Limpeza
da mente
Pedro J. Bondaczuk
A mais fascinante
(e importante) descoberta que um homem pode fazer ao longo da sua vida não se
refere a algum princípio científico, ou processo tecnológico, ou localização de
planetas ou galáxias desconhecidos. É a da sua própria pessoa. Não nos
conhecemos, embora achemos que sim. Não sabemos qual é o nosso verdadeiro
potencial e sequer temos noção da quantidade (e qualidade) do acervo de
informações, sensações e emoções "estocado" em nosso subconsciente. A
forma de realizarmos esta aventura, essa caça ao tesouro, essa busca da pedra
filosofal da suprema sabedoria, é uma só: a meditação.A maioria das pessoas,
todavia, evita de empreender essa saudável procura, por medo do que possa
descobrir.
Meditar
era prática corriqueira dos grandes místicos, dos guias espirituais que
transformaram a humanidade e que são e sempre serão venerados por todos os
tempos pelo legado de santidade, lucidez e sabedoria que nos deixaram. Jesus
Cristo, após seu batismo no Rio Jordão, retirou-se para o deserto por quarenta
dias para esse fim. Sidarta Gauthama atingiu o estado de "Buda"
(iluminação) através desse meio. Maomé teve o encontro com o anjo Gabriel,
quando recebeu a revelação, durante um retiro espiritual.
Jiddu
Krishnamurti explica a esse respeito: "Meditar é purgar a mente de todas
acumulações, é a eliminação do poder de juntar, de identificar, de tornar-se;
desistência natural do autocrescimento, do autopreenchimento; meditar é livrar
a mente da memória e do tempo". É apenas através do caminho da meditação
que chegaremos às grandes verdades transcendentais, à unidade cósmica que é a
essência da divindade, à harmonia universal.
Escrevi
muito sobre esse lúcido pensador. Todavia, para meu leitor que não teve
oportunidade de ler nenhum texto meu (ou de qualquer outro) sobre essa
veneranda figura, esclareço que Jiddu Krishnamurti foi um filósofo, professor e
escritor indiano, considerado um dos grandes mestres do mundo, com visão,
sobretudo, holística do homem. Nasceu em Mandrapalle, na Índia, em 11 de maio
de 1895 e faleceu, há trinta anos, em Ojai, em 17 de fevereiro de 1986, meses
antes de completar 91 anos de idade. Foi educado, desde os 13 anos, pela
Sociedade Teosófica, da qual viria a divergir mais tarde, conquistando
prestígio mundial por seus estudos sobre meditação, conhecimento, liberdade,
relações humanas e a natureza da mente, entre outros temas.
Tenho
particular reverência por este mestre, que influenciou, decisivamente, o que
sou e o que penso. Publicou cerca de 50 livros, boa parte dos quais foi
traduzida para o português. Li, diria melhor, “devorei” quase metade deles. Consulto-os,
sempre que posso, para fixar conceitos complexos que ainda escapam ao meu
completo entendimento, que não são poucos, admito. Foi eclético. Escreveu sobre
praticamente tudo. Publicou, inclusive, poemas, magníficos e profundos. Mas a
obra de Krishnamurti que mais me fascina não é, propriamente, a literária. É a
que se refere especificamente à mente humana, em seus vários aspectos.
Voltando
ao tema destas reflexões, indago: como o exercício de meditação deve ser feito?
Existem técnicas, momentos e lugares adequados? Quais os requisitos exigidos?
Krishnamurti responde: "A meditação não é consciente, nem requer
determinadas posturas. Aquele que medita não tem consciência de que está
meditando. Se alguém medita deliberadamente, essa é uma outra forma de
desejo". A condição básica, portanto, para a meditação é esse expurgo da
mente. É o relaxamento, a serenidade, a respiração lenta, profunda e pausada.
Pois como destaca o guru indiano: "Quando a mente está toda vazia, em
completo silêncio, ela é capaz de renovar-se inteiramente, sem pressões
externas, alheia a circunstâncias. Então ela é clara, cristalina e há nela uma
alegria que não é mero prazer".
Nesta
época particular da História, com tantas tensões, injustiças e perigos a nos
ameaçar, são cada vez mais raros mestres lúcidos, iluminados e sábios, como
Jiddu Krishnamurti. E os poucos que ainda existem, raramente são ouvidos,
acatados e imitados. Ademais, salvo uma ou outra exceção, não conseguem espaço
nos meios de comunicação para divulgar suas idéias, tão necessárias e oportunas
e, sobretudo, indispensáveis. Encerro estas descompromissadas reflexões citando
a seguinte observação desse lúcido pensador, sábio na verdadeira acepção do
termo: “A forma mais elevada de inteligência humana é dirigir a atenção
desprovida de julgamento”. Convenhamos, este tipo de lucidez é cada vez mais
raro nestes tempos tensos e “bicudos” que vivemos. O que abunda, na imprensa,
na política, na vida e, cada vez mais nas redes sociais, é a imbecilidade
travestida de sabedoria. Infelizmente...
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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