Monday, June 04, 2012

Paradigmas da maldade


Pedro J. Bondaczuk

Os campos de concentração nazistas são paradigmas da maldade, por mostrarem até que ponto pode chegar a violência humana, ditada pelo ódio, pela cobiça, pela ânsia de poder pelo poder e, notadamente, pelo preconceito. Não critico os jovens de hoje que acham que há exageros nos relatos sobre o que se passou nesses centros de detenção, tamanhas e tantas foram as atrocidades lá cometidas.

Chega, de fato, a ser inacreditável para qualquer pessoa racional que seres humanos, ditos normais, instruídos, educados e supostamente com formação religiosa e senso moral, hajam praticado os atos terríveis que de fato praticaram. Infelizmente, asseguro aos incrédulos jovens que, se há exageros nos relatos dos crimes perpetrados nesses locais sinistros, é para menos, muito menos. Ou seja, quem os relata omite um sem número de barbaridades, muitíssimo piores do que as relatadas, enojados e torturados pela simples lembrança desses horrendos episódios.

São tantas e tamanhas, que os historiadores não têm disposição e estômago para detalhá-las todas ou sua maioria que seja. Relatam apenas o essencial tanto para poupar os leitores de informações tão terríveis, quanto para esquecer um assunto tão absurdo e surreal (caso isso seja possível). Não serei eu, óbvio, que farei tais relatos, com as minúcias e o rigor que minha profissão de jornalista ou minha condição de escritor exigem e impõem. Jamais conseguiria. Temas como estes, que não podem ser esquecidos (e só por isso escrevo a respeito), para que jamais venham a se repetir, adoecem a alma e nos fazem desacreditar da racionalidade, da inteligência humana.

Em 1939, quando começou a Segunda Guerra Mundial, ou, poucas semanas antes de ocorrer a intempestiva e fulminante invasão da Polônia pelas tropas de Adolf Hitler, na madrugada de 1º para 2 de setembro daquele ano (o que determinou o início formal do conflito), havia, já, estimados 25 mil “presos políticos” em campos de concentração. Os muitos que morreram nesse período, sob o olhar complacente e omisso dos que poderiam fazer alguma coisa para evitar a evolução desse terrível desrespeito aos direitos humanos e nada fizeram, acabaram esquecidos, como se isso sequer houvesse acontecido. Raros são os historiadores que ao menos mencionam essas vítimas de antes da declaração formal de guerra.

Com o conflito em pleno andamento, esses locais de confinamento de opositores do nazismo, ou, como no caso dos judeus, de pessoas alheias à política, mas detidas em decorrência exclusiva de odioso preconceito racial, aumentaram vertiginosa e exponencialmente. Espalharam-se, sinistramente, por boa parte da Europa central, estendendo seus tentáculos para além, muito além do território alemão.

Quando a Segunda Guerra Mundial estava próxima do fim – em solo europeu terminou em maio de 1945 e no restante do mundo em 15 de agosto do mesmo ano – em 15 de janeiro de 1945, os campos de concentração nazistas já eram pelo menos vinte e nove. Isso, entre os complexos “principais”, porquanto existiam mais de mil postos externos e subcomandos com a mesma finalidade, embora locais de transição antes que os prisioneiros fossem para o confinamento definitivo.

Quarenta mil oficiais nazistas, de sua força de elite, das temidas SS, foram destacados, apenas, para a guarda e operação desses centros. Claro que essas pessoas não merecem medalhas por sua “bondade” e “altruísmo”. Pelo contrário. Cometeram toda a sorte de crimes e de horrores e a imensa maioria escapou rigorosamente impune findo o conflito. Portanto, quando afirmo que faltaram muitíssimos réus no tribunal de crimes de guerra de Nuremberg (e não somente Josep Mengele e alguns de outros monstros que escaparam impunes) , não estou recorrendo a nenhuma metáfora e nem cometendo exagero algum. Isto é para lá de óbvio.

Os campos de concentração nazistas que me vêm de imediato à memória, sem precisar pensar muito, são: Terzin, Auschwitz – dividido em três complexos, Auschwitz I que servia de centro administrativo; Auschwitz II (Birkenau), campo de extermínio em que morreram cerca de 1,5 milhão de judeus e Auschwitz III (Monowitz), campo de trabalho escravo para a empresa IG Farben –, Belzec, Gliwce, Majdanek, Sobibor, Bergen-Belsen, Izbica, Gross Rose, Treblinka, Flossenburg, Lodz, Dachau, Babi Yar, Buchenwald, Stutthof, Rosenburg, Piaski, Ravensbruck, Rassiku, Mauthausen, Dora, Neungamme, Chelmno, Sachsenhausen, Nonowice, Riga, Trostinic e Jadwiga.

Para que se tenha uma idéia da letalidade desses campos de concentração, basta o seguinte raciocínio: a Segunda Guerra Mundial foi responsável por cerca de 50 milhões de mortes, considerando-se os soldados mortos em combates, os civis que morreram em bombardeios de cidades (inclusive os de Hiroshima e Nagasaki, exterminados por bombas atômicas), os que perderam a vida em epidemias, por fome etc.etc. Todavia, 20% de todas essas vítimas, ou seja, 10 milhões de seres humanos, foram trucidados nesses centros de extermínio, de forma covarde e vil, sem que tivessem a mais remotíssima chance de defesa. Só de judeus, foram em torno de seis milhões os eliminados.

Os nomes dos 29 campos de concentração mais conhecidos, que outrora lembravam pequenas e aprazíveis cidades e aldeias do centro da Europa, hoje (e, creio, enquanto houver ser humano na Terra) soam e sempre soarão sinistros e apavorantes pelo que “testemunharam”. Transformaram-se em símbolos terríveis, em paradigmas da insânia e da maldade humana. Que jamais tamanha loucura se aposse, em tempo algum e por qualquer motivo, de algum outro povo...

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