Luz
de esperança para um povo desencantado
Pedro J. Bondaczuk
A guerra civil salvadorenha, iniciada em 1979, pouco
depois do chamado “golpe dos coronéis”, que apeou do poder o general Carlos
Romero, “nomeado” para o cargo em 1977, já fez estragos inomináveis àquela
populosa (e pobre) sociedade nacional centro-americana. Nem tanto de ordem
econômica, já que, nesse aspecto, os EUA vêm dando seguidas ajudas à sua
combalida economia, com fortes injeções de dólares. Mas pela desesperança a que
a população foi levada, tendo que conviver com a violência diária, vinda de
três lados.
De um, o Exército nacional, apoiado por Washington,
mas que se tem mostrado incompetente paras conter tanto a esquerda, quanto a
direita, em suas ações homicidas. De outro, os terríveis esquadrões da morte
direitistas, responsáveis por assassinatos descabidos e intoleráveis, mesmo em
se levando em conta o desenvolvimento de uma guerra civil. E, finalmente, no
outro extremo, os duros golpes da guerrilha, hostilizando os cidadãos, e que é,
certamente, treinada e municiada por Cuba, com as bênçãos de Moscou.
Por essa razão, os dois últimos acontecimentos
envolvendo El Salvador surpreenderam a comunidade de nações. Quando, anteontem,
o presidente salvadorenho, da tribuna da Assembléia Geral da ONU, acenou com
uma proposta de negociação com os rebeldes, ele não chegou a ser levado muito a
sério, inclusive por muitos editores de jornais e noticiários de rádio e de
televisão, acostumados com excessos de retórica e pouca ação prática nesse assunto
em particular.
Mas para surpresa geral, a dramática oferta de José
Napoleón Duarte acabou tendo boa acolhida entre os grupos guerrilheiros. E
tanto a Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional, braço armado dos
rebeldes, quanto a Frente Democrática Revolucionária, sua seção política,
resolveram topar a parada e encontrar-se com o presidente salvadorenho em seu
terreno de guerrilha, na próxima segunda-feira, dia 15 de outubro.
Uma pacificação em El Salvador, neste delicado
momento porque passa o continente, cairia, verdadeiramente, do céu, já que nem
o mais otimista dos otimistas esperava que isso viesse a acontecer. Não, pelo
menos, através da via do diálogo.
Ela neutralizaria os demais grupos radicais que
atuam na América Central, que ficariam inibidos de agir por perderem seu
principal suporte: a existência de algum mártir. Esse processo, se conduzido a
contento, pode influir na eleição nicaragüense, do próximo dia 4 de novembro,
fazendo com que a votação transcorra com a lisura que poucos acreditam, mas que
todos deseja que se desenvolva.
Enfim, seria um instante de “ufa!”, de alívio das
tensões para o continente. E, acima de tudo, um benfazejo presente ao
presidente norte-americano, Ronald Reagan, nesse instante em que seu
favoritismo começa a balançar perigosamente, soprado pelos ventos da
surpreendente arrancada final de Walter Mondale que, dessa forma, teria uma
pedrinha a menos em seus sapatos, em termos de política externa.
É claro que ainda é muito cedo para se cantar
vitória. Os processos de pacificação são infinitamente mais árduos e
complicados do que a deflagração de conflitos. Que o digam os libaneses, que
querem, mas não sabem, sair do “imbróglio” em que se meteram com a guerra civil
iniciada em 1975.
Eles não conseguem achar a fórmula milagrosa e ideal
para colocar um fim às lutas. Mas os dois primeiros passos, para os
salvadorenhos, foram dados. O resto é confiar na inteligência e tirocínio de
homens que, certamente, não querem ver seu país ainda mais mutilado do que ele
já está.
(Artigo
publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 10 de outubro de
1984)
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