Pedro J. Bondaczuk
A primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, no correr dos nove anos de seus dois mandatos à frente do gabinete de seu país, mostrou que não somente é pessoa dotada de rara determinação, a ponto de ser apelidada de a “Dama de Ferro”, mas também que possui um extraordinário tirocínio político. E, além de tudo, ostenta grande senso administrativo.
Seus adversários podem contestar (como contestam) inúmeras de suas decisões. Uma delas refere-se, por exemplo, à Guerra das Malvinas, de 1982, contra a Argentina, que lhe valeu muita popularidade na Grã-Bretanha e enorme animosidade no Terceiro Mundo.
Os países subdesenvolvidos repudiam, ainda hoje, suas posições no que se refere à dívida externa das sociedades nacionais mais pobres. E, no plano interno, ela encontra muitos inimigos poderosos, principalmente dentro do movimento sindical.
Entretanto, ninguém, em sã consciência, que acompanhe a evolução diária do mundo, lhe pode negar méritos extraordinários em vários campos. Por exemplo, há dez anos, quando resolveu aceitar o desafio de assumir a chefia de um gabinete, o Reino Unido vivia uma crise imensa. E esta não se restringia, somente, à economia, embora fosse esse o aspecto que mais preocupava os súditos de Sua Majestade, a rainha Elizabeth II. Mas atingia vários compartimentos da vida nacional.
A Grã-Bretanha enfrentava uma terrível guerra de guerrilhas na rebelde província da Irlanda do Norte, com atentados sucedendo-se, dias após dias. No âmbito externo, o pis havia perdido muito do seu prestígio e estava bastante distante de ser aquele império orgulhoso, herdado da rinha Vitória, cuja vastidão era tamanha que o “Sol jamais se punha” em seus limites, com territórios e colônias espalhados por todos os continentes e recantos da Terra.
A situação econômica britânica, no entanto, era a questão maiúscula da época, tendo sido, inclusive, a responsável pela queda do gabinete anterior, do primeiro-ministro James Clagham. A crise chegou a tamanhas proporções, que o país foi forçado a recorrer ao Fundo Monetário Internacional, para poder conter um processo inflacionário que ameaçava se agigantar, registrando taxas anuais ao redor de 18%, o que, para os padrões europeus, era uma exorbitância. Agora, nesse aspecto, tudo praticamente mudou.
É verdade que o desemprego é hoje de 11% e continua batendo recordes. Graças, porém, a uma legislação social que protege os desempregados, isso não se constitui em nenhum drama. Thatcher ousou desestatizar a economia, prometendo autêntica revolução. Denominou seu projeto de “capitalismo do povo”.
É evidente que chegou a ser alvo até de ridicularizações por parte dos opositores, quando fez essa proposta. Mas com uma determinação invejável, não ligou para a impopularidade das medidas amargas que decidiu tomar. Enfrentou greves selvagens (como a dos mineiros, em 1984) que chegaram a durar até meio ano, com uma indiferença olímpica. Mesmo assim, ainda não perdeu eleição importante alguma.
Na hora da verdade, sabe como magnetizar o eleitorado e tem revertido situações adversas que à primeira vista pareciam impossíveis de reversão. Hoje, a Grã-Bretanha tem uma economia adia. O seu “povo” é acionista das principais empresas nacionais e não mais o Estado, sabidamente ineficiente e lerdo em tomar decisões que exigem jogo de cintura.
O país é, atualmente, emérito emprestador de capitais, detendo a velha solidez do passado. Suas bolsas de valores, que refletem a lucratividade das principais companhias industriais do país, vendem saúde. A libra britânica está no seu mais alto nível em 4 anos e meio e a taxa de crescimento econômico prevista para 1987, de 3%, é a mais alta entre os países da Europa Ocidental.
Por isso, a sua popularidade, que andou capengando no ano passado, retornou aos velhos patamares. E como uma hábil política que é, a Dama de Ferro decidiu que o momento mais oportuno para enfrentar uma consulta às urnas é este.
Por isto, certamente, deverá vencer e ainda por cima fazer história. Tornar-se a única líder partidária do Reino Unido, a terceira potência mundial, a ganhar três eleições consecutivas. E, pelo retrospecto, Thatcher bem que merece esse sucesso, não há como negar.
(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 12 de maio de 1987).
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