Individualismo e razão
Pedro J. Bondaczuk
O valor do ser humano não
está em sua força, em sua riqueza, em seu ridículo e limitado poder ou na
eventual beleza física que possua, embora sejam estas as suas características
mais enfatizadas. Tudo isso é ilusório, passageiro, efêmero, como ele próprio o
é.
O
que somos, enquanto indivíduos, diante da imensidão universal? Um nada, de
ínfimo tamanho, menos, até, do que uma simples célula é em relação ao conjunto
do nosso organismo.
A
observação do último eclipse solar do milênio passado visível no País – o
próximo vai poder ser visto por aqui apenas em 2046 – suscitou-me uma série de
reflexões sobre este mistério que é o universo, e a pequenez do homem, este
poço de arrogância e de inconseqüência, que sequer se dá conta da sua finitude.
O ser humano apenas adquire grandeza quando empresta à sua vida um sentido
altruísta, comunitário, de solidariedade e de integração.
Em
toda a minha vida (que ascende a sete décadas) só testemunhei dois eclipses
solares. O fenômeno é assustador. Ou seja, não é normal subitamente se fazer
“noite” em pleno meio-dia. Por isso, não me admira que no passado nem tão
remoto esse fenômeno despertasse tanto terror nas pessoas. Caso não tivesse os
conhecimentos que tenho, também ficaria aterrorizado.
Há
uma característica, passiva de cultivo, que permitiu que o “homo sapiens”
deixasse as cavernas, aprendesse a domar a natureza a seu favor (criando a
agricultura, por exemplo), adquirisse noção do local em que vive, se
aventurasse a entender e explicar a imensidão do cosmos, com sua multiplicidade
de mundos e tentasse ampliar seu raio de ação: a razão.
Dela
derivaram a ética, as ciências, o senso estético e o direito, entre outros.
Este foi o seu grande salto qualitativo, enquanto espécie, em relação aos
demais animais. É o que merece ser cultivado e transmitido, geração após
geração, numa corrente contínua e sem fim, da qual cada um de nós, enquanto
indivíduos, não somos mais do que simples elos.
A
corrida desesperada e insensata por bens materiais – que se convencionou chamar
de “riqueza” – ou pelo “poder”, que nada pode, já que é incapaz de nos livrar
da morte, não resiste à mais simples análise. Trata-se de enorme perda de tempo
e de energia.
Desvia-nos
do nosso verdadeiro papel na vida: o de agentes da preservação e da evolução da
espécie. Nada, portanto, é mais ilógico e irracional do que o egoísmo. Nada é
mais sem sentido do que ajuntar bens, que no final das contas não nos pertencem
de fato, mas sobre os quais temos somente posse transitória.
O
homem depende de forças cósmicas descomunais para viver. A simples colisão de
um corpo celeste qualquer (como o cometa Shoemacker-Levy, por exemplo, que se
chocou com Júpiter em julho de 1994), caso se chocasse com a Terra, acabaria
com a vida, em questão de horas, neste planetazinho turbulento e
insignificante.
É
a razão que dá grandeza ao ser humano e o aproxima da divindade. O jornalista
Mauro Santayana escreveu, a esse propósito, em artigo que publicou no Jornal da
Tarde em 19 de março de 1993:
“Ainda
em sua primeira manhã cósmica, o homem deve ter descoberto o vago sentimento de
orgulho que um dia se chamaria dignidade, associando-o à força de seus músculos
na caça e na delimitação de um território seu e de sua família. Trabalho,
propriedade, abrigo, família, são bens indispensáveis àquele sentimento de
orgulho de viver, de ser portador do mistério da identidade, de separar-se, com
sua carne e sua inteligência, do resto das coisas do mundo...”
O
indivíduo somente consegue sua plena realização quando age no sentido de
promover a evolução da espécie. Tudo o mais, é mero desperdício de vida.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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