Trapalhada
de Itamar
Pedro J. Bondaczuk
A demissão do ministro da Fazenda, Paulo Haddad,
embora tenha surpreendido o País, pela maneira que ocorreu, já era um fato para
lá de esperado. O economista mineiro suportou reprimendas públicas do
presidente Itamar Franco em, no mínimo, quatro ocasiões, sem que se mostrasse
abalado. E o motivo oficial da sua saída nem mesmo foi esse.
Ele deixou o governo em conseqüência do “loteamento”
de cargos feito no Banco Central, inclusive com a indicação do deputado Paes de
Andrade para um posto que, é evidente, ele não tem preparo técnico para
exercer. E provavelmente nem foram as nomeações que tiraram Haddad do sério.
Foi a maneira como ele ficou sabendo delas: através de terceiros.
Não poderia, portanto, haver manifestação maior do
desprezo do presidente por seu ministro do que esta. “É o estilo Itamar”,
tentam justificar os defensores do chefe de governo. Nem todos, contudo, (para
não dizer ninguém) estão dispostos a exercer uma função de tamanha relevância
como se fossem robôs. É verdade que os antecessores no Ministério da Fazenda,
pelo menos durante a gestão de Fernando Collor, dispunham dos rumos da economia
a seu bel-prazer, sem consultar quem quer que fosse. Decidiam em nome do
presidente e este, em geral, era o último a saber das decisões e muitas vezes
até por jornais e noticiários de televisão.
O “estilo Itamar”, todavia, exagera na outra ponta.
O presidente parece desconhecer o que seja delegação de tarefas. Representa,
para quem não convive no dia-a-dia de Brasília, que ele está perdido, sem um
programa que se preze, com um Congresso extremamente lerdo para aprovar medidas
urgentíssimas (que quando proteladas, perdem o impacto desejado) e sem grandes
conhecimentos da mecânica econômica. Percebe-se, pelas entrevistas que concede,
que está angustiado, vendo a inflação fugir do controle e sem saber como deter
esta perversa escalada.
As cobranças que Itamar certamente recebe, de todas
as partes, devem ser imensas. Daí o presidente querer fazer tudo sozinho, o
que, convenhamos, é uma missão literalmente “impossível”. A pergunta que fica
no ar é: como será seu relacionamento com o novo ministro, Eliseu Resende?
A escolha dividiu opiniões. De um lado, estão as
chamadas “forças conservadoras”, que se desmancham em elogios para cima do novo
comandante da economia brasileira. De outro lado, estão os sindicatos e a
chamada “esquerda”, temendo que a inflação, que ameaçou fugir do controle neste
início de 1993, descambe, de vez, e se instale no País um processo
hiperinflacionário.
O temor maior é o de o governo se deixar levar pela
tentação de recorrer novamente ao já tão desmoralizado expediente do choque
econômico, com congelamento de preços e de salários. Por quanto tempo duraria
uma medida desse tipo? Certamente, por menos de 90 dias.
Não há a mínima condição, neste instante, para
qualquer tentativa aventureira. Até quando vai durar a lua-de-mel de Itamar com
Resende? A de Gustavo Krause não chegou a “emplacar” dois meses. A de Paulo
Haddad durou pouco mais, cerca de 150 dias.
O cargo de ministro da Fazenda é tão importante, que
já foi ocupado por dois ex-presidentes da República, Rodrigues Alves e Getúlio
Vargas e, no período republicano, teve como primeiro titular ninguém menos do
que Ruy Barbosa. Seu novo ocupante conseguirá, pelo menos, esquentar o
lugar?
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 3 de março de 1993)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment