Saturday, April 27, 2013


Uma dinastia pode estar se encerrando


Pedro J. Bondaczuk


A maior democracia do mundo, com praticamente meio bilhão de eleitores (cerca de 498 milhões), que é a Índia, vai exercer, a partir de hoje, a principal, fundamental prerrogativa democrática, que é o direito de voto.

Os indianos vão às urnas numa eleição considerada crucial, não somente para o neto de um dos “pais” desse Estado multiétnico, o primeiro-ministro Rajiv Gandhi, mas para a própria estabilidade nacional.

O filho de Indira, eleito em 1984 na base do voto emocional (já que menos de um mês antes do pleito, a controvertida e carismática premier havia sido assassinada por dois de seus guarda-costas “sikhs”), não demonstrou, pelo menos no plano interno, grande capacidade de liderança. Seu governo foi todo ele marcado por acusações de corrupção, cuja veracidade nunca foi apurada com exatidão.

Caso as pesquisas de opinião, que falam da derrota do Partido do Congresso, estejam certas, uma dinastia autêntica, que nos últimos anos pontilhou na política da Índia, pode estar passando definitivamente para a história. O seu iniciador, Jawaharlal Nehru, foi peça fundamental no processo de independência indiana.

Ele foi, não somente amigo pessoal, mas sobretudo discípulo da “alma”da nação (grande como dizia seu apelido “Mahatma”), Mohandas Karamanchand Gandhi. A amizade que uniu esses dois homens notáveis, hoje verdadeiros mitos, foi tamanha, que levou o primeiro chefe de governo do país a adotar o sobrenome do seu mestre.

Sua filha Indira passou a chamar-se também Gandhi, herança que passou a seus filhos Sanjai (herdeiro presuntivo da falecida primeira-ministra e que morreu antes dela num acidente) e Rajiv, que assim que substituiu a mãe confessou que não tinha gosto algum pela política, já que era aviador.

O mais provável, de acordo com analistas em Nova Delhi, no entanto, é que as urnas coloquem essa atormentada sociedade nacional, que desde a independência ainda não logrou a total estabilidade, num impasse.

Dificilmente algum dos partidos irá obter a maioria absoluta, que lhe permita formar sozinho o novo gabinete. Neste caso, podem ocorrer duas coisas. Ou a formação de um governo de coalizão, que não teria nenhuma garantia de sucesso, dadas as contradições existentes entre as diversas facções políticas. Ou, o que é mais previsível, a convocação de novas eleições, que ponham fim ao impasse, semelhante ao vivido em praticamente todo este ano por um outro país: a Grécia.

De qualquer forma, cabe o registro de um pleito dessa envergadura que, somente em números eleitorais, vai congregar nas urnas um número equivalente de pessoas que corresponde às populações totais das duas superpotências somadas. Será democracia em dose gigante, sem dúvida.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 22 de novembro de 1989).

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