Fraquezas que enternecem
Pedro
J. Bondaczuk
As pessoas nos admiram
por nossas virtudes, mas apenas nos amam pelas nossas fraquezas. A afirmação
foi feita (não exatamente com essas palavras) pelo escritor William Somerset
Maugham e reflete uma grande verdade. Sequer seria preciso que o dissesse.
Basta que fiquemos atentos ao que ocorre conosco ou ao que se passa ao nosso
redor para chegarmos à constatação. No caso não se está referindo aos grandes
defeitos, àqueles de caráter, de educação, de personalidade, que transformam
alguns em párias sociais que precisam ser segregados do convívio com os
semelhantes.
Mesmo aí a máxima
funciona. Quem não ouviu falar (ou não conhece algum caso) do chamado
"amor bandido"? Vemo-lo a todo o instante e em todo o lugar. Ou seja,
a fascinação, a paixão, a autêntica obsessão que algumas mulheres têm por
pessoas que agem à margem das leis, cometendo assaltos, seqüestros,
assassinatos ou traficando drogas, entre outras coisas.
Mas referimo-nos às
pequenas fraquezas. Aos lapsos de memória, às manias inocentes que não
prejudicam ninguém, às deficiências físicas, às coisas que nos enfeiam e nos
tornam infelizes. Para os que nos cercam, mas não convivem conosco, é só nosso
visual que aparece. Quando encontramos alguém assim, fragilizado, nosso
primeiro sentimento é o de piedade (de dó, como se diz popularmente). Para o
objeto da pena, quando esta é mostrada ostensivamente, ela é ofensiva e
humilhante. O que indivíduos assim esperam é reconhecimento por suas pequenas
vitórias. Ou, na pior das hipóteses, respeito ou não-interferência.
À medida que vamos
convivendo com tais pessoas, esse sentimento inicial de piedade, instintivo,
transforma-se em ternura. Sobretudo se elas não são agressivas e aceitam a
nossa ajuda. Quando são agradáveis e de fácil trato. Quando são alegres,
amigáveis e abertas ao diálogo. Quando não têm complexos, não alimentam
amarguras e não agem com agressividade. Sentimo-nos bem quando as ajudamos. E
quando são do sexo oposto, na maioria das vezes nos apaixonamos por elas.
O mencionado Maugham
também afirmou: "A perfeição tem um grave defeito: costuma ser sem
graça". Isto, supondo que de fato exista. As limitações humanas impedem
que haja alguém perfeito. Temos, todos nós, nossas virtudes e talentos. Alguns
mais, outros menos. Mas da perfeição, ao que se saiba, ninguém jamais sequer se
aproximou. Alguns chegaram relativamente perto. Outros ficaram a anos-luz de
distância dela. Houvesse o perfeito, as outras pessoas se aproximariam desse fenômeno
apenas por interesse, quando não para eliminá-lo. A perfeição permanentemente
diante dos nossos olhos só conseguiria ressaltar nossos defeitos. Não a
toleraríamos.
Temos deficiências e
imperfeições. Aldous Huxley, no livro "Ronda Grotesca", dedica várias
páginas a analisá-las. Escreve, em determinado trecho: "Mas todo homem é
ridículo quando visto de fora, sem levar em conta o que lhe vai no espírito e
no coração. Pode-se transformar Hamlet numa farsa epigramática, com uma cena
inimitável, quando ele surpreende sua adorada mãe em adultério. Pode-se tirar o
mais gracioso conto de Maupassant da vida de Cristo, fazendo contrastar as
loucas pretensões do rabi com seu lamentável destino. É uma questão de
ponto-de-vista. Cada um de nós é uma farsa ambulante e uma tragédia ambulante
ao mesmo tempo. O homem que escorrega numa casca de banana e fratura o crânio,
descreve contra o céu, ao cair, o arabesco mais ricamente cômico".
É incompreensível haver
indivíduos, razoavelmente educados e com amplo acesso às informações, que
querem ser sempre auto-suficientes, sem que o sejam. Pessoas arrogantes,
prepotentes, "donas da verdade", que acham que o dinheiro compra
todos e tudo (inclusive amor). Algumas são criativas, nas ciências ou nas
artes, e apesar da antipatia, mesmo que secretamente, não podemos deixar de
admirar sua competência e talento. Mas amá-las?! Jamais! Sua arrogância e
prepotência agem como repelentes, como muralhas, como barreiras indevassáveis
que as afastam do convívio normal. São pessoas que, de tanto buscar ser
superiores, só conseguem fazer um papel ridículo. Infelizes é o que são.
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