Uma linguagem
universal?
Pedro
J. Bondaczuk
A Matemática seria, na
concepção dos mais renomados cientistas da atualidade, a única linguagem capaz
de ser entendida por supostos (ou eventuais?) seres extraterrestres que sejam
tão inteligentes (ou provavelmente mais) quanto o homem, caso, claro, existam.
No entendimento dessas ilustres cabeças pensantes, seria a única forma de
estabelecer contato com esses tão fantasiados “irmãos de criação” que, insisto,
ninguém sabe se existem ou não. Tanto isso é verdade que, a mais famosa
tentativa humana de contatar supostos ETs inteligentes foi feita em mensagem
toda ela codificada em “bits” do sistema binário. Ou seja, o mesmo código
utilizado em nossos computadores. Portanto, utilizando-se de linguagem
matemática.
Refiro-me à chamada
“mensagem de Arecibo”, transmitida em 16 de novembro de 1974. O sinal foi
emitido para longe, muito longe, para o agrupamento globular estelar codificado
pelos astrônomos como M-13. Esse espaço no cosmo possui cerca de 300 mil
estrelas e fica na Constelação de Hércules. Os cientistas acreditam que com
tamanha quantidade de sóis, deva haver vários com planetas habitados. E que em
muitos deles, haja vida inteligente. E que em algum (ou em alguns?) haja
civilizações avançadas, capazes de receber a mensagem, interpretá-la e enviar a
resposta. O “texto”, codificado, consistiu de 1.679 dígitos. A mensagem contém
(pois ainda viaja no espaço), identificação da Terra, sua posição no Sistema
Solar, a representação do sistema binário, o DNA humano e a identificação do
radiotelescópio emissor, entre outras informações.
Ocorre que, se tudo
isso der certo, se em alguma dessas estrelas houver planeta habitado, e com
habitantes inteligentes, e com civilizações tecnologicamente avançadas, que
recebam os sinais, os interpretem e se disponham a responder, quando a resposta
chegar à Terra, a probabilidade quase certa é que esta não exista mais. Ou,
caso ainda exista, esteja estéril, sem nenhum tipo de vida. Sabem por que?
Porque o aglomerado estelar, para onde a mensagem foi enviada, fica a 25.000
anos-luz de nós. Ou seja, as ondas de rádio, caso viajassem à velocidade da luz
(e não viajam), levariam 25 mil anos para serem recebidas por esta hipotética
civilização. E a resposta, por conseqüência, levaria o mesmo tanto para
retornar ao nosso planeta.
Abstraindo o sentido
nada prático da tentativa de contato, quero destacar a fé dos cientistas na
linguagem da Matemática. Ao contrário do que se diz, amiúde, sobre a Filosofia,
que seria “a mãe de todas as ciências”, tenho uma tese diferente a respeito. A
verdadeira matriz de todo o conhecimento humano não é ela. É a abstração das
abstrações. É o que o filósofo Roger Bacon classificou como “a chave do portão
da sabedoria e das ciências”. É a Matemática. E por que afirmo isso com tamanha
convicção? Porque está mais do que provado, com provas inclusive arqueológicas,
de que ela precedeu, e em milênios, o “nascimento” da Filosofia. Sem a
capacidade de abstração que a Matemática forçou os homens a terem, não haveria
nenhum princípio filosófico. E, sem estes, inexistiriam as ciências, todas
elas, como as conhecemos.
Não vejo, portanto,
nenhuma impropriedade ou eventual exagero em declarações como esta de Galileo
Galilei Galileu, que disse que “a Matemática é o alfabeto com que Deus escreveu
o universo”. E não foi apenas ele que disse isso. Outros tantos filósofos,
astrônomos e físicos disseram a mesma coisa, mesmo que com outras palavras.
Diferente do que afirmaram ilustres pensadores que o antecederam, Pitágoras
afirmou: “Deus não é um matemático. A Matemática é que é Deus!”. Para Platão,
conforme registrou no célebre diálogo de Timeu, “o deus criador utilizou a
Matemática para criar o Universo”. E arrematou: “Deus sempre geometriza”. Para
René Descartes, não foi o homem que inventou essa nobre “ciência dos números”. Ele
limitou-se a descobri-la. Afirmou, com todas as letras: “Os seres humanos,
claramente, apenas descobriram a Matemática”.
O “descobridor” de uma
das quatro forças da natureza conhecidas, a gravidade, Sir Isaac Newton,
pensava, grosso modo, a mesma coisa. Tanto que escreveu: “Deus criou tudo por
número, peso e medida”. Ou seja, com o recurso da Matemática. Muitos,
muitíssimos anos antes dele, Euclides, o “pai da geometria”, havia dito algo
com o mesmíssimo teor. Recorde-se que ele viveu entre os anos de 435 e 365 a.C.
Esse ilustre mestre da Grécia Antiga afirmou, literalmente: “As leis da
natureza não são nada mais que os pensamentos matemáticos de Deus”. Até o
físico teórico britânico Paul Adrien Maurice Dirac, que se não era ateu, tinha
dúvidas sobre a existência de uma divindade criadora do universo, escreveu: “Se
existe um Deus, ele é um grande matemático”.
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