Uma dinastia pode
estar se encerrando
Pedro J.
Bondaczuk
A maior democracia do mundo, com praticamente meio bilhão
de eleitores (cerca de 498 milhões), que é a Índia, vai exercer, a partir de
hoje, a principal, fundamental prerrogativa democrática, que é o direito de
voto.
Os indianos vão às urnas numa
eleição considerada crucial, não somente para o neto de um dos “pais” desse
Estado multiétnico, o primeiro-ministro Rajiv Gandhi, mas para a própria
estabilidade nacional.
O filho de Indira, eleito em 1984
na base do voto emocional (já que menos de um mês antes do pleito, a
controvertida e carismática premier havia sido assassinada por dois de seus
guarda-costas “sikhs”), não demonstrou, pelo menos no plano interno, grande
capacidade de liderança. Seu governo foi todo ele marcado por acusações de
corrupção, cuja veracidade nunca foi apurada com exatidão.
Caso as pesquisas de opinião, que
falam da derrota do Partido do Congresso, estejam certas, uma dinastia
autêntica, que nos últimos anos pontilhou na política da Índia, pode estar
passando definitivamente para a história. O seu iniciador, Jawaharlal Nehru,
foi peça fundamental no processo de independência indiana.
Ele foi, não somente amigo
pessoal, mas sobretudo discípulo da “alma”da nação (grande como dizia seu
apelido “Mahatma”), Mohandas Karamanchand Gandhi. A amizade que uniu esses dois
homens notáveis, hoje verdadeiros mitos, foi tamanha, que levou o primeiro
chefe de governo do país a adotar o sobrenome do seu mestre.
Sua filha Indira passou a chamar-se
também Gandhi, herança que passou a seus filhos Sanjai (herdeiro presuntivo da
falecida primeira-ministra e que morreu antes dela num acidente) e Rajiv, que
assim que substituiu a mãe confessou que não tinha gosto algum pela política,
já que era aviador.
O mais provável, de acordo com
analistas em Nova Delhi, no entanto, é que as urnas coloquem essa atormentada
sociedade nacional, que desde a independência ainda não logrou a total
estabilidade, num impasse.
Dificilmente algum dos partidos
irá obter a maioria absoluta, que lhe permita formar sozinho o novo gabinete.
Neste caso, podem ocorrer duas coisas. Ou a formação de um governo de coalizão,
que não teria nenhuma garantia de sucesso, dadas as contradições existentes
entre as diversas facções políticas. Ou, o que é mais previsível, a convocação
de novas eleições, que ponham fim ao impasse, semelhante ao vivido em
praticamente todo este ano por um outro país: a Grécia.
De qualquer forma, cabe o
registro de um pleito dessa envergadura que, somente em números eleitorais, vai
congregar nas urnas um número equivalente de pessoas que corresponde às
populações totais das duas superpotências somadas. Será democracia em dose
gigante, sem dúvida.
(Artigo publicado na página 12,
Internacional, do Correio Popular, em 22 de novembro de 1989).
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