Pedro J. Bondaczuk
A trajetória do Paquistão, nos seus 41 anos de vida independente, confirma tudo aquilo que o “Mahatma” Gandhi dizia sobre o que iria ocorrer se muçulmanos e hinduístas, da então colônia britânica da Índia, seguissem cada qual seu próprio caminho, em países diferentes. Ambos ficariam enfraquecidos e nutririam uma rivalidade interminável um pelo outro.
Em termos institucionais, os indianos até que encontraram o seu ponto de equilíbrio. Bem ou mal, o fato é que eles jamais conheceram o dissabor de um golpe de Estado. Os paquistaneses, no entanto, estão longe, muito distantes, de poder dizer o mesmo.
Parece que pesa uma autêntica maldição sobre os seus governantes, sejam eles presidentes ou primeiros-ministros. Praticamente nenhum conseguiu, em qualquer tempo, completar seu mandato. Mesmo os que tomaram o poder a força, tiveram que sair dele através de idêntico recurso, quando não morreram no cargo.
Em 1951, por exemplo, o primeiro-ministro Liaqat Ali Khan foi assassinado. Em 1962, o presidente Iskander Mirza renunciou, para que os militares assumissem as funções governamentais. Em 1969 e em 1971, foram os generais Ayub Khan e Agha Mohammed Yahia Khan, respectivamente, que precisaram apresentar suas renúncias da presidência.
Ontem, foi a vez do general Mohammed Zia Ul-Haq, responsável pela morte na forca do ex-primeiro-ministro Zulfikar Ali Bhutto, de morrer tragicamente, com a explosão, em pleno ar, do avião em que viajava. Outro aspecto a destacar, confirmando as predições de Gandhi, é a terrível inimizade de indianos e paquistaneses, irmãos gêmeos de colonialismo e que desde 1947 se trucidam, como Caim e Abel.
Logo após a independência dos dois Estados, houve um êxodo monumental de hinduístas seguindo em direção da Índia e de muçulmanos rumando para o Paquistão. No meio do caminho, os dois grupos religiosos se cruzaram. E o que aconteceu, então, a história ainda está por contar. Houve um massacre comparável ao da atual guerra entre o Irã e o Iraque. Mais de um milhão de pessoas morreram, num brutal banho de sangue, ao qual a mídia ocidental sequer deu grande atenção.
Agora, o governo paquistanês está lançando suspeitas sobre Nova Delhi, dizendo que a queda do C-130, que matou o presidente Zia, pode ter sido um assassinato. Que o avião teria sido abatido por um míssil. Até mesmo um estado de emergência foi decretado por causa disso.
Se não se prestar atenção a esse novo foco infeccioso, Índia e Paquistão, que já travaram três guerras, podem partir para uma quarta. E justo agora, quando o mundo suspira aliviado, pelo fim da insensata chacina de oito anos na zona do Golfo Pérsico.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 18 de agosto de 1988).
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