Vitória de Rama-VI
Pedro J. Bondaczuk
(Poema inspirado na epopéia indiana, “A Ramaiana”)
Continuação
(...) Está aqui de Rama o anel dourado
para você não vir a duvidar
de que sou seu mensageiro e enviado,
que farei tudo para a salvar.
Nós viremos logo, para livrá-la
dos seus suplícios e, quiçá, da morte,
por minha boca é seu rei que fala,
seja paciente e, sobretudo, forte”.
Hanumat tornou a atravessar,
finda a sua fundamental missão,
as águas revoltas do Índico mar,
e juntou-se a Rama e ao seu irmão.
Com quanta pressa, com que heróico ardor
O nobre Rama ordenou a partida
--- Iria defender seu grande amor,
Se necessário, com a própria vida –
Quando soube do perverso martírio
--- E da fidelidade e da firmeza
Ante o execrável, sexual delírio
De Ravana – da tão fiel princesa.
Não tardou para que um inumerável
Exército de símios comandados
Por Sugriva, rei guerreiro notável,
Só pelas ribas do mar separados
De Lanka, real cidade Rakshara,
construíssem gigantesca estacada.
Ninguém antes o mar atravessara
com uma força tão grande e adestrada.
Junto aos portões majestosos, escuros,
e aos fossos protetores da cidade
aconteceu bárbara mortandade.
Gritos de dor, uivos indescritíveis,
o pânico dominando os mais fracos,
ambos lados julgando-se imbatíveis,
chacina de monstros e de macacos.
Todavia Ravana, monstro vil,
para esgotar a última esperança
de Sita, preparou mais um ardil:
com cabeça, de muita semelhança
com Rama nas mãos, muito pressuroso
---cortada de um guerreiro e que pingava
sangue – disse que era de seu esposo,
e a semelhança a isso ensejava.
“Ninguém é mais poderoso que eu,
nem é mais forte, nem tem mais haveres,
e assim, visto que Rama já morreu,
você pode se entregar aos prazeres”.
Sita, tomada de emoção violenta,
abatida, pesarosa e descrente,
nas suas mãos a cabeça sangrenta
tomou e apertou convulsivamente,
cobrindo-a de beijos, já com saudade,
atônita e até desorientada.
Diante da monstruosa veleidade
de Ravana, exclamou, horrorizada:
“Covarde dos covardes, ó serpente,
você matou um homem nobre e forte.
À sua proposta tão repelente,
juro, prefiro mil vezes a morte!!”
Olhos vermelhos, coração pesado,
e tão intensamente comovida,
o pensamento no seu bem-amado,
Sita procurava pôr fim à vida.
Mas uma rakshasi, por piedade,
deixou de ser um momento servil,
e revelou à princesa da verdade
do de Ravana tão indigno ardil.
Mas prosseguia, sangrenta e feroz,
a dura batalha, intensa labuta
e como se ao grito de uma só voz,
Ravana e Rama vieram à luta.
Foi um embate mortal e terrível,
que pelos deuses foi testemunhado,
do qual só um seguiria invencível,
o perdedor jazeria prostrado.
Trocaram chuvas de mágicos dardos,
impetuosos e velozes, quais raios
de luz tão intensa que até aos pardos
e feios demônios causam desmaios;
raios potentes, que até pareciam
rojar do céu estrelas, sol e a lua,
e que os planetas, em chamas, ardiam,
e deixavam a terra áspera e nua.
Rama subiu no ígneo carro de Unda,
puxado por magníficos corcéis,
trazia à mão sua lança iracunda,
a justa punidora dos revéis.
Ravana, afeito a combates tão duros,
também subiu ao seu carro veloz
puxado por seis cavalos escuros,
para o confronto, mortal e feroz.
Ambos os titãs lançaram-se à luta,
com muito estrépito e grande fragor,
como dois elefantes em disputa,
ambos ébrios de cólera e de amor.
O duelo, na arena mortal e fria,
durou por dezesseis dias inteiros,
sem ser interrompido em um só dia,
e o sangue escorria dos dois guerreiros.
De repente, como que incendiada,
tal qual o fogo virgem de uma aurora,
Lanka resplandeceu, iluminada.
Parecia recatada senhora
a recordar os juvenis amores
e os eróticos sonhos de menina:
parecia estar coberta de flores
delicadas, das roseiras da China.
De norte a sul, um brado triunfal
Ecoou. E os soldados aclamaram,
com júbilo, o príncipe, que afinal
vencera. Multidões rejubilaram,
porque, com o seu dardo formidável,
que um dia, para Indra, ele forjara,
num esforço sobre-humano e notável,
Rama logrou matar o rei rakshara.
As tropas do demônio, com terror,
debandaram, fugiram pra cidade
e as forças de Sugriva, com furor,
não tiveram a menor piedade.
(...)
Continua
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1 comment:
Uma grandiosa epopeia. Sem querer fazer redundância, já que, epopeia, por si mesma, encerra em si grandes feitos, sobre assuntos de heroismos. Excelente !
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