Monday, April 29, 2013


Coração solitário

Pedro J. Bondaczuk 

Estas coloridas pétalas
esparzidas pelo chão,
o inebriante perfume
e este irreal clarão
(brilhante, potente luz
que revelam meu mundo)
buscam eliminar a tristeza
e o acre cheiro de bolor,
dissipar a atroz treva
e tornar menos precário
o estado tão lamentável
deste meu temerário
e imprudente coração,
que vive tão solitário.

Meus versos forçados, vazios,
vazias canções arrítmicas,
o vazio na minha alma,
o vazio no meu mundo,
o vazio em minha vida,
o vazio em meu temário,
revelam o vazio existente
no meu coração solitário.

O Amor, que busco nas formas,
o Amor, essência da vida,
o Amor que trago nos olhos,
o Amor que insinuo no corpo,
o Amor que revelo nas mãos,
o Amor que cedo, por amor,
Amor trocado em Amor,
Amor que dou, não empresto,
de nada me tem valido.
O Amor é um grande falsário!

Embora distribuindo Amor,
sendo, até mesmo, perdulário,
não passo de poeta falido
e de coração solitário.

Meus instantes de tédio,
minha cisma e vagar,
as estrelas, que são minhas
em todas noites de luar,
formam, apenas, o corolário
de cismas e inquietações
que se resumem em penas,
de queixas, extenso rosário,
e insatisfação contínua
de um coração solitário.

(Poema composto em Campinas, em 24 de novembro de 1968).

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