Sunday, April 28, 2013


Momento de distensão

Pedro J. Bondaczuk

As relações entre os Estados Unidos e o Irã entraram, desde a eleição, no ano passado, do moderado Mohammed Khatami para a presidência iraniana, em seu momento mais favorável desde 1979. Naquele ano, o aiatolá Ruhollah Khomeini retornou do exílio na França, expulsou o xá Mohammed Rheza Pahlevi do poder e implantou uma República Islâmica no país, para substituir a monarquia deposta.

O monarca fugitivo, que estava com câncer avançado, foi acolhido primeiramente no Egito. No entanto, em maio de 1979, os Estados Unidos acolheram-no, em um hospital de Nova York, para tratamento médico. Tal fato causou profunda irritação nos xiitas iranianos. Em 4 de novembro de 1979, em represália a esse gesto humanitário, um grupo de estudantes islâmicos ocupou a embaixada norte-americana em Teerã, fazendo mais de 70 reféns. Aos poucos, os cativos foram sendo libertados, até que restassem 53, que ficaram retidos durante 444 dias.

O presidente dos EUA da época, Jimmy Carter, planejou uma operação militar de resgate. Foi um fiasco. Aviões e helicópteros norte-americanos não conseguiram decolar do deserto salgado de Tabas, nos arredores de Teerã, o que causou zombarias do mundo todo. Estava em andamento a campanha para a eleição presidencial, marcada para novembro de 1980. O fracasso na operação militar de resgate acabou determinando a vitória do adversário de Carter, o republicano Ronald Reagan.

Os estudantes islâmicos somente libertaram seus reféns no dia da posse do novo presidente norte-americano, em 20 de janeiro de 1981. Desde 1979, os dois países não mantêm relações diplomáticas. Os EUA incluíram o Irã na relação dos Estados que adotam a prática do terrorismo como estratégia política. Na primeira Guerra do Golfo, os norte-americanos armaram o Iraque, que por pouco não consegue fabricar sua bomba atômica, com a conivência (involuntária nesse caso) de Washington.

Mais tarde, tiveram que enfrentar Saddam Hussein, que lutou contra os norte-americanos com muitas armas que estes próprios lhe forneceram. Por baixo do pano, no entanto, contrariando determinações do Congresso dos EUA, o presidente Ronald Reagan também vendeu armamentos aos iranianos e utilizou o dinheiro arrecadado para financiar os guerrilheiros da Nicarágua, que lutavam contra os sandinistas no poder. O caso ficou conhecido mundialmente como "escândalo Irã-contras".

Em 1988, os dois países envolveram-se em uma série de incidentes armados no Golfo Pérsico, que culminaram com a derrubada, por parte da Marinha norte-americana, de um avião de passageiros iraniano, com 270 pessoas a bordo. O governo dos EUA argumentou que se tratou de um "engano", mas recebeu unânime condenação internacional.

A distensão entre os dois países começou, de fato, em 1989, com a morte, em 3 de junho, do aiatolá Khomeini. O Irã foi incluído na lista dos Estados terroristas por supostamente apoiar, com homens e armas, o grupo xiita libanês Hezbollah (Partido de Deus), que seqüestrou vários cidadãos norte-americanos, durante na guerra civil no Líbano. Na quarta-feira passada, em um depoimento na Casa Branca, o presidente Bill Clinton admitiu que pretende restabelecer em breve relações diplomáticas "amistosas e estáveis" com o Irã.

(Artigo publicado no Correio Popular em 20 de junho de 1998).

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