Pedro J. Bondaczuk
O presidente francês, François Mitterrand, e o gabinete do primeiro-ministro socialista, Michel Rocard, estão assumindo uma missão considerada “impossível” em todos os meios diplomáticos e militares: acabar com a guerra civil, de 14 anos, no Líbano.
Todavia, a França não vem se limitando a meras declarações de seus dirigentes sobre a iniqüidade desse conflito fratricida e nem fazendo ameaças inócuas, de boicote econômico a um país esfacelado, diante da impossibilidade das várias facções que o compõem voltarem a se entender.
Está agindo em sentido prático, e em dois campos diversos. Um deles é o terreno humanitário, e nesse sentido, o governo francês enviou para o Oriente Médio o navio-hospital “Rance”, cuja missão foi mal compreendida pelos muçulmanos libaneses, apesar de vários membros dessa comunidade terem se beneficiado dela. Mas a ação que a médio prazo pode ser mais eficaz, se desenvolve no plano diplomático.
Há alguns dias, o presidente François Mitterrand vem realizando uma verdadeira maratona de telefonemas internacionais, mantendo contato com os maiores líderes mundiais, pedindo a eles que tomem alguma providência face essa carnificina, que já está na hora de acabar.
Ele já falou sobre o assunto com seu colega norte-americano, George Bush (que estranhamente se mantém em silêncio a respeito), com a primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, com o secretário-geral da ONU, Javier Perez de Cuellar e com outras personalidades.
Na semana passada, ao comentarmos a guerra civil libanesa, cometemos uma injustiça com a França, ao afirmarmos que nenhum país vem fazendo nada para que o conflito termine. Os franceses vêm agindo (e não é de agora), mesmo seus cidadãos sendo seqüestrados no Líbano e tendo, a exemplo dos norte-americanos, vítimas a lamentar de um ataque suicida xiita a um de seus quartéis, em 1983.
O que ocorreu é que, não se sabe por qual razão, o conflito libanês, de repente, sumiu dos noticiários, como se tivesse amainado ou mesmo terminado, o que, em absoluto, não aconteceu, como o leitor pode constatar agora. Com a falta de notícias de luta, também não se falou mais nada do empenho que vinha sendo feito para que ele cessasse.
É preciso que o exemplo de Mitterrand seja imitado por outros governantes. Afinal, se foi possível pôr um fim na guerra entre o Irã e o Iraque, por que razão o mesmo não poderia acontecer em relação ao Líbano? É preciso trabalhar, se empenhar, procurar isso!
Temos que nos importar com o destino alheio! O educador norte-americano, William James, disse, certa feita: “Assim como nos tornamos bêbados pelos copos esparsos que bebemos, também nos tornamos santos, autoridades e peritos por tantos ou quantos atos isolados e horas de trabalho”. Trabalhemos, pois, ativamente pela paz no Líbano.
(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 20 de abril de 1989).
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