Saturday, June 16, 2012

Ainda a vida invisível

Pedro J. Bondaczuk

Acautelamo-nos (isso quando o fazemos) contra toda a sorte de riscos visíveis e evitáveis, que ameaçam a nossa saúde, nossa integridade física e até nossa vida. Todavia, o perigo maior, provavelmente, vem do que não se pode enxergar, pelo menos a olho nu. A imensa maioria das doenças, muitas das quais ainda incuráveis, provém de agentes patogênicos que não podemos ver, a não ser mediante poderosos instrumentos óticos, como microscópios eletrônicos, que aumentam o que quisermos enxergar em dois milhões e meio ou mais de vezes.

É incrível, notadamente para o leigo, como seres vivos tão diminutos, como são vírus e bactérias, podem causar tantos estragos, muitos irreversíveis e fatais, em nosso organismo. E causam, de fato, a despeito dos avanços das pesquisas biológicas, notadamente nos campos da virologia e da bacteriologia e da farmacologia, da indústria farmacêutica que cria um profuso e variado arsenal de fármacos destinado a combater essa vida invisível, com potencial de destruir a nossa, visibilíssima.

Tratei, em texto anterior, dos vírus, posto que com a superficialidade natural de um leigo na matéria. Abordei sua forma de ação ao invadirem nosso organismo e se apropriarem de nossas células para o seu processo de reprodução. Se não trouxe nenhuma novidade ao leitor, ao que conhece a fundo o assunto, pelo menos forneci um “gancho” aos meros curiosos, como eu, para que façam suas próprias pesquisas a aprendam mais (e melhor) sobre o assunto. Trata-se de um campo vastíssimo e que considero dos mais fascinantes. Ademais, é bom conhecer um pouco de tudo, mesmo que de forma apenas superficial. Afinal, como diz o povão (frase que até se transformou em surrado clichê): “o saber não ocupa lugar”. Não ocupa mesmo.

Quanto aos vírus, a ciência já conhece, hoje, cerca de 500 tipos diferentes deles. Desconfio, todavia, que se trate de cifra pequena, quem sabe irrisória, em relação aos que desconfio que existam. Volta e meia, pesquisadores descobrem novos tipos e, sempre que podem, elaboram antídotos contra eles, para evitar que comprometam nossa saúde e destruam nossas vidas. Apenas a gripe comum dispõe de dezenas de vírus diferentes, que ademais são mutantes e se transformam de uma estação a outra. Daí a dificuldade para a produção de uma vacina que nos imunize contra todos eles de uma só vez e nos livre desse periódico (e, dependendo do tipo, não raro fatal) e cíclico incômodo.

Escrevi, escrevi e escrevi sobre vírus, provavelmente sem dizer nada que preste a propósito, mas apenas mencionei, e de passagem, outro agente patogênico bastante comum e igualmente perigoso à nossa saúde: as bactérias. Essas duas espécies de seres vivos invisíveis a olho nu são, não raro, confundidas pelo leigo e tratadas como sinônimas, como se fossem uma coisa só. Óbvio que não são. Há profundas diferenças, tanto em sua morfologia, quanto na forma de atuação. Enquanto os vírus, por exemplo, são sempre nocivos, algumas bactérias podem (e são) úteis ao homem e há, até, as que são indispensáveis ao bom funcionamento do nosso organismo.

Você ficou admirado, caro leitor? Eu também fiquei quando soube disso. Existem alguns tipos de bactérias imprescindíveis ao aparelho digestivo, no qual intervêm diretamente, assegurando perfeita e saudável digestão do que comemos. Se é verdade que em alguns casos elas são agentes de morte, causando doenças às vezes incuráveis, sem a existência de alguns tipos delas talvez não tivéssemos sequer condições de vida. Viram como a natureza tem lá suas ironias e mistérios?

No meio ambiente, determinadas bactérias trazem inestimáveis benefícios ao homem. Por exemplo, há as que são responsáveis pela decomposição de animais e de vegetais mortos, num processo útil de natural limpeza. Há outras que atuam na formação das chamadas “rochas combustíveis”. Se não existissem, provavelmente a vida do homem moderno seria mais difícil, sem alguns dos confortos de que dispomos. Afinal, são, em grande parte, responsáveis pela existência do carvão e do petróleo, nossas fontes preferenciais de energia (posto que com o inconveniente de serem poluentes. Mas... nada é perfeito). Outra ação bacteriana importante é na fixação, no solo, de alguns gases do ar, enriquecendo-o principalmente de nitrogênio e tornando-o, dessa forma, mais fértil. Sem essa atuação, dificilmente o único ser inteligente da natureza conseguiria cultivar o alimento de que precisa para sobreviver.

A palavra “bactéria” origina-se do grego “bakteria” e significa bastão. Entretanto, a maioria delas está muito distante de ostentar essa forma, ou apenas ela. Seus formatos, com diversas variações, são, basicamente, quatro. As mais comuns são as esféricas, conhecidas como “cocos”. Estas recebem o nome de acordo como se apresentam. Se estiverem isoladas, são “micrococos”; se agrupadas de dois em dois, são chamadas de “diplococos”; se de quatro em quatro, são “tetracocos”; se em cubos (pares de seis), são “sarcinas” . se em maiores quantidades, mas em cadeias, são “estreptococos” e se em cachos, são os “estafilococos”.

Temos, ainda, bactérias cilíndricas, os “bacilos”; espiraladas, os “espirilos” e as recurvadas, os “vibriões”. Algumas são altamente perigosas para o nosso organismo. Duas delas, por exemplo, foram as causadoras da morte do presidente eleito, Tancredo Neves, em 21 de abril de 1984: a “pseudômona cepacea” e a “enterobactéria cloacae”, ambas contraídas no hospital em que o político estava internado. Eram, portanto, a essa altura, agentes infecciosos altamente resistentes aos antibióticos.

Quando as bactérias realizam invasão generalizada ao organismo humano, o processo é denominado de “bacteremia”, via de regra fatal. Foi, aliás, o que causou a morte de Tancredo Neves. De nada adiantaram as ingentes tentativas para eliminar essas colônias bacterianas do seu organismo através da filtragem total do sangue do paciente.

Outra característica destacável das bactérias refere-se à sua necessidade ou não de oxigênio para sobreviver. Existem três tipos relacionados a esse abundante e indispensável (para nós humanos) gás: as que precisam dele (aeróbias), as que não o suportam (anaeróbias) e as que se adaptam tanto à sua presença, quanto à sua ausência (anaeróbias mistas ou facultativas).

As bactérias que têm dimensões variáveis entre 1 a 6 microns (um mícron é a milésima parte de um milímetro), se reproduzem por um sistema conhecido como “cissiparidade”. Ou seja, um único exemplar, em determinado instante, se divide e constitui dois novos exemplares, idênticos ao original, que reproduzem, sucessivamente, o processo.

Como se vê, nós, escritores, que nos julgamos “imaginativos” (e de fato somos, quando comparados à maioria das pessoas), perdemos, feio, de goleada, para a natureza nesse aspecto, com suas criações insólitas, variadas e profusas (talvez infinitas), da qual somos, queiramos ou não, também produtos. Se o mundo visível é povoado de milhões e milhões de espécies, o invisível também o é, na mesma proporção ou até mesmo maior (sabe-se lá). Creio que se trate de bom tema para reflexão.

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

1 comment:

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