Tuesday, April 09, 2013


Luz de esperança para um povo desencantado


Pedro J. Bondaczuk

A guerra civil salvadorenha, iniciada em 1979, pouco depois do chamado “golpe dos coronéis”, que apeou do poder o general Carlos Romero, “nomeado” para o cargo em 1977, já fez estragos inomináveis àquela populosa (e pobre) sociedade nacional centro-americana. Nem tanto de ordem econômica, já que, nesse aspecto, os EUA vêm dando seguidas ajudas à sua combalida economia, com fortes injeções de dólares. Mas pela desesperança a que a população foi levada, tendo que conviver com a violência diária, vinda de três lados.

De um, o Exército nacional, apoiado por Washington, mas que se tem mostrado incompetente paras conter tanto a esquerda, quanto a direita, em suas ações homicidas. De outro, os terríveis esquadrões da morte direitistas, responsáveis por assassinatos descabidos e intoleráveis, mesmo em se levando em conta o desenvolvimento de uma guerra civil. E, finalmente, no outro extremo, os duros golpes da guerrilha, hostilizando os cidadãos, e que é, certamente, treinada e municiada por Cuba, com as bênçãos de Moscou.
Por essa razão, os dois últimos acontecimentos envolvendo El Salvador surpreenderam a comunidade de nações. Quando, anteontem, o presidente salvadorenho, da tribuna da Assembléia Geral da ONU, acenou com uma proposta de negociação com os rebeldes, ele não chegou a ser levado muito a sério, inclusive por muitos editores de jornais e noticiários de rádio e de televisão, acostumados com excessos de retórica e pouca ação prática nesse assunto em particular.

Mas para surpresa geral, a dramática oferta de José Napoleón Duarte acabou tendo boa acolhida entre os grupos guerrilheiros. E tanto a Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional, braço armado dos rebeldes, quanto a Frente Democrática Revolucionária, sua seção política, resolveram topar a parada e encontrar-se com o presidente salvadorenho em seu terreno de guerrilha, na próxima segunda-feira, dia 15 de outubro.

Uma pacificação em El Salvador, neste delicado momento porque passa o continente, cairia, verdadeiramente, do céu, já que nem o mais otimista dos otimistas esperava que isso viesse a acontecer. Não, pelo menos, através da via do diálogo.

Ela neutralizaria os demais grupos radicais que atuam na América Central, que ficariam inibidos de agir por perderem seu principal suporte: a existência de algum mártir. Esse processo, se conduzido a contento, pode influir na eleição nicaragüense, do próximo dia 4 de novembro, fazendo com que a votação transcorra com a lisura que poucos acreditam, mas que todos deseja que se desenvolva.

Enfim, seria um instante de “ufa!”, de alívio das tensões para o continente. E, acima de tudo, um benfazejo presente ao presidente norte-americano, Ronald Reagan, nesse instante em que seu favoritismo começa a balançar perigosamente, soprado pelos ventos da surpreendente arrancada final de Walter Mondale que, dessa forma, teria uma pedrinha a menos em seus sapatos, em termos de política externa.

É claro que ainda é muito cedo para se cantar vitória. Os processos de pacificação são infinitamente mais árduos e complicados do que a deflagração de conflitos. Que o digam os libaneses, que querem, mas não sabem, sair do “imbróglio” em que se meteram com a guerra civil iniciada em 1975.

Eles não conseguem achar a fórmula milagrosa e ideal para colocar um fim às lutas. Mas os dois primeiros passos, para os salvadorenhos, foram dados. O resto é confiar na inteligência e tirocínio de homens que, certamente, não querem ver seu país ainda mais mutilado do que ele já está.    

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 10 de outubro de 1984)

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