Pedro J. Bondaczuk
As extraordinárias descobertas feitas pela Voyager 2, não somente na sua passagem de 1989 por Netuno, mas nas etapas anteriores de sua jornada de mais de 20 anos pelo Sistema Solar (atualmente, 25 anos após o lançamento, já se afastou bastante dele, constituindo-se no único objeto feito pelo homem a chegar a tamanhas distâncias) têm inúmeras lições a nos ensinar.
Em geral, costumamos nos abstrair do fato da Terra ser mera "poeirazinha" microscópica, se comparada com a imensidão da nossa galáxia, a Via Láctea, onde o Sol, para nós tão grandioso e assustador, não passa de uma estrelinha de quinta grandeza. Imagine o leitor em relação ao universo! Há estrelas, por exemplo, um milhão de vezes maior do que a nossa, que para nós já é tão grande. Provavelmente existem outras ainda maiores, muito maiores, com diâmetro milhões de vezes superior ao do nosso Sistema Solar.
No entanto, esquecemo-nos de nossa pequenez. Apegamo-nos a coisas banais, mesquinhas, sem nenhuma importância, pelas quais vivemos e morremos, quando poderíamos aspirar coisas maiores. E nos julgamos grandes e importantes por isso. Somos, na verdade, é arrogantes e alienados, nada mais do que isso.
Deveríamos colocar os dotes de nossa inteligência a serviço de outra coisa, que não fosse a corrida em busca de algo criado pelo próprio homem, o dinheiro, e que agora é "deificado" pela maioria. Mas não agimos com racionalidade e bom senso. Não, pelo menos, no que diz respeito a objetivos a serem alcançados. Quando menciono isso, invariavelmente, sou questionado e tachado de sonhador, de alienado, quando não de coisas piores, muito mais agressivas. Pouco importa. Afinal... quem, de fato, é o alienado?
O astrônomo Carl Sagan, uma das mentes mais agudas e lúcidas do século XX, afirmou, certa feita: "Ninguém que esteja vivo hoje poderá sobreviver até o século XXII. E, no entanto, haverá um século XXV, e um século C e um século M. Nós ocupamos um minúsculo segmento de um fio extremamente longo de tempo". Constatações como esta são sintomas de alienação? Se forem, então não me importo que me chamem assim, de alienado, de sonhador, de alguém que vive com a cabeça nas estrelas ou além delas. Temos que pensar grande, com pensamentos compatíveis com a grandeza deste universo em que estamos inseridos.
A simples distância da Terra a Netuno, que em termos astronômicos não passa de mísera manchinha num mapa celeste, mostra bem a extensão da nossa pequenez. No entanto, demonstra que podemos ser grandes, imensos, incomensuráveis se colocarmos nossa inteligência em coisas construtivas. Se a usarmos para descobrir maravilhas hoje sequer suspeitadas, no universo além, muito mais excitantes do que as mais febris criações dos melhores autores de ficção científica.
A Voyager 2 revelou, por exemplo, em janeiro de 1986, as chamadas "luas pastoras" de Urano, que sustentam um anel de carvão ao redor desse planeta. Não fosse esse genial (e relativamente barato) artefato interplanetário, o homem jamais conheceria esse arco negro, por ele ser totalmente impossível de ser detectado pelo mais potente instrumento de observação que se possa inventar.
Ao contrário do que muita gente pensa, a exploração espacial tem um caráter prático muito maior do que pode parecer. Não imediato, óbvio. Aliás, este é o grande defeito do homem (da imensa maioria): o imediatismo. O ser humano, com sua capacidade de adaptação, certamente irá povoar muitos desses planetas que a sonda nos desvendou e outros que ela sequer detectou. É claro que nossa geração jamais verá essas maravilhas. Nem, provavelmente, as cem ou mil próximas. Não importa. Alguma poderá ver.
Mas se esse animal inteligente souber controlar um dos seus instintos básicos, o "tânico" (de destruição) e direcionar a sua inteligência no rumo certo, dando vazão à sua criatividade, fatalmente será senhor de todo o Sistema Solar e alhures. É até uma questão de lógica. E de ousadia, principalmente... Mas terá que pensar grande! Terá que aspirar o que, na realidade presente, pareça (e de fato seja) impossível (ainda, talvez não sempre).
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