Pedro J. Bondaczuk
A vida, em suas múltiplas formas, me intriga e me fascina. Aliás, esse fascínio e esse espanto, óbvio, nunca foram exclusivos, ou seja, só meus. Longe disso. Milhões e milhões de pessoas, cientistas ou não, partilharam e partilham isso tempo e mundo afora, entre as quais, humildemente, me incluo. Nem poderia ser diferente num sujeito cuja principal característica é uma insaciável curiosidade, nem sempre saciada, face minhas limitações (mentais e culturais) e à infinidade de coisas que gostaria de aprender e provavelmente não consiga.
Todas as formas de vida despertam minha atenção, mas as microscópicas, as que não se vêem, ou seja, as invisíveis a olho nu, cuja existência, até meados do século XIX, era até mesmo ignorada por muitos, só intuída por alguns e enfaticamente negada por tantos, são as que me causam mais pasmo e maior fascínio. Minha visão, óbvio, não é a do cientista, ou a do médico e muito menos a do biólogo. É a do escritor, do homem de letras, treinado para vincular à realidade esse instrumento poderoso chamado imaginação.
Li diversas histórias, sumamente originais, envolvendo vírus e bactérias, nem todas (ou quase nenhuma) com o rigor científico que o assunto merece e boa parte até inverossímil. Ainda assim válidas como peças criativas, imaginosas e bem redigidas. Li, por exemplo, há uns quarenta anos um romance de ficção científica (só poderia ser) em que um cientista é reduzido, com sua respectiva nave, a dimensões microscópicas e é “injetado” na corrente sanguínea de uma pessoa, em uma viagem pelo corpo humano em sua mais rigorosa intimidade. Infelizmente, não me lembro nem do título do livro e nem do autor. Pudera! Por mais prodigiosa que seja a memória, quatro décadas são suficientes para “apagar” ou para confundir esse tipo de lembrança.
Aprendi muito, e sem maiores esforços, sobre vírus e bactérias, conceitos que, ao contrário do nome do romancista e do título do romance, jamais esqueci. Essa seletividade do cérebro é outra coisa que me fascina. Mas, comentando o livro, do qual não me lembro nem o nome e nem o autor (e creio que este seja o comentário mais insólito que já fiz), afirmo que aprendi muito sobre a natureza e a ação desse tipo de vida microscópico. Aprendi, por exemplo, que os vírus são moléculas de nucleoproteínas, que não se reproduzem e não atuam se não no interior de células vivas. Fora delas... não passam de complexos compostos químicos. Quanto mais leio a seu propósito, mais quero ler, dado seu comportamento original.
Os vírus (e aqui não afirmo nada de novo) são tão minúsculos que só podem ser vistos em microscópios que aumentem as imagens em pelo menos 2,5 milhões de vezes, como os modernos, eletrônicos, existentes nos mais aparelhados laboratórios das melhores universidades ou dos mais avançados centros de pesquisas biológicas. Seu aspecto lembra muito um desses satélites artificiais que circundam a Terra, com um núcleo redondo e conformações parecidas com antenas. Não esperem de mim observações técnicas a propósito, já que não sou biólogo, muito menos virologista, mas somente um escritor curioso (e dos mais abelhudos, admito).
Há várias teorias sobre a origem dos vírus. Não me vinculo a nenhuma, por não estar habilitado a tomar partido em questões de tamanha tecnicidade. A idéia mais aceita é que eles são uma forma de vida diferente, talvez primitivíssima, vinda, possivelmente, num meteoro ou em outro corpo celeste qualquer do espaço exterior para a Terra. De onde? Quem sabe? A rigor, nós, humanos, também somos “poeiras das estrelas”. Aliás, todo o comportamento dos vírus nos induz a esse tipo de dedução, ou seja, de que são autênticos e lídimos ETs. Até a maneira como se reproduzem é diferente e original. Sua reprodução é sempre, e exclusivamente, parasitária.
Os vírus entram, inicialmente, através da corrente sanguínea e das vias respiratórias de uma pessoa (estamos tratando, aqui, especificamente, do processo de adoecimento do ser humano), em determinadas células de sua predileção. Cada tipo escolhe uma, específica à sua natureza, que mais convenha às suas características e necessidades. Feita a invasão, depositam seu ácido nucléico, o componente primordial do seu núcleo, no interior da unidade invadida.
A partir daí, os virologistas divergem sobre a maneira pela qual o processo transcorre. Para uns, os vírus são simplesmente absorvidos pelas paredes celulares. Para outros, contudo, eles penetrariam nas membranas das células através de “locais de recepção” próprios, ocupando determinados espaços ocos em seu interior chamados de “vacuolos”. Ali, liberariam seu ácido nucléico. Quem está com a razão? Sei lá! Quem sou eu para me meter nessa pendenga científica?!!
Seja qual for o processo de invasão e ocupação das células, o fato é que, a partir daí, o processo reprodutivo é único e amplamente conhecido pelos profissionais dessa área. Nisso nenhum diverge. Aliás, é graças a esse conhecimento que elaboram as estratégias para o combate e eliminação dos vírus. A célula invadida, em vez de produzir substâncias para o próprio bem-estar e segurança, é induzida a gerar outros vírus. Ou seja, tem seu código genético subvertido, alterado, reprogramado pelos intrusos. Geram-se, assim, centenas de milhares (ou de milhões?) desses seres microscópicos, cada um dos quais sai, por sua vez, à procura de novas células para repetir o processo. As que geraram os “filhos” (ou clones?) desses invasores morrem.
É dessa maneira que se instalam algumas doenças, desde uma simples gripe até a Aids e até, provavelmente, alguns tipos de câncer (isso, por enquanto, é objeto de estudos e de muitos debates. Como discutem esses cientistas!!!). O organismo atingido, embora disponha de recursos próprios de defesa, precisa de auxílio externo, através de medicamentos específicos, para deter essa invasão no nascedouro, para que não entre num processo de falência que resulte em morte.
Mas, comentando o livro, do qual não me lembro nem o nome e nem o autor (e, reitero, creio que este seja o comentário mais insólito que já fiz), afirmo que aprendi muito, também, sobre a natureza, a morfologia e a atuação das bactérias, aprendizado este tão fascinante ou mais até do que o que se refere aos vírus. É um assunto tão interessante, mas tão interessante, que me proponho, até mesmo, a comentá-lo, com detalhes e mais vagar, em outra oportunidade.
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