A diferença da era Gorbachev
Pedro J. Bondaczuk
Os
ditadores não têm qualquer consideração pelo ser humano, enquanto indivíduo,
vendo nele somente um instrumento para incensar a sua paranóia, que costuma ser
ilimitada. Ontem, as autoridades soviéticas revelaram um dado estarrecedor
acerca de Joseph Stalin. Que ele foi o responsável direto ou indireto pela
morte de 20 milhões de compatriotas, durante os expurgos da década dos 30s,
isto não é novidade para ninguém.
Que
fez pactos indecentes, até com o "diabo", também é de conhecimento
público. Que encarcerou milhões, removeu povos inteiros de seus locais de
origem para outras partes e cometeu toda a sorte de abusos contra os cidadãos,
são fatos vindos à tona, principalmente nesta época de "glasnost", de
transparência na União Soviética, nos últimos tempos, em profusão.
Mas
essa notícia do terremoto de 1948 na Armênia, a mesma república afetada por um
devastador sismo na quarta-feira passada, confirmada ontem pela chancelaria em
Moscou, é absoluta novidade. E é aí que se diferencia, basicamente, o estadista
(no caso o atual presidente soviético Mikhail Gorbachev) do ditador. Enquanto
este interrompeu uma importante viagem diplomática, num momento de triunfo
pessoal (bastante merecido) para coordenar as tarefas de socorro aos
flagelados, aquele simplesmente impediu que o mundo tomasse ciência da morte de
100 mil criaturas humanas.
Para
ele, afinal, essa gente toda não passava de meros números estatísticos, mão de
obra barata para atingir as metas de produção de seus mirabolantes planos
qüinqüenais. Enquanto o atual líder do Cremlin aceitou de bom grado a ajuda
internacional, que veio generosa, já que cerca de 50 países participaram das
tarefas de assistência às vítimas da tragédia, o de 40 anos atrás escondeu o
desastre da opinião pública.
Certamente
tinha vergonha de mostrar seu país à comunidade mundial, já que ele não passava
de um Estado policial, dos mais terríveis que já se teve notícia na história
humana, que deixou toda uma geração profundamente aterrorizada com os métodos
brutais então praticados. Por isso, o presidente norte-americano, Ronald
Reagan; a primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher; o mandatário francês,
François Mitterrand; o chanceler alemão ocidental, Helmut Kohl e tantos outros
líderes e estadistas internacionais torcem pelo sucesso de Gorbachev.
Para
que a União Soviética jamais volte a viver outro período de terror, pior do que
aquele que sucedeu a Revolução Francesa em fins do século XVIII, e deixe de ser
uma ameaça à humanidade por causa do seu expansionismo, para se tornar uma
parceira na construção de um mundo melhor. E, convenhamos, o atual líder do
Cremlin, em apenas três anos de gestão, deu passos gigantescos nessa direção.
(Artigo
publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 13 de dezembro de
1989)
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