Pedro J. Bondaczuk
A cidade de Campinas ganha, a partir de amanhã, novo veículo para divulgar sua cultura e o elevado grau de civilização do seu povo. Trata-se da TV Princesa D’Oeste, canal 6, que além de retransmitir a programação da TV Record, terá cerca de três horas diárias para veicular os principais acontecimentos campineiros, nas áreas artística, política e esportiva. Essa nova emissora vem juntar-se à TV Campinas, fundada há cinco anos e que tantos e bons serviços já prestou à nossa comunidade.
Muitos questionam se a cidade comporta dois canais de televisão, dado o fato de não se tratar de capital. Tais considerações, todavia, só podem ser feitas pelos que desconhecem a própria metrópole em que vivem, que na atualidade é a 13ª maior do País, superando, por conseguinte, tanto em população como no fator econômico, a dez capitais estaduais.
Uma pesquisa, divulgada em 1983, por determinada entidade ligada ao ramo publicitário, situou Campinas como o sexto mercado potencial brasileiro, destacando que muita empresa tem deixado de ganhar dinheiro aqui por não acreditar na nossa capacidade e não explorar devidamente esta praça. Financeiramente, portanto, a criação desse novo veículo de comunicação é um ato de fé em nossa força e um bom investimento comercial.
Do ponto de vista cultural, é até desnecessário ressaltar a posição da cidade, bastando, apenas, se dizer que Campinas conta com duas renomadas universidades, de cuja doutrina certamente o País vai buscar inúmeros subsídios para o processo de mudanças sociais e institucionais que será deflagrado no Brasil a partir de março, com a prometida (e hoje indispensável) “Nova República”. Diversos ministeriáveis de Tancredo Neves passaram por suas cátedras, o que por si só dá a exata medida da importância cultural da nossa comunidade universitária. Quem aqui vive, ou tem qualquer tipo de ligação com o campineiro, sabe que a lembrança desse fato não se trata de vazio ufanismo de nossa parte, mas expressão fiel de uma realidade impossível de se negar.
Quanto ao mercado de trabalho, é óbvio que a inauguração da TV Princesa vem abrir um novo e importante espaço para os nossos profissionais, que têm tradição na imprensa, não apenas em âmbito estadual, mas principalmente nacional. Campinas tem fornecido ao País, e isso já há muitos anos, excelentes jornalistas, radialistas e homens de marketing. Agora a tendência será a de aliar a qualidade, observada até aqui, à quantidade, que sem dúvida, doravante, deverá ser muito maior.
Mas o maior beneficiado com a inauguração de amanhã será o telespectador campineiro, que poderá ver, de agora em diante, em maior quantidade, a abordagem de assuntos que lhe dizem respeito mais diretamente e com os quais está bastante familiarizado. A TV Princesa, por exemplo, no início da sua geração de imagem na cidade, vai veicular programas locais de três naturezas distintas: shows (através da linha sertaneja), prestação de serviços (por meio da apresentação de um espaço voltado para a mulher) e noticioso (abrangendo noticiário geral e de esportes).
Está nos planos da nova emissora, além das entrevistas com os homens que fazem notícia em Campinas, a promoção de debates e mesas-redondas com as grandes sumidades culturais campineiras. Será uma forma da cidade se conhecer melhor e do próprio cidadão local valorizar um pouq uinho mais suas coisas e sua gente. Isso sem citar o fato de que, em havendo dois canais de TV locais, certamente deverá acontecer uma saudável competição entre ambos, fazendo com que o lucro seja geral, com a fatal depuração da qualidade dos programas.
Por uma questão de justiça, não se pode, jamais, negar o excelente serviço prestado pela TV Campinas à comunidade campineira nos seus cinco anos de existência. Louve-se, sobretudo, o arrojo e a visão empresarial de seus fundadores, que desbravaram, com um caráter de total pioneirismo, o mercado televisivo campineiro, demonstrando que ele é viável. E não apenas isso, mas que é mais racional a interiorização desse meio de comunicação, integrador de todos os brasileiros, imprescindível nos dias que correm na vida do homem moderno.
Embora com uma programação local restrita, em razão do caráter da rede que integra, o Canal 12 vem cumprindo, e por sinal muito bem, o seu papel na cidade. Vem projetando Campinas e sua gente, e principalmente os seus valores culturais, em âmbito de Brasil. Tem aberto espaço a todas as manifestações artísticas campineiras, fazendo coberturas de shows, exposições e peças teatrais, estimulando a criatividade e integrando as pessoas criadoras com o destinatário de suas obras, a população.
Estão de parabéns, portanto, os diretores da nova emissora, a TV Princesa D’Oeste, pelo arrojo desse empreendimento, fadado, fatalmente, ao sucesso. E principalmente pela larga visão comprovada, destinando, logo de início, três horas diárias para veicular o que acontece em Campinas e como pensa e o que cria o campineiro.
(Comentário publicado na coluna Vídeo, editoria de Arte e Variedades do Correio Popular, em 1 de fevereiro de 1985).
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