Recomendação com base
na própria experiência
Pedro
J. Bondaczuk
O escritor, para não se
dar mal, deve escrever, sempre, sobre o que sabe. Parece afirmação óbvia,
acaciana até, mas nem todos seguem essa regrinha de bom senso. Há quem goste de
determinado assunto, mas, por alguma razão (geralmente por escassez de fontes
ou por falta de tempo) não o domine completamente. Dado esse gosto, aventura-se
a escrever a propósito e acaba cometendo impropriedades que lhe trazem
chateações que poderia evitar. Isso é muito comum de acontecer.
No meu caso, sempre que
premido por compromissos que me impeçam de pesquisar determinados temas
complexos, fujo deles. Ou adio sua abordagem para quando dispuser de condições
de inteirar-me por completo a propósito. Todavia, comprometi-me com os leitores
deste espaço a redigir, diariamente, um ou mais textos, sem falhar um único
dia.
Além de não dispor de
tempo para pesquisar determinados assuntos, não conto com ninguém que possa ler
o que escrevo e opinar a respeito, antes que divulgue a produção diária. Até a
revisão tem que ser feita às pressas, em questão de minutos. Fico sujeito,
pois, dada a urgência com que sou forçado a trabalhar, a erros, inclusive os
que mais me aborrecem quando escapam: os de linguagem, muitas vezes apenas de
digitação, mas não importa. Comprometem a qualidade e ferem meu orgulho de
perfeccionista.
Para prevenir falhas,
pelo menos as que considero mais graves, que são as de conceito e de
informação, recorro a uma estratégia até lógica e que funciona: escrevo sobre o
que conheço (ou julgo conhecer, porquanto não há esse gênio que saiba tudo de
tudo): Literatura. Neste espaço, isso é até óbvio de acontecer, pois ele é
destinado especificamente a essa disciplina. Porém, quando me sinto inseguro a
propósito de qualquer tema, adoto o mesmo procedimento em outras tantas mídias
em que participo. Escrevo, também, sobre o que sei e que gosto: Literatura.
Quem é colunista fixo
deste espaço, ou de outro qualquer – quer em jornais e revistas, quer na
internet – sabe da dificuldade, que muitas vezes vira drama, que é cumprir o
compromisso assumido, geralmente semanal, sem falhar uma única vez. Há dias em
que acordamos indispostos e que, por mais que tentemos, não conseguimos
produzir nenhum texto interessante e, não raro, sequer correto.
Também tenho esses
“surtos” de rigorosa falta de criatividade e me aflijo com eles. Mas sou
teimoso. Não abro mão de cumprir rigorosamente o compromisso assumido nem
nessas ocasiões aflitivas. Poderia falhar e inventar um pretexto qualquer que
não haveria problema. Ninguém, certamente, iria me reprovar ou até mesmo
cobrar. Eu, todavia, não me perdoaria por isso.
Nessas ocasiões (mais
freqüentes do que o leitor possa desconfiar) é que recorro ao bom senso e
escrevo sobre o que sei e o que amo fazer: Literatura. Não me livro, óbvio, do
risco de errar. Reduzo, todavia, a margem de erro ao mínimo tolerável e, não
raro, também, até consigo eliminá-la.
A correção, porém,
embora principal fator a ser considerado por um redator consciente e aplicado,
não é a única preocupação que o atormenta. Há muitos outros aspectos que tem
que considerar na produção de seus textos, como utilidade (servem para o quê?),
originalidade (é preciso fugir do lugar comum) e, principalmente, atratividade.
O que se escreve, não
importa se crônica, ensaio, conto etc., tem que atrair leitura para não ser
“feto natimorto”. De que me adianta produzir a melhor redação do mundo se ela
não tiver nem mesmo um único e reles leitor? Não passará de absoluta perda de
tempo. Poderia, nesse caso, aproveitá-lo melhor com uma boa leitura, uma boa
música ou simplesmente com uma caminhada atenta, mas tranqüila, observando tudo
com o que me deparar no trajeto.
Entre os temas
literários que tenho maior probabilidade de desenvolver, atendendo a todos os
fatores de qualidade que adoto como norma – ou seja, correção, utilidade,
originalidade e atratividade – um se destaca e sobressai sobre os demais:
poesia.
Desde tenra idade,
coisa de oito ou nove anos, habituei-me a ler os bons poetas, exercício do qual
nunca abri mão ao longo já de seis décadas. Não somente leio, como releio seus
livros vezes sem conta (alguns, tanto, que chego a decorar a maioria dos poemas
neles contidos e não por eventualmente contar com boa memória, mas pela
repetição da leitura).
É por isso que a
maioria do que escrevo para este espaço – e já foram mais de mil produções
literárias apresentadas aqui, para o seu julgamento, paciente leitor – tem
sempre algo a ver com poesia. Essa assiduidade temática tende a produzir duas
conseqüências principais, uma boa e outra ruim.
A positiva é que, caso
meus textos sejam atrativos, eles podem fazer muita gente que não gostava do
gênero, passar a apreciá-lo, levando-a a adquirir (e a ler) muitos livros dos
bons poetas. A negativa, curiosamente, talvez ocorra pela mesma razão. Ou seja,
pode levar muitos que gostavam de poesia a passar a detestá-la de tanto eu
bater nessa tecla. Em outras palavras, é possível que enjoem de “mais do
mesmo”. Não acredito, porém, nesta hipótese, embora não a descarte
liminarmente. Estou disposto a correr o risco.
E por que escrevi tudo
isso, essa longa lenga lenga (espero que não enfadonha), essa extensa confissão
pessoal de um redator volta e meia atormentado pelo problema de “o que
escrever”? Asseguro-lhe que não foi por enrolação e nem para justificar
eventuais falhas. Foi, somente, para alertá-lo, amigo escritor que me dá a
honra de freqüentar este espaço, para que não caia na tentação de escrever
sobre o que você não domine por completo. Como vê, é um perigo para a sua
reputação.
E por que um texto tão
extenso a propósito quando poderia fazer o mesmo alerta em menos de um
parágrafo? Bem, isso se deve ao costume deste esforçado redator de, parodiando
aquele humorista de televisão, deixar as coisas sempre “bem explicadinhas”.
Mesmo que para isso incorra em exagero.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment