Friday, November 25, 2016

Posição preocupante


Pedro J. Bondaczuk


A declaração do ministro da Economia, Marcílio Marques Moreira, feita no café da manhã de sexta-feira, com empresários e banqueiros, em Brasília, de que as taxas de juros seriam reduzidas somente depois de o caixa do Tesouro Nacional estar equilibrado, é preocupante. É um sinal de que a recessão, que tantos males já causou, em especial no campo social, continuará tão dura, ou mais, quebrando empresas, bloqueando investimentos e sobretudo ceifando empregos, num País que tem absoluta necessidade de gerar pelo menos 2 milhões de novas colocações anualmente.

Tudo indica que o fundo do túnel continua tão escuro quanto estava em setembro do ano passado, quando esta política foi implantada. O pior de tudo é que Marcílio condicionou o equilíbrio do caixa do Tesouro à aprovação, pelo Congresso Nacional, de um esdrúxulo projeto de reforma fiscal, apresentado no auge de uma crise política de conseqüências imprevisíveis.

Certamente o ajuste proposto, da forma que está, não será aprovado neste ano para vigorar em 1993. Por conseqüência, a se acreditar na palavra do ministro – e não há razões para se desacreditar – as taxas de juros continuarão nos atuais patamares. Ou seja, o figurino ortodoxo de combate à inflação será mantido, conservando um círculo vicioso perverso, principalmente para o assalariado.

O ex-secretário de Política Econômica da primeira fase do governo Collor, Antonio Kandir, em palestra proferida na quinta-feira aos dirigentes da Força Sindical, no Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Saúde, em São Paulo, mostrou a principal contradição da estratégia de Marcílio.

O “remédio”, portanto, está errado não somente na dosagem, mas na própria escolha. “O governo insiste com uma estrita ortodoxia utilizando as políticas fiscal e monetária para diminuir a demanda nominal de bens”, disse Kandir, no mais clássico economês.

Ou seja, trocando em miúdos, a equipe econômica limita o crédito e a moeda na praça para impedir que as pessoas comprem mais e dessa forma contribuam para o aumento da inflação. “Ocorre que a arrecadação também cai e o governo é forçado a aumentar a taxa de juros para se financiar”, acrescentou o ex-secretário. Conseqüentemente, a União fica mais endividada, conservando o déficit público, principal fator de pressão sobre a inflação.

A pergunta que se faz é a mesma do editorial do jornal “Superávit”, cujo primeiro número a Associação dos Economistas de Campinas lança neste mês: “Não há alternativa para nossa impotência e desilusão?”.

A resposta é dada pelo mesmo órgão classista: “...Sim. Essa não passa primeiro pela economia, mas pela política e pela ética”. Está em impedir o retorno da indecente premissa do  “é dando que se recebe”, que o Planalto tenta ressuscitar para evitar o impeachment provável do presidente Collor.

Está em apurar, às últimas conseqüências, o escândalo PC Farias e dar punição exemplar aos corruptos e corruptores. Está em resgatar a credibilidade do governo e o Estado deixar de interferir no que Não lhe é devido, que é a tarefa de geração e distribuição de riquezas.

(Artigo publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em 9 de agosto de 1992).


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