privada: atenção, interesse, amizade.
Raros (raríssimos) são os que têm o privilégio de serem tratados com franqueza, com honestidade e com respeito em seus relacionamentos com os adultos. Dificilmente sentem-se, de fato, amados, compreendidos e apoiados em suas idéias e atitudes. A despeito de tudo isso, porém, são os jovens que erguem as bandeiras das grandes causas.
São os que lutam, com armas desiguais, pela justiça social, pela liberdade, pela democracia, pela solidariedade entre povos e nações. São os que morrem nas estúpidas e freqüentes guerras tramadas pelos líderes políticos. E, com tudo isso, são os que levam a culpa pelo que há de ruim, de perverso, de vicioso e de doentio no mundo.
É nesta juventude sofrida, abandonada, mal-amada e tão difamada, mas consciente, sincera, justa e participante, que confio, pois é nela que estão depositadas todas nossas esperanças. Ela é nossa única chance de redenção, enquanto seres racionais. E, certamente, saberá encontrar soluções que nós não encontramos para os problemas causados por nossas desastrosas ações e, principalmente, por nossa criminosa omissão!
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