Momento de distensão
Pedro J. Bondaczuk
As
relações entre os Estados Unidos e o Irã entraram, desde a eleição, no ano
passado, do moderado Mohammed Khatami para a presidência iraniana, em seu
momento mais favorável desde 1979. Naquele ano, o aiatolá Ruhollah Khomeini
retornou do exílio na França, expulsou o xá Mohammed Rheza Pahlevi do poder e
implantou uma República Islâmica no país, para substituir a monarquia deposta.
O
monarca fugitivo, que estava com câncer avançado, foi acolhido primeiramente no
Egito. No entanto, em maio de 1979, os Estados Unidos acolheram-no, em um
hospital de Nova York, para tratamento médico. Tal fato causou profunda
irritação nos xiitas iranianos. Em 4 de novembro de 1979, em represália a esse
gesto humanitário, um grupo de estudantes islâmicos ocupou a embaixada
norte-americana em Teerã, fazendo mais de 70 reféns. Aos poucos, os cativos
foram sendo libertados, até que restassem 53, que ficaram retidos durante 444
dias.
O
presidente dos EUA da época, Jimmy Carter, planejou uma operação militar de
resgate. Foi um fiasco. Aviões e helicópteros norte-americanos não conseguiram
decolar do deserto salgado de Tabas, nos arredores de Teerã, o que causou
zombarias do mundo todo. Estava em andamento a campanha para a eleição presidencial,
marcada para novembro de 1980. O fracasso na operação militar de resgate acabou
determinando a vitória do adversário de Carter, o republicano Ronald Reagan.
Os
estudantes islâmicos somente libertaram seus reféns no dia da posse do novo
presidente norte-americano, em 20 de janeiro de 1981. Desde 1979, os dois
países não mantêm relações diplomáticas. Os EUA incluíram o Irã na relação dos
Estados que adotam a prática do terrorismo como estratégia política. Na
primeira Guerra do Golfo, os norte-americanos armaram o Iraque, que por pouco
não consegue fabricar sua bomba atômica, com a conivência (involuntária nesse
caso) de Washington.
Mais
tarde, tiveram que enfrentar Saddam Hussein, que lutou contra os
norte-americanos com muitas armas que estes próprios lhe forneceram. Por baixo
do pano, no entanto, contrariando determinações do Congresso dos EUA, o
presidente Ronald Reagan também vendeu armamentos aos iranianos e utilizou o
dinheiro arrecadado para financiar os guerrilheiros da Nicarágua, que lutavam contra
os sandinistas no poder. O caso ficou conhecido mundialmente como
"escândalo Irã-contras".
Em
1988, os dois países envolveram-se em uma série de incidentes armados no Golfo
Pérsico, que culminaram com a derrubada, por parte da Marinha norte-americana,
de um avião de passageiros iraniano, com 270 pessoas a bordo. O governo dos EUA
argumentou que se tratou de um "engano", mas recebeu unânime
condenação internacional.
A
distensão entre os dois países começou, de fato, em 1989, com a morte, em 3 de
junho, do aiatolá Khomeini. O Irã foi incluído na lista dos Estados terroristas
por supostamente apoiar, com homens e armas, o grupo xiita libanês Hezbollah
(Partido de Deus), que seqüestrou vários cidadãos norte-americanos, durante na
guerra civil no Líbano. Na quarta-feira passada, em um depoimento na Casa
Branca, o presidente Bill Clinton admitiu que pretende restabelecer em breve
relações diplomáticas "amistosas e estáveis" com o Irã.
(Artigo publicado no Correio Popular em
20 de junho de 1998).
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