Saturday, June 16, 2012

O poço dos desejos

Pedro J. Bondaczuk

Poço mágico, poço fundo, poço misterioso,
poço das ilusões e dos desejos!

Em busca da mutante felicidade,
com três moedas de dez centavos,
moedas simples, banais, de aço inox
--- não apenas uma, ou duas, mas logo três –
tentei subornar o futuro infecundo,
desmascarar a álgida, a fugidia lógica,
comprar (tão barato!) a imortalidade
no poço fundo, poço mágico dos desejos.

Quero sobreviver ao implacável tempo,
à irremediável insignificância, à efemeridade,
devassar os anos, os séculos, os milênios sem fim.


Misturar passado, presente e futuro
numa única, numa só, numa massa amorfa
e ser pedra, ser água, ser planta e ser ar,
ser camaleão místico, camaleão incansável,
transformar-me sempre e sempre...e sobreviver...

Quero ser sombra, substância, conceito,
ideais, lembranças, amores,
ser cravo, ser rosa, amor-perfeito,
ser amante e ser irmão de todas as flores.

Quero ser sombra, conceito, substância,
escultura de ébano ou de jade,
os sonhos imaturos da infância
e atos e amores da maturidade.

Quero ser substância, conceito, sombra
invisível, posto que presente,
ser arrependimento que assombra,
ser desejo urgente, intenso, ardente.

Quero, peixe mágico de horizontes
distantes, longínquos, infinitos,
banhar-me, liberto, em todas as fontes,
sobrepujar lendas, tradições e mitos.

Quero, barca mística e perene,
viajar, ufana, todos os rios,
ser a promessa séria, pensada, solene,
ser a essência de todos os desvarios.

Quero, marujo endurecido, invencível,
navegar, airoso, todos os mares,
ser crença cega, posto que incrível,
pedra fundamental de todos os altares.

Quero, mágico pastor, sublime mito,
todas emoções usufruir (ou apenas tê-las)
cavalgar no campo aberto do infinito,
pastorear mil tropilhas de estrelas.

Quero integrar-me à natureza,
não sentir rancores, iras, mágoas,
ser um filtro mágico da beleza,
ser irmão dos peixes, flores, águas.

Pois no poço mágico, poço frio, poço fundo,
simples poço dos desejos, eu sei,
tentei subornar o futuro infecundo
e três simples moedinhas atirei!

(Poema composto em Sumaré, em 2 de outubro de 1974).

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