Pedro J. Bondaczuk
A necessidade de ceder duas horas de seu horário normal, uma das quais considerada “nobre”, fez com que as emissoras de televisão não reformulassem as suas programações no mês de agosto, como fazem, tradicionalmente, em todos os anos. Elas, apenas, fizeram alguns ajustes naturais, transferindo alguns programas e suprimindo outros, para conciliar as coisas. Uma ou outra novidade foi lançada, mas sem grandes estardalhaços. Até porque, quem fez tais lançamentos agiu com inoportunidade e correu o risco de queimar a nova atração.
Após o dia 16 próximo, no entanto, alguns canais vão aproveitar o pique de fim de ano e promover alguns dos raros lançamentos. A Rede Globo, por exemplo, vai repetir a dose dos anos anteriores com seu “Festival Nacional”, mostrando filmes brasileiros que muita gente desejava ver e não pôde no cinema. Entre os dias 24 e 30 do corrente, o telespectador terá a oportunidade de apreciar sete produções que chegaram a ser marcantes. Duas delas, a rigor, são reprises, mostradas pela própria emissora em oportunidades anteriores: “Macunaima” e “O rei da noite”. As outras cinco são absolutas novidades, pelo menos em termos de vídeo, algumas vencedoras de festivais cinematográficos nacionais e internacionais.
Entre esses filmes estão “O homem que virou suco”, “O casamento”, “Pra frente Brasil” (vetado por muito tempo pela Censura para exibição em cinemas e que agora estará acessível pela televisão, enfocando um dos momentos deprimentes da vida nacional), “Pixote, a lei do mais fraco” e “Sargento Getúlio”. Tudo leva a crer, dessa maneira, que o “Festival Nacional” deverá repetir o sucesso dos dois anos anteriores, principalmente porque é coisa nossa, mostrando a nossa gente e os nossos costumes. É é muito bom que boas produções, enfocando o Brasil, continuem sendo mostradas, cada vez mais, na televisão.
Outro lançamento de destaque deverá ocorrer na Rede Manchete, ainda sem data definida, este na área infantil. Será o programa “A nave da fantasia”, com Simony (ex-Balão Mágico), retomando a competição com a Xuxa, só que com ambas em canais trocados. A simpática e talentosa menina vai atuar, desta feita, com sua prima Luciana, de oito anos (que a garotada conhece bem, já que apareceu muitas vezes na Globo) e com os atores Rogério Fabiano, Daniel Barcelos e Renato Pupo, todos sob a direção de Paulo Figueiredo.
Será um programa tão ao gosto das crianças, com bruxas, fantasmas, bonecos falantes e outros componentes do maravilhoso mundo da fantasia infantil. “A nave da fantasia” vai ao ar no período matinal, de segunda a sábado, das nove da manhã ao meio-dia. Com o programa a Manchete completa o ciclo dedicado à criançada, que já tem o excelente “Lupu Limpim Clapiá Topó”, com a Lucinha Lins e Cláudio Tovar.
Outros canais prometem novidades, mas todos envolvendo “enlatados”, o que dispensa menção ou comentários, já que não se estará abrindo campo der trabalho para o artista nacional. Esses seriados importados, a rigor, são todos iguais. Mudam-se os personagens, altera-se uma ou outra situação, mas na essência a mensagem que apresentam é sempre igual: violência, famílias desajustadas e a ingênua visão maniqueísta do bem sempre sobrepujando o mal, através de ações mirabolantes, cheias de um equivocado “heroísmo”.
O telespectador, portanto, terá que esperar o ano que vem, quando não teremos qualquer eleição e nem os incômodos e mal aproveitados horários de propaganda eleitoral gratuita (usados pelos políticos de maneira equivocada neste pleito) para ter grandes novidades. Até porque as férias se aproximam e as emissoras praticamente entram em recesso nesse período, exibindo, apenas, o trivial.
(Comentário publicado na coluna “Vídeo”, página 10, editoria de Variedades do Correio Popular, em 1 de novembro de 1986).
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