O Príncipe dos
Prosadores Brasileiros
Pedro
J. Bondaczuk
O escritor maranhense
Humberto de Campos – que no seu tempo ostentou o título de “Príncipe dos
Prosadores Brasileiros” – nascido em 25 de outubro de 1886 (que teria
completado, portanto, em 25 de outubro de 2016, 130 anos de idade caso, por
algum desses fenômenos raros e inexplicáveis, ainda estivesse vivo) é uma
dessas figuras que sempre me fascinaram. Esse fascínio veio tanto por sua forma
peculiar de escrever, quanto pelas “peripécias” que viveu ao longo de uma vida
bastante curta. Afinal, morreu, no Rio de Janeiro, em 5 de dezembro de 1934
(aos 48 anos de idade, portanto), após uma cirurgia mal-sucedida, Tomei contato
pela primeira vez com seus textos quando ainda garoto, que mal havia entrado na
adolescência, em 1958, quando tinha só quinze anos de idade. Desde então, nunca
mais deixei de lê-lo, e de escrever a seu respeito, embora nunca tenha
publicado aqui, neste espaço, nada do tanto que escrevi sobre este escritor,
que exerceu (e continua exercendo) enorme influência na minha maneira de pensar
e de escrever. Por que? Não sei explicar. Provavelmente, por mero acaso.
Dia desses, refletindo
sobre minhas preferências literárias, concluí que elas se devem em grande parte
à obra de Humberto de Campos. A grande maioria dos cerca de 40 livros que
publicou (muitos dos quais, diga-se de passagem, foram publicados postumamente)
é constituída de crônicas e de contos. Ou seja, exatamente os gêneros de que me
considero “especialista”, os da imensa maioria dos meus textos. Seria só
coincidência? Não creio. Subconscientemente, estou convicto que fui
influenciado pelo escritor maranhense. Em 1984, quando me propus a escrever um
ensaio para homenageá-lo por ocasião dos 50 anos de sua morte, que ocorreu
naquele ano, “descobri” que ele também foi poeta, Foi quando adquiri, em um
sebo, o seu livro “Poesias completas”, publicado em 1933. Bem, na arte de
Camões e de Bilac devo dizer que não fui influenciado por Humberto de Campos.
Comecei a escrever poesias (se é que os toscos “versinhos” que então perpetrei
podem ser classificados pomposamente como tal), cinco anos antes de conhecer
este que foi um dos meus “gurus” literários.
O escritor maranhense
foi, como eu, também jornalista. O jornalismo foi a grande fonte da sua
receita, a atividade com que se sustentou. Passou, como eu, algumas
dificuldades financeiras. Teve que escrever copiosamente, crônicas e mais
crônicas, contos e mais contos, para se sustentar. Como eu, a maioria dos seus
livros é composta de textos que publicou antes na imprensa, escritos,
especificamente, para jornais. Mesmo quando estava bastante doente, não parou
nunca de escrever. Não podia. Tinha que ganhar “o pão nosso de cada dia”. Não
tinha, óbvio, os recursos que temos hoje (longe disso). Não dispunha, por
exemplo, de um computador, que facilita tanto a redação e, principalmente a
revisão. Escrevia ora à mão, ora, anos mais tarde, em uma velha máquina de
escrever, que era uma raridade naquele início de século XX.
Suas pesquisas, quando
necessárias (e elas quase sempre são), tinham que ser feitas em bibliotecas
públicas. Mas, onde tempo para tal?! Humberto de Campos não tinha, como eu
tenho, um “Google” ao seu dispor. E nem uma “Wikipédia”. Tinha que arrancar
tudo na “unha”. Dependia quase sempre apenas da memória. E que memória a sua!
Mas era tão genial que, mesmo com tantos obstáculos, produziu textos
magníficos, tão preciosos e geniais que lhe valeram, inclusive, uma cadeira na
Academia Brasileira de Letras.
É, sobretudo, essa sua
“garra” (além, claro, da qualidade dos seus escritos) que me inspirou e continua
me inspirando nessa inglória trajetória pelo fascinante, mas repleto de
frustrações, mundo das letras. Mesmo tendo que escrever às pressas, para
atender a todas as encomendas de jornais e assim garantir seu sustento, sem
contar com os recursos que hoje contamos e que tanto facilitam nossa tarefa,
seus contos e suas crônicas eram tão bons, que lhe valeram, como citei no
início destes comentários, o título de “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”.
Há muito essa designação foi esquecida. E talvez a sua obra também venha a ser,
o que se constituiria em mais uma das tantas injustiças que caracterizam a
humanidade caso ocorra.
Por sugestão de amigos,
proponho-me a reproduzir, nos próximos dias, aqui neste espaço, o longo ensaio
que escrevi a propósito de Humberto de Campos e que publiquei na página 20 do
jornal “Correio Popular” de Campinas, na edição de um sábado, 14 de janeiro de
1984. Dada sua extensão, ele será reproduzido em vários dias, dada a limitação
de espaço com que contamos. Fiz algumas (poucas) alterações nesse texto, fruto
de novas descobertas que fiz desde então, com os recursos que hoje disponho. O
ensaio em questão é todo baseado em seu livro “Memórias”, o primeiro do gênero
que ele publicou (ele publicaria alguns outros na sequência, em complemento a
este). Essa obra abrange sua infância e juventude, períodos repletos de
dificuldades, que o acompanhariam ao longo de toda a sua vida. Este é um dos
textos em que mais me empenhei, escrito com paixão, porquanto me identifiquei
(e me identifico) com esse magnífico, posto que polêmico, personagem. Aguardem.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment