Pedro J. Bondaczuk
O organismo humano, esta máquina que maravilha e espanta quem a estuda em detalhes, e entende o funcionamento e a função de cada órgão, cada sistema, cada uma de suas múltiplas peças – nenhuma inútil ou supérflua – é, no entanto, mais frágil e sujeito a problemas e deficiências do que possa parecer ao leigo ou do que seria desejável. Esse mau funcionamento pode ser súbito ou até congênito, agudo ou crônico, letal ou de possível convivência por muitos e muitos anos. Refiro-me às doenças, que são muitas e que têm múltiplas causas, boa parte das quais evitáveis ou passivas de prevenção.
Certo está o povo quando diz que prevenir é melhor do que remediar. E como é! Há pessoas que adoecem em decorrência de maus hábitos alimentares, do sedentarismo, de vícios como o tabagismo, o alcoolismo e o consumo de drogas etc.etc.etc. Esses excessos e imprudências debilitam de tal sorte o organismo, favorecendo a ação de vírus e bactérias que, dependendo do grau de debilidade do sistema natural de defesa, podem levar a pessoa à morte ou deixar-lhe graves seqüelas.
Durante muito e muito tempo, “todas” as moléstias, sem exceção, não importando o que as deflagrasse, eram atribuídas a sortilégios maléficos, à magia ou, na maioria dos casos, a “castigos” divinos por “pecados” cometidos ou por quem era acometido por elas ou por algum ancestral, geralmente pai, ou mãe ou avós. Em vez do doente ser tratado por um médico – e houve tempos, historicamente nem tão remotos, em que estes sequer existiam – o eram por “feiticeiros”, por “xamãs” ou coisa que o valha, que se diziam mancomunados com os deuses e, portanto, capazes de anular os “feitiços”.
Claro que não eram. Por isso, a maioria imensa dos enfermos morria. E a cura dos que tinham um sistema de defesa do organismo capaz de combater com eficiência os agentes patogênicos invasores era atribuída a esses “pajés”, em última análise charlatães, aos quais se atribuíam poderes que de fato não tinham. Destaque-se que, até a segunda metade do século XIX, a existência de micróbios era desconhecida. Cientistas sérios, de grande reputação, acreditavam, ainda, em “geração espontânea”, ou seja, na possibilidade da vida surgir do nada, de trapos velhos, por exemplo, ou de alimentos em decomposição. Coube a Louis Pasteur desfazer essa idéia que hoje soa ridícula e absurda, mas que até tão recentemente era considerada o suprassumo da verdade.
Ainda hoje, com todos os avanços da ciência no campo da microbiologia, os vírus, por exemplo, são pouco conhecidos. Os biologistas sequer descobriram, ainda, sua verdadeira natureza. São seres vivos? Tratam-se, somente, de substâncias químicas, de conformação peculiar e não bem conhecida, como muitos defendem? São mistos de ambas? Tudo isso, ainda, é imenso ponto de interrogação. Hipóteses há muitas, todas, no entanto, carentes de comprovação.
A origem dos vírus é, igualmente, objeto de controvérsias e de debates entre os pesquisadores. Há os que afirmam que se trata de vida extraterrestre, ou seja, de legítimos ETs, que teriam vindo parar na Terra em algum dos milhares de meteoritos que caem frequentemente no Planeta. Caso isso seja correto, de onde vieram? Perguntas, perguntas e mais perguntas, sem respostas concludentes.
Poucos dos vírus existentes já foram, sequer, catalogados e devidamente classificados. A grande dificuldade de classificá-los está no fato das limitações que eles impõem à investigação científica. Só podem ser estudados em microscópios eletrônicos de imensa potência, dado seu tamanho extremamente diminuto. Muitos vírus não medem mais do que 10 milionésimos de milímetro. Como se vê, são tão pequenos, mas tão letais! Alguns são chamados de “!bacteriófagos”.A razão desse nome é o fato de eles haverem se especializado em parasitar bactérias. Vejam só! E estas já são, por si sós, diminutas, visíveis somente em potentes microscópios.
Como tamanho não é e nunca foi documento, alguns vírus são extremamente letais, como o que produz a psitacose. Há virólogos que asseguram que uma xícara deles tem potencial de eliminar a totalidade dos mais de sete bilhões de habitantes do Planeta
Desde a descoberta desses agentes de destruição e morte, os homens vêm travando intensa batalha para descobrir suas vulnerabilidades e dessa forma vencê-los. Já obtiveram uma vitória sobre eles, com a erradicação da varíola. Foi, sem dúvida, feito notável, mas muito pequeno se forem consideradas a quantidade e a variedade desse mortal inimigo da nossa espécie.
Alguns biólogos moleculares acreditam que um dia, não somente conseguirão descobrir formas de imunizar as pessoas contra os ataques desses invisíveis, mas letais invasores, como até de transformá-los, de modificar sua natureza e de colocá-los a serviço da medicina. Não é, contudo, a crença (sequer a esperança) da maioria dos pesquisadores. A maior parte deles entende que esse agente patogênico deve ser combatido sem tréguas e eliminado de vez, já que, além do próprio homem, é o único organismo que representa séria e iminente ameaça à sobrevivência humana.
O novelista espanhol, Fernando Sanchez Dragó, em entrevista que concedeu ao jornal “El País”, em 1993 (talvez por não ter formação científica) foi mais enfático quanto aos perigos representados por esses agentes patogênicos: “Estamos ante uma crise ecológica irreversível e digo com conhecimento de causa, que estamos invadidos de vírus por todas as partes e isso vai provocar uma convulsão terrível, vai provocar mortes em cadeia. Daqui aos próximos 15 anos vão morrer sete décimas partes da humanidade e isso vai nos obrigar a voltar às origens, em certo sentido à idade das cavernas...”
Como se vê, porém, suas sombrias previsões não se concretizaram. Não, pelo menos, nos quinze anos que previu. Mas nada indica que esteja errado e que tal catástrofe não vá ocorrer. Está, sem dúvida, no terreno das possibilidades, posto que não das certezas. Todavia, há um vírus tão letal ou mais do que os causadores da Aids, hepatite, sarampo, febre amarela ou ebola, entre tantos. É o do preconceito, que tantos males já causou ao longo da história, e sobre o qual me proponho a refletir oportunamente. Mas... essa já é uma outra história, que fica para outra vez.
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