Wednesday, November 30, 2016

O terror dos estudantes


Pedro J. Bondaczuk

A Matemática é o terror de estudantes de vários níveis de ensino, a despeito de sua tremenda importância e de ter sido uma das primeiras (se é que não foi a primeira) manifestações de racionalidade do bicho homem. Claro que não são todos os que têm dificuldades de entender (e de aprender a usar) essa importante disciplina, a verdadeira “mãe de todas as ciências”, indispensável à nossa vida prática em todas as instâncias. Sequer se pode garantir que seja a maioria que se dê mal com ela, embora haja fortes evidências disso. Utilizamos a Matemática a cada passo do nosso cotidiano, do despertar ao momento de nos recolhermos para dormir, mesmo que não nos demos conta dessa utilização.

Claro que não se exige, para tal, que sejamos matemáticos brilhantes, sumidades dessa disciplina, gênios com Albert Einstein, por exemplo, que dominem, com toda a facilidade e rigor, conceitos sofisticados de trigonometria, de logaritimos, de limites e derivadas, equações complexíssimas de primeiro e segundo graus e vai por aí afora. Mas se não quisermos ser logrados a todo o momento no dia a dia, devemos conhecer, pelo menos, o elementar: as quatro operações aritméticas simples. Só assim saberemos, no mínimo, receber o troco correto, sem erros, ao pagarmos nossas contas e outras tantas básicas coisinhas mais. Há quem não domine nem isso. E onde reside o problema? Na complexidade da matéria ou na maneira dela ser ensinada?

Bem, simples, propriamente, a Matemática não é, mas também não é nenhum bicho de sete cabeças, desde que estudada com método, concentração e disciplina. Por se tratar de “ciência exata”, não admite enganos. Basta você fazer uma proposição errada, ou, numa equação, trocar o sinal de mais por menos, para obter resultado distante mil anos-luz da correção. Afinal, um trabalho matemático consiste na procura de padrões (e estes têm que ser rigorosamente exatos), formular conjecturas pertinentes e, mediante deduções rigorosas a partir de axiomas e definições, estabelecer novos resultados. Boa parte dos professores da matéria complica na sua exposição, utilizando métodos equivocados, de pouca ou nenhuma didática, em vez de buscar caminhos óbvios para o entendimento dos alunos.

Por exemplo, em vez de ensinarem seus pupilos a deduzirem as principais fórmulas, apresentam-nas já prontas e exigem que estes as “decorem”. Na hora de aplicá-las, os atarantados alunos, certamente, irão vacilar, por não entenderem sua origem e, por conseqüência, sua importância. Essa é somente uma das tantas falhas cometidas pelos mestres dessa disciplina. E elas acendem às dezenas, centenas, quiçá às milhares. A Matemática, na verdade, pode ser o que de fato é. Ou seja, um delicioso exercício de lógica e de racionalidade. Desde que a pessoa domine suas regras, transforma-se em algo lúdico e agradável. O que? Você duvida! Em caso afirmativo, ouso dizer que você aprendeu (se é que aprendeu mesmo) essa disciplina de modo completamente errado.

Sem querer posar de sabichão (o que não sou), a Matemática é, para mim, um dos exercícios de concentração e de lógica mais agradáveis que conheço. Tive a sorte de, desde o antigo primário até a faculdade, ter professores esclarecidos e competentes, interessados, de verdade, em ensinar, e não em exibir sua erudição e nem em utilizar a matéria como forma de exorbitar de seu poder, mediante ameaças de reprovação. Tenho, em minha biblioteca, um bom número de livros de exercícios matemáticos, a maioria com questões de vestibulares das mais renomadas faculdades de engenharia do País, com os quais me “diverti”, por opção pessoal, por anos, resolvendo esses problemas. Quando jovem, morador de uma república no distrito de Barão Geraldo, em Campinas, foram inúmeros os domingos e feriados que preenchi, solucionando questões matemáticas, sem ser obrigado por ninguém a fazê-lo, simplesmente como forma de lazer, como maneira fascinante de preencher meu tempo livre, intercalando essa atividade com palavras cruzadas e com charadas, dois outros dos meus hobbies preferidos.

Não preciso nem dizer que fui mal interpretado pelos colegas de moradia. Era chamado, jocosamente, de Dr. Silvania (o cientista maluco, vilão das histórias do Capitão Marvel), de “gênio aloprado” ou, simplesmente, de Doidão. Esses apelidos nunca me incomodaram. Não raro, até me envaideceram, ora bolas! À exceção das quatro operações elementares, da porcentagem, das regras de três (simples e compostas), das proporções e razões (creio quer não esqueci nada), nunca utilizei e nem utilizo, na prática, os princípios matemáticos que aprendi e que tanto treinei. A profissão que exerço há décadas, o jornalismo, jamais me exigiu esse conhecimento. Ainda assim, ao contrário do que muitos ainda dizem, os tantos dias em que me debrucei sobre complexos problemas matemáticos não foram, em absoluto, perda de tempo. Muito pelo contrário. Considero-os utilíssimos, por me “treinarem” a raciocinar com método, com disciplina e com rigor.   


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