O terror dos estudantes
Pedro
J. Bondaczuk
A Matemática é o terror
de estudantes de vários níveis de ensino, a despeito de sua tremenda
importância e de ter sido uma das primeiras (se é que não foi a primeira)
manifestações de racionalidade do bicho homem. Claro que não são todos os que
têm dificuldades de entender (e de aprender a usar) essa importante disciplina,
a verdadeira “mãe de todas as ciências”, indispensável à nossa vida prática em
todas as instâncias. Sequer se pode garantir que seja a maioria que se dê mal
com ela, embora haja fortes evidências disso. Utilizamos a Matemática a cada
passo do nosso cotidiano, do despertar ao momento de nos recolhermos para
dormir, mesmo que não nos demos conta dessa utilização.
Claro que não se exige,
para tal, que sejamos matemáticos brilhantes, sumidades dessa disciplina,
gênios com Albert Einstein, por exemplo, que dominem, com toda a facilidade e
rigor, conceitos sofisticados de trigonometria, de logaritimos, de limites e
derivadas, equações complexíssimas de primeiro e segundo graus e vai por aí
afora. Mas se não quisermos ser logrados a todo o momento no dia a dia, devemos
conhecer, pelo menos, o elementar: as quatro operações aritméticas simples. Só
assim saberemos, no mínimo, receber o troco correto, sem erros, ao pagarmos
nossas contas e outras tantas básicas coisinhas mais. Há quem não domine nem
isso. E onde reside o problema? Na complexidade da matéria ou na maneira dela
ser ensinada?
Bem, simples,
propriamente, a Matemática não é, mas também não é nenhum bicho de sete
cabeças, desde que estudada com método, concentração e disciplina. Por se
tratar de “ciência exata”, não admite enganos. Basta você fazer uma proposição
errada, ou, numa equação, trocar o sinal de mais por menos, para obter
resultado distante mil anos-luz da correção. Afinal, um trabalho matemático
consiste na procura de padrões (e estes têm que ser rigorosamente exatos),
formular conjecturas pertinentes e, mediante deduções rigorosas a partir de
axiomas e definições, estabelecer novos resultados. Boa parte dos professores
da matéria complica na sua exposição, utilizando métodos equivocados, de pouca
ou nenhuma didática, em vez de buscar caminhos óbvios para o entendimento dos
alunos.
Por exemplo, em vez de
ensinarem seus pupilos a deduzirem as principais fórmulas, apresentam-nas já
prontas e exigem que estes as “decorem”. Na hora de aplicá-las, os atarantados
alunos, certamente, irão vacilar, por não entenderem sua origem e, por
conseqüência, sua importância. Essa é somente uma das tantas falhas cometidas
pelos mestres dessa disciplina. E elas acendem às dezenas, centenas, quiçá às
milhares. A Matemática, na verdade, pode ser o que de fato é. Ou seja, um
delicioso exercício de lógica e de racionalidade. Desde que a pessoa domine
suas regras, transforma-se em algo lúdico e agradável. O que? Você duvida! Em
caso afirmativo, ouso dizer que você aprendeu (se é que aprendeu mesmo) essa
disciplina de modo completamente errado.
Sem querer posar de
sabichão (o que não sou), a Matemática é, para mim, um dos exercícios de
concentração e de lógica mais agradáveis que conheço. Tive a sorte de, desde o
antigo primário até a faculdade, ter professores esclarecidos e competentes,
interessados, de verdade, em ensinar, e não em exibir sua erudição e nem em utilizar
a matéria como forma de exorbitar de seu poder, mediante ameaças de reprovação.
Tenho, em minha biblioteca, um bom número de livros de exercícios matemáticos,
a maioria com questões de vestibulares das mais renomadas faculdades de
engenharia do País, com os quais me “diverti”, por opção pessoal, por anos,
resolvendo esses problemas. Quando jovem, morador de uma república no distrito
de Barão Geraldo, em Campinas, foram inúmeros os domingos e feriados que
preenchi, solucionando questões matemáticas, sem ser obrigado por ninguém a
fazê-lo, simplesmente como forma de lazer, como maneira fascinante de preencher
meu tempo livre, intercalando essa atividade com palavras cruzadas e com charadas,
dois outros dos meus hobbies preferidos.
Não preciso nem dizer
que fui mal interpretado pelos colegas de moradia. Era chamado, jocosamente, de
Dr. Silvania (o cientista maluco, vilão das histórias do Capitão Marvel), de
“gênio aloprado” ou, simplesmente, de Doidão. Esses apelidos nunca me
incomodaram. Não raro, até me envaideceram, ora bolas! À exceção das quatro
operações elementares, da porcentagem, das regras de três (simples e compostas),
das proporções e razões (creio quer não esqueci nada), nunca utilizei e nem
utilizo, na prática, os princípios matemáticos que aprendi e que tanto treinei.
A profissão que exerço há décadas, o jornalismo, jamais me exigiu esse
conhecimento. Ainda assim, ao contrário do que muitos ainda dizem, os tantos
dias em que me debrucei sobre complexos problemas matemáticos não foram, em
absoluto, perda de tempo. Muito pelo contrário. Considero-os utilíssimos, por
me “treinarem” a raciocinar com método, com disciplina e com rigor.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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