Pedro J. Bondaczuk
As vertiginosas mudanças que vêm ocorrendo no Leste europeu, prenunciando o colapso mundial do comunismo – pelo menos desse “capitalismo de Estado” praticado nos últimos 72 anos, travestido sob esta designação – estão gerando análises as mais disparatadas neste primeiro momento em que a “poeira” ainda não baixou, de duas espécies fundamentais.
De um lado estão os otimistas, que acreditam estarmos no âmago de uma revolução universal, sem armas e sem barricadas, que iria nos conduzir à construção de um mundo muito melhor do que este que aí está.
Entre tais analistas, inclui-se o papa João Paulo II, que crê que a suposta derrocada do marxismo, aliada ao desencanto provocado pelo consumismo ocidental, levarão a humanidade ao limiar de um renascimento da fé.
No outro extremo, estão os pessimistas, que não vêem, com a ausência deixada pela ideologia esquerdista após o seu fracasso, nenhuma perspectiva para os injustiçados, os despossuídos, os segregados, as multidões de miseráveis e famintos da Terra.
Estes apostavam na vitória mundial da “ditadura do proletariado”, sonhando com um igualitarismo que contraria a própria natureza. Afinal, nenhum ser humano é igual ao outro. Mas este fato não pressupõe, também, nenhum domínio de um homem sobre o outro. Nenhuma exploração.
Ser diferente não significa ser inferior. O fracasso de dois sistemas, surgidos nos últimos 200 anos, deixa, na verdade, um vazio, que deve ser preenchido com algo novo, que corrija as distorções de um e de outro, e aproveite as virtudes de ambos. Os pessimistas, porém, não crêem nessa possibilidade. E prevêem o caos.
No meio desses dois grandes grupos de analistas estão os moderados, entre os quais nos incluímos. Os que não costumam tirar os pés do chão, mas que nem por isso se entregam a um frio e omisso desencanto. Que acreditam na potencialidade humana, mas sabem que o processo renovador tem que começar com alguém e em algum lugar. Que nunca perdem a “esperança”, mas definem esse conceito de forma correta, como faz Erich Fromm, em seu livro “Ter ou Ser?”, quando diz que ela “não é nem uma espera passiva nem um forçar irreal de circunstâncias que não podem ocorrer. É como o tigre agachado que só saltará quando chegar o momento de saltar”.
O que está aí, todos concordam (embora muitos não admitam), precisa ser mudado. Mas o que construir no seu lugar? Como? Quando? Que tal a partir de agora?
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio popular, em 16 de novembro de 1989).
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