Território iraquiano é loteado
Pedro J. Bondaczuk
A guerra do Golfo Pérsico
sequer atingiu seu momento culminante, a batalha terrestre pela libertação do
Kuwait, que se prevê longa, sangrenta e desgastante, e já começou, nos
bastidores, um novo conflito entre os vários países da região: a disputa pelos
espólios do Iraque.
Os
curdos sonham com a concretização do ideal de há tantos anos, do surgimento do
Curdistão independente, na parte Norte do território iraquiano. Isto,
certamente, preocupa a Turquia, que pode, preventivamente, ocupar uma vasta
área em sua fronteira com o país de Saddam Hussein.
Para
isso, é provável que os turcos entrem na luta, quando esta estiver mais
definida do que agora e envolva menores riscos. Pretexto para isso sempre será
possível de se arranjar. A Síria também quer levar o seu, assim como o Kuwait.
O
Irã, por seu turno, sairá como o grande vencedor desta guerra, principalmente
se mantiver sua atual postura de neutralidade e não disparar um único tiro.
Ironicamente, o regime dos aiatolás, que indiretamente provocou o armamentismo
do Iraque, por parte das superpotências e das potências secundárias do Ocidente
e do Oriente, irá colher, pacificamente, os frutos que não conseguiu guerreando
durante oito anos contra os iraquianos.
Recorde-se
que os iranianos estiveram, de 1980 a 1988 – guardadas as devidas proporções –
na mesma situação que o país de Saddam Hussein se encontra agora. O mundo
virou-lhes as costas, no momento em que mais precisavam de ajuda e armou seu
adversário até os dentes. Agora, esses mesmos “xerifes justiceiros” tentam
destruir o monstro que criaram, a um custo de US$ 1 bilhão por dia.
Ao
Irã não interessam outros territórios que não sejam os delimitados pelo Rio
Shatt-Al-Arab, razão da guerra que travou no Golfo e que terminou rigorosamente
empatada. E isso ninguém duvida que irá assegurar. Com a partilha do Iraque, as
potências ocidentais voltarão a incorrer no mesmo erro de há um século, quando
montaram as autênticas “bombas de tempo” de agora, representadas pelos países
artificialmente criados então, que estão explodindo em nossos dias.
O
Ocidente está celebrando, por antecedência, uma vitória que ainda não veio e
que nem sabe se irá conseguir, indiferente às mortes causadas, à destruição
promovida e à desgraça humana semeada. Dificilmente os comandantes aliados
terão a sensibilidade e o tirocínio para se comportar como Albert Schweitzer
recomendou há muitos anos.
O
Prêmio Nobel da Paz de 1952 escreveu a esse respeito: “Na celebração de uma
vitória, o general deveria agir como se assistisse a um funeral. A matança de
seres humanos em grande número deve ser lamentada com lágrimas de compaixão.
Portanto, aquele que venceu uma batalha deve comportar-se como se estivesse
numa cerimônia fúnebre”.
Certamente,
ninguém acredita que isso possa ocorrer. Estão semeando hoje as perversas
guerras de amanhã. Basta esperar para ver a comprovação dessa atitude óbvia, e
logicamente imprudente, mas que ninguém tem coragem, ou força de vontade de
impedir.
(Artigo
publicado na página 13, “A Guerra no Golfo”, do Correio Popular, em 9 de
fevereiro de 1991).
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