Votação do ajuste fiscal
Pedro J. Bondaczuk
O
Congresso marcou para a próxima semana as duas votações mais importantes, na
área econômica, do atual período de convocação extraordinária: as dos projetos
de reforma fiscal e de modernização dos portos. Trata-se de temas polêmicos,
cuja discussão desapaixonada se torna muito difícil, em virtude dos interesses
antagônicos que envolvem.
Quanto
ao ajuste, repugna, a parcela considerável dos congressistas, a criação de
novos tributos, especialmente o Imposto Provisório sobre Transações
Financeiras, que vai cobrar uma taxa --- provavelmente de 0,25% --- sobre todos
os cheques emitidos e recebidos no País.
Convém
recordar como essa idéia surgiu. Nasceu do projeto do imposto único. Ou seja,
todos os cheques seriam penalizados com 1% de tributo para que o cidadão não
pagasse mais nenhuma espécie de taxa, fosse a que título fosse. Quando a
sugestão ganhou espaço na imprensa, logo vieram os chamados especialistas para
ressaltar a inviabilidade de uma decisão desse porte.
Economistas
de diversas correntes destacaram que tal idéia deu errado na Argentina e que,
portanto, não vingaria também no Brasil. Viável ou não tecnicamente, o fato é
que os dois projetos de reforma fiscal --- tanto o elaborado pelo ex-presidente
da Comissão de Valores Mobiliários, Ary Oswaldo Mattos Filho, quanto o feito
pela atual equipe econômica --- incorporaram esse imposto.
Na
proposta enviada ao Congresso pelo governo de Fernando Collor, que sequer
chegou a ser apreciada ou levada a séerio, o tributo não teria caráter
transitório e atingiria também as cadernetas de poupança. Discutiu-se,
debateu-se, organizaram-se simpósios, seminários, conferências, etc., e não se
saiu do lugar. Tudo continuou como sempre esteve. Agora, pelo menos, o imposto seria
provisório.
O
sistema tributário nacional, da forma em que está atualmente, é
discriminatório, altissimamente burocratizado e de uma ineficiência a toda a
prova. Caso contrário, o nível de sonegação jamais chegaria aos atuais. A
própria Receita Federal admitiu que para cada cruzeiro arrecadado, outro é
sonegado. Portanto, é evidente a necessidade da mudança, tanto no elenco de
tributos existentes, em quantidade exorbitante, quanto na forma de
recolhimento, na fiscalização e principalmente na sua destinação.
Teme-se,
todavia, que o projeto que está tramitando no Congresso, elaborado em menos de
um mês, a toque de caixa, pela equipe de Itamar Franco, seja mais uma investida
no bolso do contribuinte e apenas isso. É inegável que o governo precisa de
dinheiro para poder exercer suas funções. Mas não haveria outro expediente, que
não fosse a criação de mais tributos, não importa que nomes tenham, para
atazanar a vida de quem já anda tão atribulado com o monstro voraz da inflação?
Quanto
ao projeto de modernização dos portos, a quebra do monopólio da mão de obra
avulsa é o pomo da discórdia. Aliás, todos devemos nos opor e combater
quaisquer favorecimentos, sejam a que títulos e pessoas forem. Só que é preciso
agir com cautela. Os senadores, em cujas mãos está a aprovação ou não do
projeto, devem estar atentos a um ponto: não retirar um monopólio,
estabelecendo outro. Por que determinada categoria pode gozar privilégios que
as demais não têm?
(Artigo publicado na página 2, Opinião,
do Correio Popular, em 17 de janeiro de 1993).
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