Pedro J. Bondaczuk
A notícia publicada ontem no jornal norte-americano “Los Angeles Times”, dando conta de que o ex-presidente filipino, Ferdinand Marcos, teria oferecido devolver US$ 5 bilhões ao Tesouro do seu país, a ser confirmada (e não há porque se duvidar da sua veracidade), equivale à mais clara, cristalina e completa confissão de culpa de corrupção já feita por qualquer ditador deposto.
Fontes governamentais de Manila asseguraram que não tinham conhecimento dessa proposta. E mesmo se tivessem, dificilmente confirmariam o fato. Afinal, o que o ex-mandatário estava propondo seria, tecnicamente, um suborno, só que feito não com o seu dinheiro, mas com parte dos US$ 26 bilhões que ele tomou emprestado no mercado financeiro internacional em nome do povo filipino.
AA queda de uma ditadura é sempre para ser festejada. Mas o lado ruim desse ato é que, em geral, tiranos que barbarizaram a sua própria gente, cometeram atos de corrupção de toda a sorte, permitiram que negociatas enormes fossem feitas à sua sombra, em geral, conseguem escapar impunes. E, o que é o pior: com todos os dólares que tiraram dos mesmos cidadãos que subjugaram e trataram como objetos, para a sua ostentação de poder. Quando não daqueles que prenderam, torturaram e mataram.
Sua saída do governo, em tais circunstâncias, equivale a uma espécie de prêmio, por eles terem sido tão cruéis no trato com o seu povo. Em geral, esses verdugos refugiam-se nos mais belos e sofisticados balneários do mundo, cercados de luxo e ostentação, enquanto as finanças de seus países permanecem em petição de miséria.
Isto ocorreu, por exemplo, com Jean-Claude Duvalier, do Haiti, que está gozando as delícias da Cote D’Azur, na França, enquanto os haitianos experimentam os dissabores de uma nova ditadura, desta feita militar. Aconteceu, também, com Idi Amin Dada, de Uganda, que permanece a salvo na Arábia Saudita. Repetiu-se com tantos ditadores, que seria um exercício até enfadonho enumerar todos os casos.
Ocorre que esses tiranos, em determinado momento, começam a sentir nostalgia por aquilo que deixaram para trás. Passam a sentir falta, por exemplo, do som do seu idioma, da paisagem do seu recanto natal, dos costumes que lhes são familiares.
Alguns arriscam-se a um regresso, mesmo correndo enormes riscos, como foi o caso do ex-imperador Jean-Bedel Bokassa, da atual República Centro-Africana, ex-Império. Ele até que teve sorte e acabou tendo transformada uma sentença de morte em prisão perpétua.
Outros, fazem tentativas patéticas, como Ferdinand Marcos, para regressar. E nem sempre têm êxito. Outros, ainda, permanecem no exílio até a morte, execrados pelo povo que trataram tão mal e que prefere os ver bem longe, pelas costas. Mesmo que impunes, o que é uma enorme injustiça.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 27 de julho de 1988).
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