Posição preocupante
Pedro J.
Bondaczuk
A declaração do ministro da Economia, Marcílio Marques
Moreira, feita no café da manhã de sexta-feira, com empresários e banqueiros,
em Brasília, de que as taxas de juros seriam reduzidas somente depois de o
caixa do Tesouro Nacional estar equilibrado, é preocupante. É um sinal de que a
recessão, que tantos males já causou, em especial no campo social, continuará
tão dura, ou mais, quebrando empresas, bloqueando investimentos e sobretudo
ceifando empregos, num País que tem absoluta necessidade de gerar pelo menos 2
milhões de novas colocações anualmente.
Tudo indica que o fundo do túnel
continua tão escuro quanto estava em setembro do ano passado, quando esta
política foi implantada. O pior de tudo é que Marcílio condicionou o equilíbrio
do caixa do Tesouro à aprovação, pelo Congresso Nacional, de um esdrúxulo
projeto de reforma fiscal, apresentado no auge de uma crise política de
conseqüências imprevisíveis.
Certamente o ajuste proposto, da
forma que está, não será aprovado neste ano para vigorar em 1993. Por
conseqüência, a se acreditar na palavra do ministro – e não há razões para se
desacreditar – as taxas de juros continuarão nos atuais patamares. Ou seja, o
figurino ortodoxo de combate à inflação será mantido, conservando um círculo
vicioso perverso, principalmente para o assalariado.
O ex-secretário de Política
Econômica da primeira fase do governo Collor, Antonio Kandir, em palestra
proferida na quinta-feira aos dirigentes da Força Sindical, no Sindicato dos
Empregados em Estabelecimentos de Saúde, em São Paulo, mostrou a principal
contradição da estratégia de Marcílio.
O “remédio”, portanto, está
errado não somente na dosagem, mas na própria escolha. “O governo insiste com
uma estrita ortodoxia utilizando as políticas fiscal e monetária para diminuir
a demanda nominal de bens”, disse Kandir, no mais clássico economês.
Ou seja, trocando em miúdos, a
equipe econômica limita o crédito e a moeda na praça para impedir que as
pessoas comprem mais e dessa forma contribuam para o aumento da inflação.
“Ocorre que a arrecadação também cai e o governo é forçado a aumentar a taxa de
juros para se financiar”, acrescentou o ex-secretário. Conseqüentemente, a
União fica mais endividada, conservando o déficit público, principal fator de
pressão sobre a inflação.
A pergunta que se faz é a mesma
do editorial do jornal “Superávit”, cujo primeiro número a Associação dos
Economistas de Campinas lança neste mês: “Não há alternativa para nossa
impotência e desilusão?”.
A resposta é dada pelo mesmo
órgão classista: “...Sim. Essa não passa primeiro pela economia, mas pela
política e pela ética”. Está em impedir o retorno da indecente premissa do “é dando que se recebe”, que o Planalto tenta
ressuscitar para evitar o impeachment provável do presidente Collor.
Está em apurar, às últimas
conseqüências, o escândalo PC Farias e dar punição exemplar aos corruptos e
corruptores. Está em resgatar a credibilidade do governo e o Estado deixar de
interferir no que Não lhe é devido, que é a tarefa de geração e distribuição de
riquezas.
(Artigo publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em 9 de
agosto de 1992).
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