Posição iraniana é ambígua
O
presidente Saddam Hussein, na entrevista exclusiva que concedeu ao repórter
Peter Arnett, da rede de televisão norte-americana CNN na segunda-feira, num de
seus “bunkers” secretos nos arredores de Bagdá, insinuou que o pouso de suas
aeronaves em solo iraniano foi uma ajuda providencial do seu inimigo de ontem.
O
líder iraquiano chegou a insinuar que os ressentimentos deixados pela guerra
não extinguiram o espírito de solidariedade entre duas comunidades muçulmanas.
Fica, porém, a pergunta no ar: o Irã está ou não neutro nesta guerra? Caso os
aviões tenham pousado em seu território sem a autorização das autoridades
iranianas e estas cumpram a promessa de sua retenção até o final do conflito,
nem assim o episódio ficará de todo explicado.
Por
que os caças e bombardeiros não pousaram, por exemplo, na Jordânia? O jornal
“Times”, de Londres, que circulou ontem, levantou a tese de fuga de pilotos com
suas respectivas aeronaves. Disse, baseado em fontes do serviço secreto inglês,
que o fato pode ter ligação com uma suposta conspiração fracassada para
assassinar Saddam Hussein.
Se
a versão tem fundamento, por que somente os aviões mais modernos e caros foram
buscar refúgio no Irã? O “The New York Times”, por sua vez, expressa
desconfiança quanto à propalada neutralidade da República Islâmica. Aliás, esta
nem seria a primeira vez na história em que dois adversários declarados se
uniriam para combater o inimigo comum.
Recorde-se
que durante a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética, ao menos
ideologicamente, era ferrenha antagonista dos Estados Unidos. Todavia, as
circunstâncias do conflito fizeram com que as duas superpotências atuais se
aliassem para pôr fim ao perigo que Adolf Hitler representava para a ordem
mundial que se pretendia estabelecer.
É
verdade que os dois gigantes militares não haviam guerreado entre si. Mas a
história registra muitas outras alianças que antes de serem feitas eram
consideradas impossíveis e que acabaram ocorrendo. Portanto, não será nenhuma
surpresa se iranianos e iraquianos, a despeito de ressentimentos mútuos,
dependendo do curso da guerra, vierem a lutar lado a lado na mesma trincheira,
contra as forças multinacionais.
(Artigo publicado na página 14, “A
Guerra no Golfo”, do Correio Popular, em 31 de janeiro de 1991).
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