Pedro J. Bondaczuk
A chamada Revolução Industrial, de meados do século XVIII, mudou por completo o perfil da civilização – que persistia, por milênios, até então – e estabeleceu os paradigmas da atual sociedade tecnológica, consumista por excelência, infelizmente perdulária e cada vez mais globalizada. Trouxe facilidades inconcebíveis para bilhões de pessoas, embora marginalizasse dois terços dos habitantes do Planeta, resultando em taxas ainda proibitivas e persistentes de pessoas vivendo abaixo da linha da miséria.
Uma das principais conseqüências dessa acelerada industrialização foi, e continua sendo cada vez mais, a irreversível urbanização mundial, concentrando a maior parte da população do Planeta em um punhado de cidades, de pequeno, médio e grande porte, estimadas em torno de vinte mil, se tanto. Houve êxodo maciço de camponeses para essas selvas de cimento e asfalto em busca de melhores condições de vida, abrindo mão de costumes e tradições, com a perda (em muitos casos irreversível), de suas raízes culturais.
A mecanização da agricultura e a aplicação de métodos cada vez mais racionais e modernos de trato do solo através da adubação, de plantio mecanizado, de combate às pragas, irrigação, colheita, armazenagem e transporte, todavia, impediram que a produção de alimentos declinasse e ameaçasse os sempre crescentes contingentes humanos com a fome. Dona Cegonha não dormiu no ponto. Hoje já somos mais de sete bilhões de bocas a alimentar. Fome, é verdade, existiu no passado e existe em escandalosas quantidades hoje, mas não em decorrência da escassez de alimentos. Ocorre por outras tantas causas, que me proponho a abordar em outra oportunidade.
O chamariz das tantas e novas indústrias fez com que cidades de porte pequeno ou médio de repente, num abrir e fechar de olhos, inchassem, multiplicassem exponencialmente o número de habitantes e se agigantassem. E as grandes “explodiram”, se tornaram surreais formigueiros humanos, a ponto de, atualmente, existirem algumas metrópoles, como a Cidade do México, Nova York, Londres, São Paulo, Tóquio, Xangai, Calcutá etc.etc.etc. com populações superiores às de muitos países, agravando seus problemas, que já antes desse “inchaço” não eram pequenos. Esse processo comprometeu, como seria de se esperar, óbvio, a qualidade de vida dos cidadãos. Nem poderia ser diferente.
Para que se tenha uma idéia da proporção desse fenômeno de urbanização mundial acelerada, que ainda está em pleno andamento, basta dizer que 75% de toda a população européia vive, hoje, em cidades, algumas muito antigas, com mais de três mil anos de idade. No Brasil, ela atinge, conforme recentes estimativas, 82% dos quase 200 milhões de habitantes do País. É muita gente para tão pouco espaço!
Já que uma “desconcentração” urbana soa como utopia (é irreal supor um êxodo maciço de pessoas de volta ao campo) e que a manutenção do atual status quo já seria grande vitória para a humanidade, ou seja, se as cidades pudessem, pelo menos, ser mantidas com suas atuais populações (cuja probabilidade, convenhamos, é quase nula) já seria um grande avanço, cresce a preocupação e aumentam as propostas tendentes a tornar a vida dos cidadãos menos problemáticas e estressantes e mais racionais e suportáveis. É verdade que, de prático, poucas iniciativas já foram postas em andamento. Por enquanto, a questão está mais (ainda) no terreno das meras elucubrações e não no das ações.
É neste contexto, porém, que, cada vez mais, ganha corpo o conceito das chamadas “cidades verdes”. Já há, aqui, ali e acolá, incipientes iniciativas nesse sentido. A necessidade, todavia, tende a acelerar esse processo. Claro, se houver a indispensável, tão falada e pouco praticada, “vontade política”. Previno os incautos e mal-informados que “cidade verde” não significa aglomeração urbana “pintada” dessa cor ou em que ela seja predominante. Não tem nada a ver uma coisa com outra.
É, na verdade, um estilo de habitar. É um respeito rigoroso ao meio ambiente, tão judiado e depredado por anos de incúria e de estupidez. É a preservação dos preciosos mananciais de água potável, cada vez mais escassos, posto que essenciais à manutenção da vida. É o estancamento da poluição do ar, que sufoca as pessoas, afeta sua saúde e deflagra o perigosíssimo e talvez irreversível processo de aquecimento global.
É mais. É a promoção do desenvolvimento econômico sustentável, com justiça social ou seja, do crescimento ordenado e planejado, sem desperdício dos tão parcos recursos não renováveis do Planeta e que muitos sequer se dão conta do quanto são escassos e próximos do esgotamento. É crescer, sim, mas de olho nas gerações futuras, proporcionando-lhes condições melhores de vida do que as atuais e não lhes legando soma crescente de problemas, tanto dos que herdamos e que não conseguimos resolver, quanto dos que criamos, a cada momento, novos e mais graves, cuja solução delegamos, por omissão, aos nossos descendentes.
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