Acalanto da chuva
Pedro J. Bondaczuk
A chuva verte na vidraça
lágrimas que não sei verter.
Silêncio! É o tempo que passa:
o que eu não soube preencher!
Som monótono, irreal,
pinga, nota a nota, sem falha...
Profundo abismo existencial!
Mas a água canta na calha.
A melancolia é intensa,
a esperança é renovadora.
Mas esta saudade é imensa!
Mas esta angústia é opressora!
A água que rola, em resumo,
ressalta, enfatiza o cansaço,
e marca os meus passos sem rumo,
a minha canção sem compasso.
Mas a água segue a rolar
e compõe, ressoa e espalha
confusa canção de ninar,
rolando e rolando na calha.
Embala o meu corpo cansado,
(porém minha mente não cansa)
projeta outro sonho dourado,
valoriza outra lembrança.
Sou assim: inquieto, imaturo
e ácido, como azeda uva.
Estou só! Tateio no escuro...
Meu Deus, como gosto de chuva!
(Poema composto em Sumaré, em 28 de agosto de 1974).
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