Thursday, April 25, 2013


Individualismo e razão


Pedro J. Bondaczuk

O valor do ser humano não está em sua força, em sua riqueza, em seu ridículo e limitado poder ou na eventual beleza física que possua, embora sejam estas as suas características mais enfatizadas. Tudo isso é ilusório, passageiro, efêmero, como ele próprio o é.

O que somos, enquanto indivíduos, diante da imensidão universal? Um nada, de ínfimo tamanho, menos, até, do que uma simples célula é em relação ao conjunto do nosso organismo.

A observação do último eclipse solar do milênio passado visível no País – o próximo vai poder ser visto por aqui apenas em 2046 – suscitou-me uma série de reflexões sobre este mistério que é o universo, e a pequenez do homem, este poço de arrogância e de inconseqüência, que sequer se dá conta da sua finitude. O ser humano apenas adquire grandeza quando empresta à sua vida um sentido altruísta, comunitário, de solidariedade e de integração.

Em toda a minha vida (que ascende a sete décadas) só testemunhei dois eclipses solares. O fenômeno é assustador. Ou seja, não é normal subitamente se fazer “noite” em pleno meio-dia. Por isso, não me admira que no passado nem tão remoto esse fenômeno despertasse tanto terror nas pessoas. Caso não tivesse os conhecimentos que tenho, também ficaria aterrorizado.

Há uma característica, passiva de cultivo, que permitiu que o “homo sapiens” deixasse as cavernas, aprendesse a domar a natureza a seu favor (criando a agricultura, por exemplo), adquirisse noção do local em que vive, se aventurasse a entender e explicar a imensidão do cosmos, com sua multiplicidade de mundos e tentasse ampliar seu raio de ação: a razão.

Dela derivaram a ética, as ciências, o senso estético e o direito, entre outros. Este foi o seu grande salto qualitativo, enquanto espécie, em relação aos demais animais. É o que merece ser cultivado e transmitido, geração após geração, numa corrente contínua e sem fim, da qual cada um de nós, enquanto indivíduos, não somos mais do que simples elos.

A corrida desesperada e insensata por bens materiais – que se convencionou chamar de “riqueza” – ou pelo “poder”, que nada pode, já que é incapaz de nos livrar da morte, não resiste à mais simples análise. Trata-se de enorme perda de tempo e de energia.

Desvia-nos do nosso verdadeiro papel na vida: o de agentes da preservação e da evolução da espécie. Nada, portanto, é mais ilógico e irracional do que o egoísmo. Nada é mais sem sentido do que ajuntar bens, que no final das contas não nos pertencem de fato, mas sobre os quais temos somente posse transitória.

O homem depende de forças cósmicas descomunais para viver. A simples colisão de um corpo celeste qualquer (como o cometa Shoemacker-Levy, por exemplo, que se chocou com Júpiter em julho de 1994), caso se chocasse com a Terra, acabaria com a vida, em questão de horas, neste planetazinho turbulento e insignificante.

É a razão que dá grandeza ao ser humano e o aproxima da divindade. O jornalista Mauro Santayana escreveu, a esse propósito, em artigo que publicou no Jornal da Tarde em 19 de março de 1993:

“Ainda em sua primeira manhã cósmica, o homem deve ter descoberto o vago sentimento de orgulho que um dia se chamaria dignidade, associando-o à força de seus músculos na caça e na delimitação de um território seu e de sua família. Trabalho, propriedade, abrigo, família, são bens indispensáveis àquele sentimento de orgulho de viver, de ser portador do mistério da identidade, de separar-se, com sua carne e sua inteligência, do resto das coisas do mundo...”

O indivíduo somente consegue sua plena realização quando age no sentido de promover a evolução da espécie. Tudo o mais, é mero desperdício de vida.

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