Thursday, April 11, 2013


Pontes

Pedro J. Bondaczuk

Minha vida tem sido uma busca
por justiça e pela criação
de liames, de pontes concretas
que liguem o real ao ideal.

Constante pesquisa do que sou,
de olho no que possa vir a ser,
sem pensar no que esperam de mim.

Muitas vezes perco-me em vazios,
fico sem ter referenciais
e ao tentar livrar-me do atoleiro
vacilo e atolo-me mais e mais.

Sob os pés que trilham este trecho
esquecido e singular do tempo,
abrem-se fundas, famintas valas,
perdem-se esperanças e crenças.

Mas volto a lançar pontes de barro,
renovo com freqüência o alento
e, munido de exemplar paciência,
disponho-me a recomeçar.

E os dias, com suas circunstâncias,
macetes e peculiaridades,
as horas, passageiras fugazes,
as muitas ausências e distâncias,
são valas escuras e profundas,
famintas, insaciáveis gargantas.
Hienas famélicas e vorazes,
encurvadas, sempre a gargalhar
dos meus tolos sonhos infantis:
devoram toda e cada esperança
nova. Forçam a me renovar.

Não houvesse você, alma gêmea,
que partilha ilusão e a vida,
sonhos, sorte, azar e destino,
fé e tudo o quanto ainda sou;
não houvesse você, companheira,
que segue através do meu caminho
repisando os rastros dos meus passos,
e jamais eu lançaria pontes
sobre abismos e valas profundos
e ao invés de apenas meus desejos
eles destruiriam meu ser.

Vem para meus braços, doce amada.
Sinta...Sinta o mudo desespero
que vibra na fragílima carne.
Sinta...Sinta na sua estrutura
minha virilidade, euforia,
meu carnal e instintivo amor.
Acolhe neste seu ventre fértil
sementes sagradas do amanhã.
Faça gerar em suas entranhas,
para lançar sobre o fundo abismo
a nossa concretíssima ponte
entre o efêmero humano e Deus.

(Poema composto em Campinas em 5 de abril de 1971)

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk



  

No comments: