Saturday, June 09, 2012

Vitória de Rama-V

Pedro J. Bondaczuk

(Poema inspirado na epopéia indiana, “A Ramaiana”)

Continuação

(...) foram usados, mas com suavidade.

Às vezes, valiam-se de rudeza,
de covardia, de agressividade,
para assustar a cativa princesa.
Rama, ao saber que a esposa estava viva,
muniu-se de flechas e de dois arcos
com Hanumat, foi para Sugriva,
pois tinha o apoio do rei dos macacos
que prometeu o auxílio necessário
nesta empreitada, tão ousada e insana,
por ser também um grande adversário
do insidioso e pérfido Ravana.

Irados e sedentos de vingança
os irmãos apressaram-se a aceitar
essa providencial aliança.
A Hanumat coube comandar
grande grupo de reconhecimento.
Com sua veste imaculada, branca
e, sobre as asas do seu pai, o vento,
pôde adentrar, invisível, em Lanka.
Procurando Sita por toda a parte,
Hanumat, preocupado, pressuroso,
com competência, maestria e arte,
invadiu o palácio majestoso

jóia da arquitetura, um tesouro,
paredes revestidas de marfim,
com portas e janelas feitas de ouro,
com um suave aroma de jasmim.
Era um perfume doce, embriagador,
um convite aos prazeres e aos amores.
Belas alfombras, de suave cor,
múltiplos vasos. Flores, muitas flores.
Lá viu, deitadas em tapeçarias,
muitas mulheres, todas deslumbrantes,
ninfas jovens, esculturais, esguias,
sexo à mostra, em posições provocantes.

Seus trajes, de grande variedade,
as formas opulentas realçavam,
causavam desejo e lubricidade,
para a cópula animal convidavam.
Todas formavam, juntas, enlaçadas,
grinalda viva, bela, esfuziante
que, se no mês de modhara brotadas,
trepadeiras, as mais interessantes,
muito embora de verde coloridas,
com muita arte e com delicadeza,
e se com perícia fossem tecidas,
não igualariam tanta beleza.

Todavia, Sita lá não estava.
Localizou-a em meio de um bando
de Rakshasis. A princesa chorava.
pedia que a deixassem, soluçando.
Mas os monstros horrendos, deformados,
com cabeças de javali, serpentes,
faces de crocodilos esfomeados,
bocarras de tigres, de grandes dentes,
essas feras, junto à princesa exangue,
sem compostura, piedade ou dó,
esganadas, fartavam-se de sangue.
E Sita tremia, impotente e só.

As Rakshasis, infames, torturavam
a princesa, no plano emocional,
as feras, sobretudo, procuravam
abatê-la e quebrar o seu moral.
Mas Ravana avançou, subitamente,
com visíveis sinais de embriaguez,
pois queria possuir, finalmente,
a jovem Sita, bela, de alva tez.
Centenas de mulheres o seguiam,
semi-despidas ou com vestes toscas
e em suas mãos espalmadas traziam
leques coloridos e enxota-moscas.

Vendo fracassar sua arremetida,
Percebendo que o medo era vão,
Com a boca babosa e retorcida,
Ravana tentou usar sedução.
“Amo-a, mulher, que tanto me excita,
por isso, não tenha ódio de mim,
meu desejo por você clama, grita,
dá-me o seu amor, e não fique assim
perturbada, com tamanha aflição!
Seus cabelos, que você traz ligados,
Numa só trança, como agora estão,
São como as viúvas os trazem atados.

O seu medo, e essa túnica manchada,
sua falta de banho, seu jejum,
ficam-lhe muito mal, princesa amada
e não a levam a lugar nenhum.
Ofereço-lhe grinaldas de flores,
e perfumes de aloé e de sândalo,
os trajes mais belos, de muitas cores,
amores viris, porém sem escândalo.
Quero deitá-la em leitos preciosos,
ou em divãs de veludo, macios,
beber seus beijos, vinhos capitosos,
possuí-la, a ouvir os seus cicios.

Você precisa de música erótica,
de vinho, do luar e de um jardim,
porque, princesa de Videia, exótica,
eu só quero igualar você a mim”.
Às declarações acariciadoras
Sita respondeu com indignação,
e ante as atitudes ameaçadoras
de Ravana, não mostrou comoção.
Bem no fundo da alma sentia um peso.
Porém, era infrutífera a procura
do monstro, por quem sentia desprezo.
Nunca cederia à sua loucura.

E o Rakshara deixou-a, furioso,
por não poder saciar os seus vícios,
ameaçando-a, irado e rancoroso,
com os mais duros e cruéis suplícios.
Mas Hanumat, que a tudo isso ouvia,
mal se contendo, pra não reagir,
à trêmula princesa se anuncia,
pede-lhe para somente o ouvir.
“Nobre Sita, rogo, tenha coragem,
não permita que lhe fuja a razão,
porque sou portador de uma mensagem
do seu amado esposo e seu irmão.
(...)

Continua
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