Campo minado da economia
espanhola
Pedro J. Bondaczuk
O
Partido Socialista Operário Espanhol, do primeiro-ministro Felipe Gonzalez,
obteve, nas eleições de anteontem, uma vitória tranqüila, límpida e cristalina,
ao conservar sua maioria absoluta nas Cortes, que é como se denomina o
Parlamento na Espanha. O fato do PSOE ter perdido 18 cadeiras não pode, em
absoluto, ser considerado uma derrota, já que a agremiação contrariou,
inclusive, as pesquisas de opinião, que apontavam uma possibilidade dela não conseguir
a metade mais um dos assentos necessários para formar o próximo gabinete e ter
que se coligar se quisesse se manter no poder. Isso não aconteceu e para nós,
que no sábado havíamos feito previsão quanto ao seu sucesso, o fato não se
constituiu em nenhuma surpresa.
Para
esse hábil político, que agora conquista mais quatro anos para implantar seus
arrojados projetos sociais e se firma como a liderança predominante na Espanha,
só faltou mesmo o selecionado de futebol do seu país ter sido um pouco mais
feliz, no seu confronto com a Bélgica, nos gramados mexicanos. Mas bem que não
lhe faltou garra, merecendo plenamente o apelido que ostenta de
"Fúria". Careceu de sorte, a mesma que acompanha Felipe Gonzalez em
sua brilhante trajetória pelo cenário da jovem e vigorosa democracia espanhola.
É
claro que nem tudo será, doravante, um "mar de rosas" para o premier,
neste seu segundo mandato à frente do gabinete. Como nunca foi, por sinal. Ele
tem dois problemas primordiais pela frente, na difícil área econômica: o
desemprego, um dos mais altos da Europa, beirando a casa dos 22% e a inflação,
que em maio registrou a terceira maior taxa da Comunidade Econômica Européia,
com seus 7,8%, ficando, nesse
particular, abaixo somente da Grécia (24,5%) e de Portugal (11,5%).
Todavia,
a situação, nesse autêntico campo minado, agora que a Espanha integra a CEE,
está muito melhor do que em 1985. E diversos fatores favoráveis fazem prever
anos de acelerado crescimento, principalmente após a legislação espanhola estar
totalmente adaptada às normas do mercado comum e o país poder colher os
primeiros frutos do seu ingresso nessa seleta associação.
A
baixa nos preços do petróleo no mercado internacional, por exemplo, é um dos
fatores favoráveis à sua economia. Aliás, esse benefício já está sendo
repassado à população, com a diminuição dos custos dos combustíveis e de outros
derivados dessa matéria-prima, cada dia mais nobre.
Se
é verdade que nem assim a inflação baixou para um patamar mais cômodo, ou pelo
menos mais próximo de seus prósperos parceiros, a tendência manifestada não é
mais a de alta. Portanto, as dificuldades nesse setor, se não foram
equacionadas, caminham para isso, podendo aumentar o grau de aceitação popular
do governo.
A
perda de 18 cadeiras não significa grande coisa na atual conjuntura espanhola.
Nem o mais otimista dos socialistas acreditava, seriamente, numa performance
eleitoral melhor do que de fato se registrou. O ceticismo devia-se a uma série
de fatores.
Em
primeiro lugar, porque há quatro anos as propostas do partido soavam como
novidade e aquilo que é novo costuma fascinar determinados tipos de eleitores.
Só por isso, conquistou 202 cadeiras. Em segundo, em virtude de algumas
divisões no PSOE, cuja ala dissidente acabou punida nas urnas. E, finalmente,
por causa de uma campanha mais agressiva do ex-premier Adolfo Suarez, que
recuperou parte do desastre que foi para o seu Centro Democrático e Social o
pleito de outubro de 1982, quando logrou apenas duas únicas vagas no
Parlamento.
Desta
feita, conseguiu 17 a mais, readquirindo um certo peso na política espanhola.
Por todas essas razões, os socialistas só têm que comemorar essa vitória ditada
pelo talento de estrategista de seu líder Felipe Gonzalez.
(Artigo publicado na página 10,
Internacional, do Correio Popular, em 24 de junho de 1986)
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