Garimpeiro
Pedro J. Bondaczuk
Um dia, distante dia,
quando mal o sol nascia,
ardente, glorioso e rei,
no garimpo do meu sonho
eis que parti, bem risonho,
embalado de esperança,
como inocente criança,
pés descalços, peito nu,
a batear ilusões.
Incansável garimpeiro,
dia e noite, noite e dia,
como fanático crente,
chafurdando em umidade,
quase cego de ambição,
bateei o desejado tesouro.
Por entre cascalho e areia,
caprichosamente escondidas,
achei mil pepitas de ouro!
Alcancei o meu tesouro!
Guardei, com extremado zelo,
essas pedrinhas douradas,
após insanas jornadas
de exaustivo labor.
E por tão ciosamente guardá-las,
cego de medo e de ambição,
veio o tempo, deletério,
e as pepitas deteriorou:
era só ouro de tolo!
Hoje retorno, como outrora,
muito pobre, como outrora,
como outrora muito triste,
muito ousado, mas muito só,
a batear, no dia a dia,
em perdidos rios distantes,
em selvagens corredeiras,
em poluídos ribeirões,
pepitas... pepitas incógnitas,
dos versos, das jóias raras
que jamais consegui escrever.
Quiçá estes seixos pardos
que ainda restam na bateia
e que adrede vou atirando,
sejam as gangas impuras
as escórias, tão escuras,
empilhadas, no monturo,
das pepitas, que procuro:
do meu verso número UM!
(Poema composto em Campinas, em 28 de outubro de 1968).
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